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'Doação de órgãos salvou a vida do meu filho', diz mãe de adolescente diagnosticado com doença cardíaca grave no Paraná

Por Giuliano Saito


Wesllen Nunes recebeu diagnóstico após passar mal e passou por cirurgia de emergência. Cardiologista detalha os desafios do transplante infantojuvenil. Segundo a Sesa, Paraná bateu recorde na doação de órgãos em 2022. Wesllen e a mãe, Raquel Aparecida Nunes Reprodução/Arquivo pessoal O adolescente Wesllen Nunes, de 16 anos, foi diagnosticado com miocardiopatia dilatada e precisou de um transplante urgente do coração no Paraná. A mãe, Raquel Aparecida Nunes, contou ao g1 que o filho foi incluído como prioridade máxima no Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Menos de um mês depois, em novembro de 2022, ele recebeu um novo coração. O Paraná registrou recorde de 41,2 doações de órgão a cada um milhão de pessoas no passado, segundo o governo estadual. Em 2021, a taxa foi de 36 doações. Wesllen e a família são do município de Penha, em Santa Catarina, mas estavam na casa de parentes em Curitiba quando tudo aconteceu. O adolescente reclamou de palpitações para a mãe, que na hora não achou que fosse algo grave. Diante da insistência do filho, Raquel foi com ele até a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Boqueirão. Em uma avaliação inicial, os médicos suspeitaram que o quadro era grave e encaminharam o paciente ao Hospital Pequeno Príncipe, referência em transplantes em crianças e adolescentes no Paraná. "O Wesllen foi direto da consulta para a UTI, onde ficou cinco dias. Os batimentos dele chegaram a 225 por minuto. Enquanto isso, os médicos viam a possibilidade dele receber o transplante de coração. Os exames aprovaram e o órgão não demorou pra chegar, até porque ele era considerado prioridade máxima. A doação salvou a vida do meu filho", afirmou Raquel. Até que o transplante acontecesse, Raquel conta que viveu dias de desespero. "Ele (Wesllen) ficou na ECMO (máquina ligada ao corpo do paciente, possibilitando a circulação e oxigenação do sangue) por alguns dias até que os médicos confirmassem um coração compatível. Sempre soube que a situação dele era bem grave, mas não deixava aquela pontinha de fé e esperança. Quando recebemos a notícia de que o transplante seria feito, foi um alívio muito grande." A mãe afirma que o filho se recupera bem da cirurgia, e recentemente foi liberado pelos médicos para fazer caminhadas. "Aos poucos a vida vai voltando ao normal. Ele gosta muito de futebol, é fanático pelo Athletico. Mas ainda não foi liberado pra jogar bola, que é o grande sonho dele." Transplantes O Hospital Pequeno Príncipe é considerado o maior exclusivamente pediátrico do Brasil. Cerca de 60% dos atendimentos prestados pela instituição são a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2022, o hospital fez 36 transplantes de órgãos com tecidos considerados sólidos. Foram 21 de fígado, 13 de rim e três de coração. No Paraná, a instituição é a única a fazer transplantes hepáticos em crianças e adolescentes. Wesllen, de 16 anos, foi diagnosticado com doença grave no coração e recebeu o transplante em menos de um mês Reprodução/Arquivo pessoal O cardiologista pediátrico Bruno Hideo Saiki, do Hospital Pequeno Príncipe, explica que transplantes em crianças são ainda mais desafiadores do que em adultos. "Nas crianças e adolescentes, há uma relação de peso e estatura entre o doador e o receptor que dificulta a realização dos transplantes. No caso do coração, por exemplo, se tenho um paciente de 20 quilos, não posso aceitar um coração com menos de 20% do peso dele. Por causa dessas especificidades, a escassez de órgãos é grande, o que torna o tempo de espera ainda maior". O especialista também destaca problemas estruturais na rede de saúde no Brasil que dificultam os transplantes, principalmente os de coração. "Para se ter uma ideia, preciso de um eletrocardiograma para o paciente que vai doar e de um ecocardiograma para quem vai receber. Nem todos os hospitais têm esses equipamentos. Se houvesse mais estrutura, poderíamos ter transplantado duas, três vezes mais." Leia também Número de crianças à espera de um transplante de órgãos quase duplica no Paraná em 2022 Família doa órgãos de menino de 2 anos, em Londrina; coração e rins beneficiam três crianças A espera de órgão compatível Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 3.139 pessoas estão na fila por um transplante no Paraná - a maior parte à espera de um rim. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que, até setembro de 2022, 5.855 transplantes de órgãos sólidos foram feitos no Brasil. Dos doadores efetivos, 6% têm até 17 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, em todo o país 38.388 pessoas esperam por um órgão. Desse número, 2.059 são do Paraná, a maior parte homens (57%). Dados do Sistema Nacional de Transplantes revelam que no estado a maior demanda é pela doação de um rim: são 1.797 pessoas na fila. Como doar A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) disponibiliza um informativo online com as principais orientações para quem deseja se tornar um doador: Como ser doador? Avise a família, órgãos só poderão ser doados com autorização dos parentes mais próximos; Quem pode doar? Qualquer pessoa, após a confirmação da morte e mediante autorização da família; Quais órgãos podem ser doados? Coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e também tecidos, como: córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões. Um doador pode ajudar muitas pessoas; Doação por pessoa falecida: pacientes diagnosticados com morte encefálica (ME) podem ser doadores de órgãos e tecidos. Nos casos em que o falecimento decorre de parada cardiorrespiratória (PCR), podem ser doados apenas tecidos; Doador vivo: qualquer pessoa saudável pode ser doadora em vida de um dos seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo (até 4ª grau consanguíneo), porém quando a doação for para a alguém sem grau de parentesco é necessário autorização judicial; Quem recebe os órgãos: os órgãos doados são destinados a pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista única de espera. A fila é fiscalizada pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde e pelas Centrais Estaduais de Transplantes. O serviço cita a necessidade de autorização de familiares, diferencia os tipos de doadores e explica como funciona o processo de doação. Mais assistidos do g1 PR Leia mais em g1 Paraná.