Baixa adesão à vacina agrava avanço de vírus respiratórios no Paraná e em Cascavel

Índice de vacinação está abaixo de 40% entre idosos e não chega a 25% nas crianças em Cascavel

Por Gabriel Porta

Baixa adesão à vacina agrava avanço de vírus respiratórios no Paraná e em Cascavel Créditos: Roberto Dziura/AEN

O avanço dos vírus respiratórios no Paraná tem gerado forte preocupação entre autoridades de saúde, que fazem um apelo à população para que busque a vacinação contra a gripe. Apesar da ampla oferta de doses, a adesão segue muito abaixo do necessário para conter a disseminação de doenças como a Influenza A e o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), responsáveis por boa parte dos atendimentos nas unidades de saúde neste outono.
Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), desde o início da campanha, pouco mais de 1,9 milhão de doses foram aplicadas no Paraná. No entanto, a cobertura vacinal entre os grupos prioritários está em apenas 36,5%, muito distante da meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde. A situação é ainda mais preocupante entre as crianças, cuja taxa de imunização chega a apenas 27,2%. O alerta também vale para gestantes, idosos e pessoas com comorbidades, que são justamente os mais vulneráveis às complicações das síndromes respiratórias.
O secretário estadual de Saúde, Beto Preto, foi enfático ao tratar do tema durante uma coletiva realizada em Londrina. “Estamos vendo uma circulação intensa desses vírus em todo o estado. A Influenza A representa hoje cerca de 20% dos casos e o VSR chega a 30% das amostras analisadas, impactando especialmente crianças pequenas. O momento é crítico e exige resposta rápida”, destacou.
O dado mais alarmante aparece quando se compara a gravidade dos casos. Embora o número total de registros de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) tenha caído levemente — de 8.304 no ano passado para 8.273 neste ano —, o número de mortes entre crianças disparou. “Em 2024, perdemos quatro crianças menores de 12 anos por síndrome respiratória aguda grave. Agora, já são 11 vidas perdidas. São números que nos entristecem e nos mobilizam”, alertou.
A boa notícia, pelo menos por enquanto, é que o Paraná ainda não precisou decretar situação de emergência em saúde pública, como já ocorreu em estados vizinhos, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Mas isso não significa que o cenário seja confortável. “Seguimos com os indicadores sob controle, mas atentos. Neste momento, nossa aposta é na vacina e na conscientização. Vacinar é um ato de amor coletivo. É proteger a si e aos outros. Vacinar, vacinar e vacinar”, frisou Beto Preto.

Em Cascavel

Em Cascavel, a realidade não é diferente e, talvez, seja ainda mais preocupante. O baixo índice de vacinação já impacta diretamente o funcionamento das unidades de saúde. A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) confirma que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Saúde da Família (USFs) estão registrando aumento significativo na procura, especialmente por casos de sintomas respiratórios.
Levantamento da Sesau aponta que, entre os dias 1º e 20 de maio, as UPAs de Cascavel atenderam 3.252 pacientes a mais do que no mesmo período do ano passado. E o cenário pode se agravar ainda mais caso os índices de imunização não melhorem nas próximas semanas, justamente no período de maior circulação de vírus respiratórios, que se estende durante o outono e inverno.
Os dados de vacinação são extremamente preocupantes. Do universo de 144.066 pessoas que fazem parte do grupo prioritário na cidade, apenas 54.055 procuraram a vacina até agora — uma cobertura de 33,55%. Entre os idosos, que somam mais de 52 mil em Cascavel, a taxa ficou em 39%. As crianças, que são altamente suscetíveis a quadros graves de infecções respiratórias, têm um índice ainda mais baixo: 24,21%. O dado mais alarmante envolve as gestantes, cuja cobertura não chega nem a 11%, ficando em 10,52%.

Sistema pressionado

O reflexo direto desses números é sentido na superlotação das unidades de saúde. As UPAs, que funcionam por classificação de risco, priorizando casos mais graves, têm registrado aumento de espera para atendimentos de menor gravidade. Como o serviço é de porta aberta, sem limite fixo de capacidade, não há como estabelecer um tempo médio de espera. A chegada de casos críticos, que precisam de atendimento imediato, faz com que outros pacientes aguardem por mais tempo.
Além da alta demanda, a Secretaria de Saúde admite que há um déficit de profissionais, o que agrava ainda mais o problema. Por isso, o município abriu um chamamento emergencial para a contratação de 20 novos servidores, incluindo nove médicos, sete técnicos de enfermagem e quatro enfermeiros. O objetivo é reforçar o quadro nas UBSs, USFs e UPAs, especialmente neste período crítico.
E não é só a rede pública que sente os impactos. As unidades privadas também enfrentam aumento expressivo no tempo de espera e na procura por atendimentos, confirmando que o problema é generalizado, não se restringindo à saúde pública.

Alerta das autoridades

Tanto a Secretaria Municipal quanto a Secretaria Estadual de Saúde reforçam que o aumento dos casos está diretamente relacionado à sazonalidade das doenças respiratórias, típica dos meses de outono e inverno na Região Sul do Brasil. Segundo nota técnica da Sesa, além da Influenza A e do VSR, outros vírus como Influenza B, Rinovírus, Adenovírus e o próprio Sars-CoV-2 (Covid-19) estão em circulação, contribuindo para o aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).