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CRM vai apurar conduta de médico que colocou luva no lugar de bolsa de colostomia em paciente

Por Giuliano Saito


Conselho Regional de Medicina do Paraná disse que abriu 'procedimento de ofício', que pode resultar em processo ou Termo de Ajustamento de Conduta. Ao paciente, médico disse que ação era 'medicina de guerra'. Caso aconteceu em Curitiba. João Carlos dos Santos tem 35 anos. Caso aconteceu em Curitiba Arquivo pessoal O Conselho Regional de Medicina (CRM-PR) abriu sindicância para apurar a conduta do médico que colocou uma luva cirúrgica no lugar de uma bolsa de colostomia em um paciente de Curitiba. O procedimento tramita sob sigilo, por isso, o nome do médico não foi revelado. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram O caso foi divulgado com exclusividade pelo g1 na terça-feira (11). O paciente João Carlos dos Santos, de 35 anos, disse que inicialmente não viu problemas na situação e aceitou a colocação do item. No entanto, ao chegar em casa, afirmou que "caiu a ficha". Antes de colocar a luva, o médico alegou que o local estava sem bolsas e faria "medicina de guerra". O procedimento aconteceu no Centro Clínico Pinheirinho, que lamentou o ocorrido, disse ter acolhido o paciente e demitido o médico. Veja mais abaixo. Segundo o CRM-PR, um "procedimento de ofício" vai apurar o caso. Até a publicação da reportagem, o paciente só tinha feito reclamações sobre o ocorrido para a empresa que administra o centro clínico. A sindicância No procedimento do conselho, serão reunidas informações gerais sobre o caso, incluindo o prontuário do paciente. O médico terá direito de livre defesa e contraditório. O CRM também informou que o médico é ouvido na sindicância, e deve ser questionado, entre outras questões, se informou previamente ao paciente sobre falta da bolsa. Ele também será questionado se solicitou assinatura de termo de consentimento. Ao g1, João Carlos disse que após ter a luva colocada, o médico pediu para ele voltar a clínica no dia seguinte, mas não sinalizou se no retorno previsto substituiria o item improvisado. Também disse que não foi solicitada a assinatura de nenhum termo. O que é e pra que serve a bolsa de colostomia Ao fim da sindicância, são dois resultados possíveis, segundo o conselho: se a situação for entendida como sendo de não gravidade, e o paciente concordar, poderá ser firmado um Termo de Ajuste de Conduta (TAC). Se o CRM-PR entender que a situação ofereceu risco à integridade paciente e que houve infração ética, o procedimento sindicante vira processo. Neste caso, o médico poderá ser absolvido ou condenado. Em cenário de eventual condenação, são cinco penas previstas, que envolvem advertência, censura em caráter reservado e cassação do registro. O caso João Carlos contou que, antes de colocar a bolsa de colostomia, estava com um dreno para eliminar secreções. A indicação de colocar a bolsa de colostomia veio quando o curativo que ele usava parou de segurar o dreno devido à quantidade de líquido eliminada. Ele precisava do equipamento coletor enquanto se recuperava de um procedimento pós-operatório no rim. Porém, ao ir à clínica para colocar o item, o médico disse que a instituição estava sem a bolsa e informou que colocaria a luva em substituição. O caso aconteceu em 22 de setembro. “O médico queria ver a quantidade de secreção que estava saindo [...]. Como não tinha a bolsa de colostomia, ele improvisou e, no momento, eu até me achei bem acolhido, ele estava sendo simpático. Depois que caiu minha ficha. Pensei: ‘Cara, o que eu to fazendo com isso aqui?’. Aí pedi ajuda para uma amiga”. Em nota, o centro clínico lamentou o ocorrido e disse que desligou o médico da equipe. Também afirmou que tem como prioridade oferecer o melhor atendimento aos clientes. "A prioridade da empresa é oferecer o melhor atendimento aos clientes. Por isso, a companhia lamenta profundamente o ocorrido, que possa ter gerado algum desconforto ao paciente [...] Assim que houve conhecimento dos fatos, o médico foi desligado, o paciente foi acolhido, e todas as suas demandas estão assistidas. O paciente está bem e em continuidade ao seu tratamento ambulatorial", disse a nota do centro clínico. O paciente disse que ficou menos de 24 horas com a luva e a substituiu por intermédio de uma amiga que trabalha em um hospital da capital. Ela conseguiu uma bolsa de colostomia para ele. João Carlos trocou a luva por uma bolsa de colostomia por intermédio de uma amiga Arquivo pessoal A reportagem questionou o Centro Clínico Pinheirinho se o uso de uma luva cirúrgica é recomendado em caso de falta de bolsa de colostomia, mas não teve resposta. A empresa também não respondeu sobre o motivo da ausência de bolsas de colostomia na unidade, nem se o uso da luva poderia gerar riscos à saúde do paciente. "Como a minha preocupação primeiro foi a minha saúde, eu não tive cabeça pra fazer nenhuma reclamação em outros lugares. As pessoas ao meu redor que, incomodadas, me motivaram a fazer algo. Meu chefe fez uma reclamação e eu recebi um retorno. Eles perguntaram o que aconteceu e lamentaram o ocorrido [...]. Há mais de dois anos estou com problemas no rim, tem sido cansativo". Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado g1 Paraná.