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Deputados pedem que colégios do Paraná possam comprar detectores de metais; medida não é solução, avaliam especialistas

Por Giuliano Saito


Solicitação foi apresentada via requerimento à Secretaria Estadual de Educação, que não é obrigada a atender. Pasta informou que não possui estudos para a implantação de detectores. Estudantes de Colégio Estadual de Cambé, no norte do Paraná, foram atacados por ex-aluno armado em 19 de junho de2023 RPC Deputados do Paraná apresentaram um requerimento à Secretaria de Estado de Educação (Seed) solicitando que colégios estaduais tenham autonomia para comprar detectores de metais. O pedido dos parlamentares estaduais foi apresentado após de um ex-aluno do Colégio Estadual Professora Helena Kolody, de Cambé, entrar na escola e disparar contra alunos pelo menos 16 vezes. Dois estudantes, de 17 e 16 anos, morreram. O assassino foi preso e depois encontrado morto na cadeira; mais um homem foi preso suspeito de envolvimento no crime. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram A demanda foi encaminhada à pasta pela Comissão da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência (CRIA) da Assembleia Legislativa (Alep) em 20 de junho. Os parlamentares defendem que os colégios possam adquirir os equipamentos por meio de uma alteração do Programa Fundo Rotativo, instrumento financeiro voltado para a manutenção das instituições de ensino. Até junho deste ano, R$ 154.953.131,00 foram repassados para a escolas via Fundo Rotativo. Veja mais abaixo. Os deputados da comissão também pedem que a Seed forneça recursos humanos capacitados para o uso dos eventuais equipamentos comprados. “É preciso usar todos os meios possíveis para dar uma resposta efetiva a essa demanda da sociedade. No mesmo pedido, também sugerimos à Seed que, junto com os detectores, forneça recursos humanos capacitados para operar o uso dos equipamentos", explicou o deputado Evandro Araújo (PSD), presidente da comissão. O pedido foi apresentado por meio de requerimento, ou seja, a Seed não é obrigada a atender a demanda, mas deverá respondê-la aos parlamentares. Ao g1, a pasta informou que não possui nenhum estudo para a aquisição de equipamentos como estes. Leia mais abaixo. Ataque em Cambé: Polícia prende terceiro suspeito de participação em assassinato de estudantes Assassino de colégio é encontrado morto na prisão Mãe de aluna morta pede força para jovens voltarem às aulas Pai de aluno morto cobra mais segurança Detectores não resolvem problema da segurança, avalia especialista O especialista em educação Marcos Meier explicou que a segurança de colégios estaduais e de outras instituições de ensino passa, necessariamente, pela criação de programas que mudem a forma que jovens pensam e se reconhecem como cidadãos. Segundo ele, a instalação de detectores de metais, por exemplo, pode passar a sensação de mais segurança para pais e responsáveis, porém, não seria uma solução definitiva. "Vai dar mais tranquilidade, mais sensação de segurança. Mas vai resolver o problema? Não [...] Se o cara tiver realmente a intenção de entrar e matar, ele consegue. Eu só resolvo o problema fazendo com que a escola seja um ambiente de construção da paz." A pedagoga e pesquisadora Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também estuda este tema. Um levantamento feito por ela e outros pesquisadores do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública (GEDDEP) indica que somente a implementação de equipamentos, protocolos e policiamento não apresenta efeito concreto no aumento da segurança. Para ela, o questionamento governamental deve ser voltado sobre como contribuir para mudar a cultura da violência, promover desenvolvimento de valores éticos e da cidadania. O educador Marcos Maier complementa, detalhando que as emoções dos alunos devem ser trabalhadas a longo prazo. "As crianças estão ficando terríveis, estão tendo consequências emocionais, e quando quiserem se vingar, vão voltar dentro da escola [...]. O efeito prático é muito maior se você investir na formação de professores. Formar professores pra trabalhar as emoções dos alunos. Daria um efeito não só em relação aos ataques, mas em relação a alunos que saem mais maduros e seguros emocionalmente." Leia também: IRPF: 326 mil paranaenses estão no 2º lote de restituição PodParaná: de peregrino a santo popular, São João Maria fez legião de fiéis VÍDEO: Agente educacional compara aluno a macaco em colégio de Curitiba Fundo rotativo no Paraná De acordo com a Seed, o fundo rotativo permite, atualmente, a compra de materiais de consumo, como produtos de limpeza, lâmpadas e materiais de expediente. O repasse do fundo é realizado por meio de duas cotas: normal/consumo e normal/serviço. A primeira modalidade, segundo a Seed, é distribuída em 10 parcelas mensais durante o ano. A segunda cota é repassada em quatro parcelas durante o exercício vigente. Além delas, o fundo contempla o repasse de cotas extras e especiais, caso exista a necessidade de outras aquisições. Todos os 2,1 mil colégios estaduais do Paraná recebem valores do fundo, mas o montante varia de acordo com o número de matrículas e tipo da unidade escolar – se o colégio é integral, por exemplo. Confira os valores do fundo destinados nos últimos três anos: 2021: R$ 138.547.659,33 2022: R$ 183.108.312,86 2023: R$ 154.953.131,00 (até 22/06/2023) Medidas de proteção no Paraná Antes do ataque ao colégio de Cambé, o Governo do Paraná adotou, em abril deste ano, um treinamento elaborado pelo Batalhão da Patrulha Escolar e Batalhão de Operações Especiais, segundo o secretário de segurança pública Hudson Teixeira. O treinamento integra um protocolo voltado para educadores, implantado após o atentando a uma creche em Blumenau (SC), que deixou quatro crianças mortas e cinco feridas. De acordo com Hudson, o treinamento ensina a comunidade escolar como proceder na presença de “atirador ativo”, como a polícia nomeia a ocorrência. Segundo o secretário, o colégio de Cambé que passou pelo ataque agiu conforme o recente protocolo. Quando o assassino estava no colégio, a instituição acionou a Polícia Militar (PM-PR) por meio de um botão do pânico, equipamento adotado no mesmo protocolo. Após o ataque, o secretário disse que a PM iniciou o reforço de colégios estaduais com a intensificação do patrulhamento, utilizando três mil novos militares que estão concluindo o curso de formação da polícia. Em maio deste ano, o Governo do Estado disse que atua para fortalecer o sistema de proteção de crianças. Como exemplo da ação, citou a ampliação de atuação dos Conselhos Tutelares em todo o Estado. Outro exemplo dado pelo governo foi a retomada dos trabalhos, em março deste ano, da Comissão Estadual Interinstitucional de Enfrentamento às Violências, com o objetivo de garantir a proteção efetiva às crianças e adolescentes. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná o Leia mais notícias no g1 Paraná.