Com bloqueios em estrada, casal demora mais de três dias para concluir viagem estimada em 10 horas entre PR e SC: 'Me senti em cárcere privado e sem os meus direitos'
Por Giuliano Saito
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Jaime Gomes de Araújo, de 51 anos, e a esposa dele, de 55 anos, dizem ter passado fome, frio e medo na BR-376. Bolsonaristas interditam rodovias em protesto contra resultado das urnas desde domingo (30). Jaime Gomes de Araújo, de 51 anos e a esposa Martinha da Luz de Araújo juntos Jaime Gomes de Araújo/reprodução Os maringaenses Jaime Gomes de Araújo, de 51 anos, e a esposa, de 55 anos, relataram momentos de "perrengue" para chegar até o destino da viagem programada. O casal embarcou na rodoviário de Maringá, no norte do Paraná, às 22h15 de domingo (30) e chegaram a Itapema, litoral norte de Santa Catarina, na quarta-feira (2), após ficarem mais de 80 horas na estrada por causa das paralisações. A previsão era de que chegassem a Santa Catarina próximo das 9h de segunda-feira (31). Os bloqueios que ocorrem nas rodovias do país são organizador por bolsonaristas contrários ao resultado das urnas, que elegeu Lula como presidente. Apesar de decisões judiciais para desobstrução das vias, alguns atos ainda permanecem interferindo no trânsito. Casal fica abandonado dentro de ônibus após protestos nas rodovias de Santa Catarina O casal contou que ficou parado na rodovia, junto com os demais passageiros do ônibus, por 12 horas até que o motorista pegou uma rota alternativa e conseguiu chegar a um local com água e sanitários. "Ficamos lá largados na rodovia vivendo em condições desumanas e desrespeitosa por parte do grupo que estavam manifestando. Me senti em cárcere privado sem os meus direitos", disse Jaime. Segundo ele, naquele momento, todos reclamavam de fome e frio. Passageiros aguardando desbloqueio das pistas Jaime Gomes de Araújo/arquivo pessoal "Ficamos sem acesso à comida e à internet o que dificultou muito as condições mínimas de sobrevivência, sem contar o frio que fazia no dia" Passagens que o casal retirou na rodoviária de Maringá Jaime Gomes de Araújo/reprodução Leia também Veja quais pontos são bloqueados em rodovias do Paraná por protestos contra o resultado das eleições, nesta quinta-feira (3) Em negociação com manifestantes, comandante da PM deixa bloqueio continuar parcialmente no Paraná e diz que está 'prevaricando'; VÍDEO VÍDEO: Manifestantes tomam mangueira de caminhão em confusão durante trabalho de bombeiros no Paraná A saga de mais de 80 horas Ao chegar à rodoviária de Garuva (SC), a aproximadamente duas horas do destino, Jaime e a esposa Martinha da Luz de Araújo, ajudaram alguns passageiros que estavam sem dinheiro. "Descemos naquela rodoviária com fome e sem banho. Precisamos ajudar algumas pessoas que estavam sem dinheiro e com fome. A empresa nem sequer tentou nos ajudar de alguma forma". lembrou Jaime. Casal fica mais de 80 horas "largados" em rodovia de Santa Catarina Jaime Gomes de Araújo/arquivo pessoal Cansados e sem previsão de sair do local, Araújo contabilizou pelo menos 20 ônibus parados dentro e fora da rodoviária e pessoas sem acesso à informação. "A empresa não sabia responder ou resolver nada. Não estavam mais vendendo passagem para lugar nenhum e nem informando se a gente conseguiria sair dali. Vivemos um pesadelo", relatou. Empresa de ônibus não estavam mais vendendo passagens por causa dos bloqueios nas rodovias Jaime Gomes de Araújo/arquivo pessoal Cansados, com fome e no escuro Ao chegar no final do segundo dia sem nenhuma informação de que iriam continuar viagem, o casal buscou por hotel na cidade, mas não havia vagas. "A rodoviária era toda escura e sem nenhuma segurança. Tinha um grupo de manifestantes por perto que poderia colocar a nossa segurança em risco. Não tínhamos outra opção a não ser esperar", comentou. Araújo contou que havia idosos e grávidas precisando de ajuda. "Era uma cena difícil de explicar, parecíamos fugitivos. Tinha idosos e mães grávidas sem acesso a nada". Uma academia ao lado da rodoviária estava cobrando para que as pessoas pudessem tomar banho. Viagem abandonada Após insistência, Jaime e Martinha conseguiram vaga em um hotel de Guaruva e, no final de terça-feira (1°), desistiram de continuar a viagem com o ônibus até Itapema. "Não tínhamos mais condições de ficar lá, sem nenhuma resposta. A minha esposa tem problema na coluna e estava sentindo muitas dores". Casal ficou no quarto de um hotel até a vinda de um sobrinho para buscá-los Jaime Gomes de Araújo/arquivo pessoal No dia seguinte, quarta-feira (2), um sobrinho do casal foi até Garuva para buscá-los. "Um sobrinho nos ajudou oferecendo a carona, apesar da nossa folga já estar quase acabando" Após mais de 80 horas desde que saíram de Maringá, finalmente o casal chegou a Itapema. Expectativa de volta Sem esperança e sem saber como vão retornar ao interior do Paraná, Jaime e Martinha estão preocupado se vão enfrentar a mesma saga na volta. "Vamos arriscar e tentar voltar. Ainda não sabemos se tem passagem de volta, a ideia é aproveitar o pouco de tempo que temos para curtir a família", finaliza. O g1 tenta contato com a empresa Brasil Sul e com a administração da rodoviária de Garuava para explicar se já normalizou a venda de passagens, mas não teve retorno até a publicação dessa reportagem. VÍDEOS: mais assistidos do g1 PR Veja mais notícias da região no g1 Norte e Noroeste.
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