Campanha une depoimentos de sobreviventes do Holocausto com relatos de vítimas de violência de ódio; conheça
Por Giuliano Saito

Campanha 'Viver para contar. Contar para viver' é uma parceria da UNESCO com o Museu do Holocausto de Curitiba e foi lançada nesta sexta-feira (27), Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Começa a campanha "Viver para contar. Contar para viver" Uma campanha reúne depoimentos de sobreviventes do Holocausto com o relato de brasileiros vítimas de violência de ódio e intolerância nos dias atuais. A campanha é uma parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) com a Capuccino Digital, o Museu do Holocausto de Curitiba e a Confederação Israelita do Brasil (CONIB). A campanha "Viver para contar. Contar para viver" foi lançada nesta sexta-feira (27), Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. O objetivo, segundo os idealizadores, é alertar sobre a importância de preservar a memória do Holocausto e os impactos do seu apagamento nos dias atuais. Conforme a campanha, os sobreviventes ainda vivos do Holocausto têm, em média, 84 anos de idade e a morte deles representa uma perda coletiva. Por conta disso, a ação considera a urgência de se preservar as memórias dessas pessoas, frente ao risco de a História ser distorcida ou apagada. Dados levantados pela UNESCO revelam que 49% das publicações sobre Holocausto no Telegram negam ou distorcem fatos. Ao mesmo tempo, no Brasil, o número de denúncias relacionadas a crimes de ódio ou intolerância indicam um crescimento. Na internet, os crimes de ódio apontaram 67% de crescimento no começo de 2022, segundo a Safernet. Denúncias de intolerância religiosa cresceram 141% no Brasil em 2021. Além disso, conforme a Polícia Federal (PF), entre 2018 e 2020 o número de casos de apoio ou apologia ao nazismo passaram de menos de 20 registros para mais de 100. "Nunca foi tão importante falar sobre o Holocausto como nos dias de hoje, justamente por fazer esse diálogo e essa reflexão sobre o ódio, sobre o racismo e a intolerância como vivemos nos dias de hoje", afirma Carlos Heiss, coordenador do Museu Holocausto. Museu do Holocausto, de Curitiba Giuliano Gomes/PRPress Conheça os relatos Por meio da campanha "Contar para viver", as pessoas poderão ouvir a história de três sobreviventes do Holocausto. Conheça: Ruth Sprung Tarasantchi, 89 anos: Sobrevivente do Holocausto. A família de Ruth foi levada da Iugoslávia, onde ela nasceu, para a Itália com o aumento da perseguição dos judeus. Ela relata que lá sofreu preconceito na escola, escapou da morte quando um trem em que estava foi metralhado e acabou em um campo de concentração de Mussolini. Gabriel Waldman, 84 anos: Também sobrevivente do Holocausto. Relata que tinha 6 anos e percebia o ódio contra os judeus crescendo a partir de detalhes na vida cotidiana. A história de Gabriel traz detalhes sobre o preconceito que ele sofreu, passando pela exclusão do mercado de trabalho, até a violência e genocídio. Joshua Strul, 89 anos: Sobreviveu ao Holocausto e compartilha que foi obrigado a viver em um gueto para judeus na Romênia, onde morava em uma barraca coberta de folhas. Na única vez que tentou sair pela cidade, foi espancado porque levava a Estrela de David no peito. Além disso, o projeto traz também a história de sobreviventes de violências motivadas pelo racismo, pela intolerância religiosa e homofobia. Odivaldo Silva (Neno), 55 anos: Sobrevivente de um ataque racista. O músico foi atacado com um cassetete e um cachorro enquanto andava na rua em Curitiba. Segundo o relato de Neno, durante o crime o agressor o chamou de "macaco" e de "negro sujo". Além disso, também disse que "morador de rua tem que apanhar". Naiá Tupinambá, 19 anos: Sobrevivente de um ataque motivado pela xenofobia e racismo. A jovem relata que após assumir a identidade ancestral indígena passou por situações de preconceito. André Baliera, 38 anos: Sobrevivente de um ataque homofóbico. Após responder a ofensas de cunho discriminatório, André foi violentamente espancado em uma rua movimentada de São Paulo. Os vídeos com os depoimentos completos podem ser acessados no site da campanha. "É importante dizer que o holocausto é um evento sem precedentes na história da humanidade. O objetivo dessa campanha não é de nenhuma maneira equiparar o Holocausto a questões atuais, mas a partir do momento que falamos sobre ódio, preconceito e intolerância um dos objetivos do museu é trazer essas lições para os dias de hoje", reforça Heiss. Além dos depoimentos, a campanha sugere também que as pessoas "adotem uma história" e a compartilhem nas redes sociais. Neta de sobrevivente reforça importância da ação O avô da estudante Ilana Inberman lutou na resistência contra o nazismo. De acordo com a jovem, ele fugiu de um campo de concentração e se juntou a um grupo de partisan, grupo de guerrilha armada nas florestas da Polônia, que lutavam contra o nazismo e contra a ideologia nazista. Segundo Ilana, ações como a campanha "Viver para contar. Contar para viver" ajudam a educar e a compreender a importância do respeito, especialmente entre os jovens. "O Holocausto não começou com campos de extermínio. O Holocausto começou com propaganda nazista, barrando judeus de irem para a escola, de viverem em sociedade. Foram pequenos atos que foram chegando no máximo, que é o que a gente conhece. Então trazendo para os dias de hoje a gente consegue mostrar para esses jovens que muitas vezes uma piada, um comentário, uma brincadeirinha já é uma forma de preconceito", afirma. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.
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