Arqueólogos encontram aviso de cobrança de imposto bíblico de 2,7 mil anos em Jerusalém
Pequeno fragmento de cerâmica possui inscrição que, segundo pesquisadores, aparenta se tratar de um aviso tributário endereçado ao rei de Judá
Créditos: Eliyahu Yannai/Fundação Cidade de Davi
Recentemente, uma equipe de arqueólogos encontrou um pequeno fragmento de cerâmica, medindo apenas 2,5 centímetros, durante escavações em Jerusalém, nas proximidades do Monte do Templo. O achado, anunciado pela Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) em uma publicação nas redes sociais, possui uma inscrição que parece se tratar de um aviso tributário endereçado ao rei de Judá.
Escrita em cuneiforme na língua acadiana, a mensagem é datada de aproximadamente 2.700 anos atrás e foi encontrada no Parque Arqueológico de Davidson, localizado na área do Muro das Lamentações. O artefato pode ajudar os pesquisadores a compreender melhor as interações políticas e administrativas entre o Império Assírio e o Reino de Judá, que era um estado vassalo na época.
De acordo com os pesquisadores, o texto seria um relato sobre o atraso no pagamento de tributos, mencionando especificamente o “primeiro dia do mês de Av”, uma referência ao calendário mesopotâmico que tem similaridade com o calendário hebraico contemporâneo. Além disso, o texto menciona um oficial assírio conhecido como “portador das rédeas”, que tinha um papel crucial na comunicação entre a corte imperial e os reinos subordinados.
Selo de argila
Identificado como parte de um selo de argila utilizado para autenticar documentos oficiais da corte assíria, o fragmento provavelmente é um aviso enviado pelo imperador assírio ao rei de Judá, conforme explicou Peter Zilberg, assiriólogo da Universidade Bar-Ilan. A peça data de entre o final do século 8 a.C. e meados do século 7 a.C., um período marcado por tensões resultantes da revolta do rei Ezequias contra Senaqueribe, rei da Assíria. O episódio é documentado no Segundo Livro dos Reis (18:13-14), no qual se relata a exigência de 300 talentos de prata e 30 talentos de ouro após a invasão assíria.
Segundo informações do portal Galileu, embora o fragmento não mencione diretamente o nome do rei judeu destinatário, sua datação coincide com os reinados dos monarcas Ezequias, Manassés ou Josias, todos contemporâneos à dominação assíria. Para os estudiosos, o artefato seria uma evidência material que corroboraria as narrativas bíblicas sobre a coleta de tributos.
A arqueóloga Ayala Silberstein, diretora das escavações pela IAA, destacou que o fragmento oferece uma nova perspectiva sobre as relações diplomáticas e fiscais entre Jerusalém e o império dominante da época.
Origem
Exames petrográficos e químicos realizados por Anat Cohen-Weinberger mostraram que a argila utilizada na inscrição não é originária da região; ela provém da bacia do rio Tigre, conhecida por abrigar centros administrativos assírios como Nínive e Assur. De acordo com a fonte, isso indica que a mensagem foi enviada diretamente de uma capital assíria e não criada em Jerusalém.
Cohen-Weinberger destacou: “estamos diante de um documento oficial que percorreu centenas de quilômetros, possivelmente contendo ordens fiscais diretas do palácio imperial”.
A descoberta sublinha a importância internacional e politicamente delicada que Jerusalém possuía no século 7 a.C., uma vez que abrigava altos funcionários e ministros na sua encosta oeste do Templo.
Para Zilberg, este fragmento se revela como “uma lanterna na névoa da história”, destacando-se como um momento significativo tanto para a arqueologia bíblica quanto para o estudo do antigo Oriente Próximo.
Créditos: Aventura na História
