corbelia setembro

COP30 entra na reta final com impasses sobre metas climáticas, financiamento e adaptação

A fase técnica, que marcou os primeiros dias do evento, deixou em aberto pontos centrais da agenda, aumentando a pressão sobre o segmento político

Por Da Redação

COP30 entra na reta final com impasses sobre metas climáticas, financiamento e adaptação Créditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, iniciou sua semana decisiva com a presença de ministros e chefes de delegações, encarregados de destravar os principais impasses e conduzir a conferência a um consenso, condição necessária para a aprovação de qualquer decisão no âmbito da Convenção do Clima. A fase técnica, que marcou os primeiros dias do evento, deixou em aberto pontos centrais da agenda, aumentando a pressão sobre o segmento político.

Na noite de domingo (16), a presidência da COP divulgou um resumo das consultas referentes a quatro itens considerados estratégicos, entre eles a ampliação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a definição de novos mecanismos de financiamento público de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento. Esses temas, entretanto, ainda não obtiveram apoio suficiente para avançar como propostas formais de ação.

Outro elemento crucial da conferência, a Meta Global de Adaptação (GGA), segue sem consenso. O assunto está oficialmente na agenda, mas as negociações ainda não resultaram em um texto convergente. O impasse preocupa especialistas e negociadores, já que a GGA é considerada um dos principais resultados esperados desta edição da COP.

Analistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que o documento divulgado reflete com precisão o quadro atual das negociações. Para a vice-presidente do Instituto Talanoa, Liuca Yonaha, o texto oferece opções de encaminhamento que podem compor uma decisão final no chamado “mutirão decision”, esforço coletivo que integra diferentes frentes de negociação.

Mesmo assim, especialistas destacam lacunas importantes. Fernanda Bortolotto, da The Nature Conservancy Brasil, chama atenção para a ausência de referências explícitas a rota de transição energética e ao fim do desmatamento, pontos defendidos por líderes brasileiros durante a abertura da COP. “O texto ainda não traz caminhos concretos. Já há o apoio de mais de 60 países para avançar nesse debate, mas isso ainda não aparece nas salas de negociação”, afirma.

A expectativa é que a presença de ministros dê o impulso necessário para destravar os temas. Tradicionalmente, a segunda semana de conferência marca a entrada de autoridades com maior margem política para negociar ajustes nos textos produzidos pelos órgãos técnicos. Para Anna Cárcamo, do Greenpeace Brasil, este é o momento de intensificar a pressão: “É preciso avançar com encaminhamentos claros para iniciar mapas do caminho tanto para o fim dos combustíveis fósseis quanto para o desmatamento.”

Na plenária de alto nível realizada nesta segunda-feira (17), o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin reiterou que o Brasil trabalha por mapas de ação que consolidem avanços na transição energética e na erradicação do desmatamento ilegal, considerados pelo governo como legados essenciais da COP30.

Entre os pontos mais delicados segue o debate sobre adaptação. Apesar de técnicos terem finalizado um rascunho com 100 indicadores globais, há resistência do Grupo Africano, apoiado por países árabes, que propõe estender o trabalho técnico por dois anos e adiar a decisão para 2027. Segundo Fernanda Bortolotto, o texto servirá de base para negociações ministeriais ao longo da semana, na tentativa de viabilizar sua adoção ainda nesta conferência.

Também avançam discussões sobre os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs), o Fundo de Adaptação (AF) e o tema da transição justa, mas todos permanecem sem consenso. Com múltiplos impasses acumulados, a COP30 agora depende do esforço político para traduzir semanas de trabalho técnico em acordos concretos que definirão a ambição climática global nos próximos anos.

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