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Consumo de carniça foi prática recorrente ao longo da evolução humana

Novo estudo aponta que consumo de carniça foi uma prática recorrente e necessária que complementou a caça e a coleta ao longo da história da humanidade

Consumo de carniça foi prática recorrente ao longo da evolução humana Créditos: Getty Images

Uma nova pesquisa liderada pelo Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana (CENIEH), da Espanha, em colaboração com o IPHES-CERCA e diversas universidades espanholas, questiona noções tradicionais acerca da importância do canibalismo na evolução humana. Publicado na Journal of Human Evolution, o estudo sugere que o consumo de carniça não foi uma estratégia marginal ou primitiva de sobrevivência, mas sim uma prática recorrente e necessária que complementou a caça e a coleta ao longo da história da humanidade.

Por décadas, o debate científico se concentrou em determinar se os primeiros humanos eram predominantemente caçadores ou consumidores de carniça. A descoberta de ossos de animais cortados em locais africanos na década de 1960 revitalizou a ideia de “Homem Caçador”, apresentando a busca ativa por carne como uma característica definidora da espécie humana. Por outro lado, a necrofagia foi frequentemente considerada uma atividade transitória ou inferior. Contudo, evidências crescentes provenientes da arqueologia e da ecologia oferecem uma perspectiva radicalmente diferente: todas as espécies carnívoras, incluindo os seres humanos, dependeriam dessa prática em algum grau.

Vantagens evolutivas

Os pesquisadores identificaram que o consumo de carniça proporcionou importantes vantagens evolutivas. Ao contrário da caça, que exige tempo, energia e envolve riscos, o consumo de animais já mortos permitiu acesso a fontes alimentares ricas em energia com um esforço mínimo. Em condições de fome ou estresse ambiental, carcaças de animais – especialmente grandes mamíferos terrestres ou marinhos – constituíam recursos abundantes e confiáveis. Pesquisas ecológicas também demonstram que a disponibilidade de carniça é mais abundante do que se pensava anteriormente, e muitos necrófagos, incluindo os humanos, desenvolveram adaptações biológicas e comportamentais para consumi-la de forma segura.

Segundo o estudo, os humanos estão adaptados anatômica e fisiologicamente para a prática, uma vez que estômago humano possui um alto nível de acidez que ajuda a neutralizar toxinas perigosas e bactérias. Além disso, a posterior dominação do fogo reduziu ainda mais o risco de infecções ao permitir a cocção e preservação dos alimentos. A capacidade de percorrer longas distâncias facilitou a busca por carcaças em vastas paisagens, enquanto ferramentas simples de pedra possibilitaram que os primeiros humanos penetrassem pelagens grossas para obter carne, gordura e medula, que são alimentos ricos em nutrientes essenciais para o desenvolvimento cerebral.

Comunicação

A comunicação e a cooperação desempenharam também um papel fundamental nesse processo. Os primeiros humanos foram capazes de se comunicar, coordenar esforços e explorar conjuntamente as carcaças. Esse tipo de cooperação teria fortalecido laços sociais e habilidades cognitivas que se tornaram cruciais nas fases posteriores da evolução humana.

De acordo com o artigo, o uso da carniça variaria conforme as condições ambientais, as habilidades tecnológicas e a organização social. Quando a caça não era viável ou os alimentos vegetais estavam indisponíveis, o consumo de carcaças oferecia uma alternativa eficaz que assegurava sobrevivência e equilíbrio energético.

Créditos: Aventuras na História

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