pref santa tereza Setembro 2025

Fezes de 1.300 anos revelam doenças intestinais no México pré-histórico

Estudo de fezes antigas revelou que doenças intestinais infectaram pessoas pré-históricas na Caverna das Crianças Mortas, no México

Fezes de 1.300 anos revelam doenças intestinais no México pré-histórico Créditos: Divulgação/Johnica Winter

Recentemente, pesquisadores analisaram fezes humanas de 1.300 anos de idade, provenientes da Caverna das Crianças Mortas, localizada no México, e descobriram que infecções intestinais eram comuns entre as populações que habitavam a região há mais de um milênio.

Segundo Drew Capone, autor principal do estudo e professor assistente de saúde ambiental na Universidade de Indiana, “trabalhar com essas amostras antigas foi como abrir uma cápsula do tempo biológica, com cada uma revelando insights sobre a saúde humana e a vida diária”, afirmou em comunicado.

Capone e sua equipe utilizaram técnicas de análise molecular para investigar 10 amostras de fezes desidratadas, conhecidas como paleofeces, encontradas na caverna situada no Vale do Rio Zape, ao norte da cidade de Durango, no noroeste do México. Os resultados foram publicados na última quarta-feira, 22 de outubro, na revista PLOS One.

A caverna foi escavada por arqueólogos na década de 1950, que recuperaram não apenas paleofeces humanas e não humanas, mas também restos de plantas e ossos de animais e humanos provenientes de um grande monte de lixo. O local era utilizado por membros da antiga cultura Loma San Gabriel, conhecida por sua agricultura em pequena escala, produção de cerâmica única e a prática ocasional de sacrifícios infantis. A caverna recebeu esse nome devido aos esqueletos de crianças encontrados em seu interior.

Estudos anteriores já haviam indicado a presença de ovos de parasitas como ancilostomídeos, tricurídeos e oxiúros nas paleofeces encontradas na caverna, sugerindo que os habitantes sofriam com diversas infecções parasitárias.

No novo estudo, os cientistas aplicaram técnicas moleculares avançadas para identificar micróbios adicionais em amostras coletadas em 10 diferentes eventos de defecação. O objetivo era ampliar o entendimento sobre a carga de doenças enfrentadas pela população Loma.

Joe Brown, coautor do estudo e professor de ciências ambientais na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, destacou a importância dessas metodologias modernas para os estudos históricos: “Há muito potencial na aplicação de métodos moleculares modernos para subsidiar estudos do passado”.

Doenças do passado

A equipe extraiu o DNA das amostras e utilizou a reação em cadeia da polimerase (PCR) para amplificar o material genético dos microrganismos presentes nas fezes. Cada amostra revelou pelo menos um patógeno ou micróbio intestinal, sendo os mais comuns o parasita intestinal Blastocystis e várias cepas da bactéria E. coli, que foram identificados em 70% das amostras analisadas. Além disso, também foram encontrados oxiúros, Shigella e Giardia, organismos conhecidos por causar doenças intestinais.

A elevada quantidade de microrganismos detectados nas paleofeces “sugere que a falta de saneamento básico entre a cultura Loma San Gabriel, entre 600 e 800 d.C., resultou em exposição a resíduos fecais no ambiente”, escreveram os pesquisadores no estudo. Eles acreditam que a contaminação se dava principalmente pela ingestão de água potável, solo ou alimentos contaminados.

Os pesquisadores também observam que, apesar dos genes associados a patógenos terem permanecido detectáveis nas paleofeces por até 1.300 anos, é possível que outros patógenos tenham existido nas amostras originais, mas se degradaram ao longo do tempo e não sejam mais detectáveis atualmente.

A nova análise revelou ainda a presença de DNA de patógenos previamente desconhecidos em paleofeces antigas, incluindo Blastocystis e Shigella. Os pesquisadores enfatizam que “a aplicação desses métodos a outras amostras antigas oferece o potencial de expandir nossa compreensão de como os povos antigos viviam e dos patógenos que podem ter afetado sua saúde”.

Créditos: Aventura na História

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