Debate milenar sobre a erupção do vulcão Thera é resolvido
Nova datação por radiocarbono mostra que a catástrofe que destruiu a civilização minoica ocorreu antes do reinado de Amósis I
Créditos: Getty Images
Uma nova análise de datação por radiocarbono solucionou um dos enigmas mais antigos da arqueologia: quando exatamente ocorreu a colossal erupção do vulcão Thera (atual Santorini) em relação à história faraônica do Egito. O estudo, publicado na revista PLOS ONE por uma equipe internacional de cientistas da Universidade Ben-Gurion do Negev (Israel) e da Universidade de Groningen (Países Baixos), conclui que a erupção minoica aconteceu antes do reinado do faraó Amósis I, fundador da 18ª Dinastia egípcia.
A erupção de Thera foi uma das maiores dos últimos 10 mil anos, lançando quantidades colossais de cinzas na atmosfera, destruindo a cidade de Acrotíri e provocando tsunamis que devastaram o Mar Egeu e o Mediterrâneo oriental. Desde o século 20, pesquisadores tentam sincronizar esse evento com a cronologia egípcia, acreditando que ele poderia coincidir com o início do Império Novo. Essa hipótese se baseava na “Estela da Tempestade” de Ahmose, que descreve um período de trevas e tempestades intensas — possivelmente causadas, pensava-se, por uma nuvem vulcânica.
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Controvérsias
Contudo, as novas evidências refutam essa associação. Segundo os pesquisadores Hendrik J. Bruins e Johannes van der Plicht, a erupção de Thera ocorreu antes do reinado de Ahmose, situando-se no chamado Segundo Período Intermediário — uma fase de fragmentação política que antecedeu a reunificação do Egito. Assim, a famosa “tempestade” registrada na estela não teria sido consequência da erupção.
Para chegar a essa conclusão, a equipe obteve uma rara permissão para estudar artefatos egípcios preservados no Museu Britânico e no Museu Petrie, em Londres. Entre os itens analisados estavam um tijolo de barro estampado com o nome de trono de Ahmose (Nebpehtyra), proveniente de seu templo em Abidos, uma mortalha de linho pertencente à rainha Satdjehuti e pequenas figuras funerárias (shabtis) de madeira da 17ª Dinastia.
Os cientistas extraíram amostras de palha usada na confecção dos tijolos e aplicaram técnicas de datação por radiocarbono de alta precisão. Os resultados mostraram que Ahmose reinou entre cerca de 1539 e 1514 a.C. — várias décadas mais tarde do que se pensava, quando o reinado era tradicionalmente datado por volta de 1580 a.C. Essa revisão cronológica reforça a chamada “cronologia baixa” do início do Novo Império.
Redefinição
Segundo o ‘Archaeology News’, a equipe então comparou as novas datas egípcias com medições radiocarbônicas já existentes para materiais ligados à erupção de Thera, como sementes carbonizadas encontradas em Akrotíri, uma oliveira soterrada por cinzas e ossos de animais preservados em camadas de tsunami na ilha de Creta. Todas as amostras vulcânicas apresentaram idades significativamente mais antigas, demonstrando que o desastre minoico antecedeu o governo de Ahmose.
Essa descoberta redefine não apenas a cronologia do Egito, mas também a história do Mediterrâneo oriental. Ela elimina a ligação entre Thera e a Estela da Tempestade, e sugere que o Segundo Período Intermediário — antes visto como uma fase breve — durou mais tempo do que se supunha. O resultado também está em consonância com análises genealógicas que indicam uma transição mais lenta entre o Médio e o Novo Império egípcio.
Créditos: Aventuras na História
