Avião que caiu no Pantanal fazia voo irregular e pousou fora do horário permitido, diz polícia
O Cessna 175, fabricado em 1958, tinha permissão apenas para operar em condições de navegação visual (VFR diurno), mas decolou após o pôr do sol
Por Da Redação

Quatro pessoas morreram na noite de terça-feira (23) após a queda de um avião de pequeno porte na região da Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, no Pantanal. Entre as vítimas está o arquiteto chinês Kongjian Yu, considerado um dos mais influentes do mundo. Também perderam a vida o documentarista Luiz Ferraz, o diretor de fotografia Rubens Crispim Jr. e o piloto Marcelo Pereira de Barros.
De acordo com o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a aeronave fazia um voo irregular. O Cessna 175, fabricado em 1958, tinha permissão apenas para operar em condições de navegação visual (VFR diurno), mas decolou após o pôr do sol, em um horário em que a pista já não estava autorizada para operações. Segundo os registros, o limite era até 17h39, e o acidente ocorreu depois das 18h.
Testemunhas relataram que o avião sobrevoou a região durante todo o dia, realizando pousos e decolagens. A Polícia Civil investiga se o voo fazia parte de um serviço clandestino de táxi-aéreo. O piloto, que também era dono da aeronave, já havia sido investigado na Operação Ícaro, em 2019, por transporte irregular de passageiros. Naquele período, o avião chegou a ser apreendido por irregularidades na documentação e adulteração na identificação. Após três anos retido, foi liberado pela Justiça, reformado e autorizado apenas para uso particular, sem permissão para transporte remunerado.
A delegada Ana Cláudia Medina, responsável pelo caso, explicou que a hipótese inicial levantada por funcionários da fazenda — de que uma manada de queixadas (porcos-do-mato) teria invadido a pista, forçando uma arremetida — foi descartada. Segundo ela, a vistoria no local não encontrou indícios da presença dos animais no momento do pouso. A principal linha de investigação é de que o piloto tenha identificado alguma condição irregular na aproximação.
O avião caiu a cerca de 100 metros da pista e explodiu ao atingir o solo. As chamas carbonizaram os corpos das quatro vítimas. Funcionários da fazenda ainda tentaram conter o fogo com uso de trator e caminhão-pipa, mas não conseguiram evitar a tragédia.
O Cenipa e o Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV) foram acionados para conduzir a investigação técnica. O trabalho busca identificar as causas do acidente, avaliando o desempenho da aeronave, os horários do voo e possíveis falhas na operação. O objetivo é esclarecer o que levou à queda, sem apontar culpados neste primeiro momento.
A viagem das vítimas estava ligada à gravação de um documentário sobre cidades-esponjas. O grupo chegou à região de carro e se hospedou na fazenda. O arquiteto Kongjian Yu era um dos nomes centrais da produção, enquanto Ferraz e Crispim Jr. faziam parte da equipe de filmagem.
O Cessna 175, matrícula PT-BAN, não possuía instrumentos adequados para voos noturnos ou em condições adversas de tempo. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o modelo dependia exclusivamente da visibilidade externa, com referências no horizonte e no solo para navegação.
A tragédia provocou comoção entre autoridades, representantes da arquitetura e colegas de profissão das vítimas. O acidente reforça o alerta das autoridades sobre os riscos de voos fora das condições estabelecidas pela regulamentação aérea e da prática de transporte irregular de passageiros.
Com informações do G1
