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Correios anunciam plano de reestruturação com fechamento de agências e empréstimo bilionário

Entre os principais pontos do plano está a implementação de um PDV, que tem como meta reduzir em até 15 mil o número de funcionários

Por Da Redação

Correios anunciam plano de reestruturação com fechamento de agências e empréstimo bilionário Créditos: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Os Correios detalharam nesta segunda-feira (29) um amplo plano de reestruturação financeira e administrativa com o objetivo de reverter uma sequência de 12 trimestres consecutivos de prejuízos. As medidas incluem a redução de custos com pessoal, fechamento de agências deficitárias, venda de imóveis, revisão do plano de saúde dos funcionários e a contratação de empréstimos bilionários para recompor o caixa da estatal.

Durante entrevista coletiva em Brasília, o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, afirmou que o atual modelo econômico-financeiro da empresa deixou de ser viável e que ajustes precisam ser feitos de forma rápida para evitar um agravamento das perdas. Segundo ele, sem mudanças, a estatal poderia acumular um prejuízo de até R$ 23 bilhões em 2026.

Entre os principais pontos do plano está a implementação de um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que tem como meta reduzir em até 15 mil o número de funcionários em um período de dois anos. A medida representa um corte estimado de 18% na folha de pagamentos e deve gerar uma economia de cerca de R$ 2,1 bilhões anuais nos custos com pessoal. Atualmente, as despesas com recursos humanos representam aproximadamente 62% dos gastos totais da empresa.

Além do PDV, os Correios pretendem fechar mil agências consideradas deficitárias, o equivalente a cerca de 20% da rede atual, que conta com aproximadamente 5 mil unidades em funcionamento. A estatal também planeja otimizar sua malha logística e vender imóveis não operacionais, com expectativa de arrecadar R$ 1,5 bilhão com essas alienações.

Outra frente do plano envolve a reformulação do plano de saúde dos funcionários, o Postal Saúde. De acordo com Rondon, o benefício precisa ser completamente revisto devido ao alto custo para a empresa. A revisão busca uma redução de cerca de R$ 500 milhões por ano. A Postal Saúde enfrenta dificuldades financeiras e, segundo demonstrações divulgadas pela própria operadora, há risco para sua continuidade operacional, já que sua sustentabilidade depende diretamente dos repasses feitos pelos Correios.

Prejuízos acumulados

Em setembro, os Correios divulgaram o resultado do primeiro semestre de 2025, com prejuízo de R$ 4,3 bilhões. No mesmo período de 2024, o resultado negativo havia sido de R$ 1,3 bilhão. A empresa também vem enfrentando queda de receitas. Até setembro deste ano, a arrecadação diminuiu quase R$ 2 bilhões em comparação com igual período de 2024.

Segundo a direção da estatal, parte dessa retração está relacionada à implementação do programa “Remessa Conforme”, criado pelo Ministério da Fazenda em 2023. A medida instituiu a cobrança de imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, conhecida como “taxa das blusinhas”, e permitiu que outras empresas de transporte realizassem o frete de mercadorias internacionais no Brasil, reduzindo a exclusividade dos Correios na distribuição dessas encomendas.

Apesar do cenário adverso, a empresa projeta um aumento gradual das receitas nos próximos anos. A expectativa é alcançar R$ 21 bilhões em faturamento em 2027, após encerrar 2024 com receita total de R$ 18,9 bilhões.

Empréstimo

Um dos pilares do plano de reestruturação é a contratação de um empréstimo de R$ 12 bilhões junto a um consórcio formado por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. O contrato, publicado no Diário Oficial da União, tem validade até 2040 e conta com garantia da União, o que reduz o risco da operação para as instituições financeiras.

Do total contratado, R$ 10 bilhões devem ingressar no caixa da empresa ainda em 2025, enquanto os R$ 2 bilhões restantes estão previstos para 2026. O contrato prevê carência de três anos, com início dos pagamentos mensais a partir de dezembro de 2029. Os recursos serão utilizados, principalmente, para quitar dívidas, pagar salários, precatórios e regularizar contratos, permitindo que a estatal volte a ficar adimplente.

Mesmo com essa operação, os Correios avaliam a necessidade de captar mais R$ 8 bilhões até 2027. Segundo Emmanoel Rondon, ainda não há definição se esse montante virá por meio de um aporte direto da União ou de uma nova rodada de financiamentos com bancos. A estimativa inicial da empresa apontava para uma necessidade total de até R$ 20 bilhões para garantir a sustentabilidade financeira no médio prazo.

Perspectiva

Além das medidas de ajuste, os Correios planejam investir R$ 4,4 bilhões entre 2027 e 2030, com recursos de um empréstimo junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), do Brics. A captação será destinada à automação de centros de tratamento, renovação e descarbonização da frota, modernização da infraestrutura de tecnologia da informação e redesenho da malha logística.

Segundo a direção da empresa, mesmo com a adoção das medidas previstas, os Correios ainda devem registrar um déficit de cerca de R$ 9 bilhões em 2025, com possibilidade de piora em 2026. A projeção é de retorno ao lucro apenas a partir de 2027, caso o plano de reestruturação seja implementado conforme o cronograma apresentado.

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