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Cerca de 500 mil famílias do Paraná não têm lugar adequado de moradia, aponta governo estadual

Por Giuliano Saito


Situação piorou durante pandemia de Covid-19. Governo do Paraná estima que o número de famílias em favelas passou de 90 mil para 114 mil entre 2019 e 2022. Mais de 500 mil famílias do Paraná têm problemas graves de moradia Cerca de 511 mil famílias paranaenses não têm lugar adequado para morar, de acordo com o último levantamento do Plano Estadual de Habitação, realizado pelo Governo do Paraná em 2019. A situação se enquadra na definição de "problema grave de moradia". Os dados consideram, por exemplo, pessoas que moram em áreas de risco, favelas, lugares que precisam de regularização fundiária ou pessoas que estão na fila da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). Entretanto, profissionais que atuam na área acreditam que o número aumentou durante a pandemia. Conforme o governo, o número de famílias vivendo em favelas saltou de 90 mil para 114 mil entre 2019 e 2022. "Nós temos um programa que está sendo contratado junto ao BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento]. Um financiamento internacional, no valor de R$ 1 bilhão, e a gente vai fazer moradias para pessoas em vulnerabilidade social. Vamos espalhar esses recursos pelo estado e fazer em torno de 14 mil unidades de um programa de desfavelamento chamado 'Vida Nova'", afirmou Jorge Lange, presidente da Cohapar. O número de unidades, contudo, representa apenas 2,7% do déficit que existia em 2019. Pandemia intensificou problema O aumento do déficit foi sentido pela Defensoria Pública do Paraná durante a pandemia. De acordo com o órgão, o número de processos quase triplicou em dois anos, com alta de 173%. "Vão bater na nossa porta geralmente quando há uma ação judicial, de caráter coletivo, com o risco e a iminência de as pessoas serem despejadas. Qual seria, digamos assim, a solução ideal para o problema? Que houvesse uma política pública, adequada, com acesso amplo a moradia, tratar da maneira mais digna possível da moradia das pessoas através de um processo de realocação", explica João Victor Rozatti Longhi, defensor público e coordenador do Núcleo Itinerante das Questões Fundiárias e Urbanísticas (Nufurb). Histórias Na Vila Britanite, no bairro Tatuquara, em Curitiba, 360 famílias dividem espaço no terreno de uma ocupação que começou há quase dois anos. A Silvane de Souza Lima, desempregada, mora com o marido e a filha há quase dois anos no local. Ela contou que antes da pandemia ela e o esposo trabalhavam e pagavam aluguel, mas acabaram perdendo as vagas. Silvane ainda disse que quando chegou na ocupação, o espaço que os abrigou não tinha banheiro. "Pra tomar banho enchia os baldes, esquentava no fogão, bacia no pé e água na cabeça", falou. Ao lado dela mora Rafael Oliveira dos Santos, de 36 anos, que é vendedor ambulante. Ele foi abrigado na ocupação pelo amigo Rychard Camargo Ribeiro dos Santos, que também é vendedor nas ruas. Rafael morava na Ocupação Povo Sem Medo, no bairro Campo do Santana, em Curitiba, onde a polícia cumpriu um mandado de reintegração de posse no dia 10 de janeiro. Cerca de 150 famílias viviam no terreno. Todas as casas foram demolidas. "Foi uma das poucas coisas que a gente conseguiu trazer, a gente coloca o colchão aqui, dorme eu e minha esposa aqui e eles dormem lá no quarto até construir a nossa casinha ali no fundo", disse o vendedor. Rychard contou que está na ocupação da Vila Britanite há oito meses e, mesmo com as dificuldades, recebeu o amigo na casa. "Onde come um, come dois, come três... À necessidade das pessoas a gente não pode fechar os olhos", completou. Em outro bairro de Curitiba, Mirielle Santana Bahiense, de 21 anos mora de favor na casa do ex-marido. Antes moradora da "Ocupação Povo Sem Medo", ela é mãe de dois filhos e está desempregada, sem condições de pagar aluguel. "Perdi tudo, tudo. Foi muito triste! Eu estava com os meus filhos, eles estavam chorando... Perdi tudo. E agora estou de favor de novo", contou. Jucimere Aparecida Paiara, desempregada, disse que tem sonho de mudar para um lugar melhor. Ela e os quatro filhos dividem uma casa pequena em uma ocupação e têm medo de que sejam obrigados a sair do local. Relembre: 'Não tenho para onde ir com os meus dois filhos', diz moradora de ocupação alvo de reintegração de posse Polícia cumpre reintegração de posse em ocupação com cerca de 150 famílias em Curitiba ocupação Reprodução Os vídeos mais assistidos do g1 PR: Mais notícias do estado em g1 Paraná.