Ponto 14

Avenida considerada mais bonita de Foz do Iguaçu tem ‘túnel verde’ com mais de 150 árvores; conheça história

Por Giuliano Saito


Avenida Pedro Basso pode virar patrimônio natural da cidade após polêmica sobre possível corte das árvores. Via é atração turística e já foi até palco de casamento. Árvores de rua em Foz do Iguaçu formam 'túnel verde' e viram atração turística A cidade de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, é famosa por abrigar as Cataratas do Iguaçu, mas também guarda belezas naturais como a Avenida Pedro Basso. A via fica na região central e é considerada a mais bonita da cidade. Ao longo de cerca de 500 metros, 151 árvores - com alturas entre 30 e 40 metros - formam uma espécie de túnel verde. Conheça no vídeo acima. A beleza natural torna o local um atrativo para ensaios fotográficos e já foi até cenário de casamento. O local atrai visitantes especialmente no verão e na primavera, quando o ambiente é tomado pelas flores amarelas das tipuanas. Saiba a seguir quais espécies de árvore encontrar na Pedro Basso. A avenida é o centro de debate sobre o corte de algumas árvores, anunciado no ano passado pela diretoria de arborização do município após análise técnica. A repercussão do caso levou o Centro De Direitos Humanos e Memória Popular de Foz Do Iguaçu a pedir oficialmente à Fundação Cultural do município o tombamento da via como patrimônio natural e paisagístico. Avenida Pedro Passo possui túnel verde que chama a atenção pela beleza Gilvana Giombelli/g1 Paraná Nesta reportagem o g1 conta a história da rua, as árvores que compõem o túnel, quem as plantou e em qual ano, além de detalhes sobre o tombamento da via e sobre o possível corte de árvores. A rua e suas árvores Quem plantou as árvores? Parecer técnico para retirada de plantas da avenida Tombamento da rua como patrimônio natural e paisagístico O que dizem os moradores e turistas da região? Quem foi Pedro Basso? 1. A rua e suas árvores A Avenida Pedro Basso fica na área central de Foz do Iguaçu, paralela à Avenida Paraná. A via tem cerca de 2 quilômetros. Em cerca de 500 metros, há um "túnel verde" formado por 151 árvores de 11 espécies, com destaque para tipuanas (98 árvores) e alfeneiros (43). Há também representantes das espécies: canafístulas, flamboyant, ipê-roxo, leucena, louro-pardo, sapuvinha, seriguela, sete-copas e sibipiruna. O local pode ser acessado de carro e a pé. A avenida possui áreas residenciais e também comerciais. Por ser uma área pública e aberta as visitações livremente, a prefeitura informou não ter dados sobre quantos moradores e turistas passam por ali diariamente. 2. Quem plantou as árvores? Milton Rodrigues plantou as árvores da Avenida Pedro Basso na década de 1970 Reprodução RPC Conforme a Diretoria de Arborização de Foz do Iguaçu, as árvores, foram plantadas em 1977 por Milton Rodrigues. Exemplares também foram plantados na Rua Marechal Deodoro e em outras regiões da área central da cidade. Milton já faleceu. Porém, em 2013, contou sobre o motivo do plantio em entrevista a RPC. “Veio o meu amigo de Londrina que tinha uma floricultura e ele me ofereceu essas árvores. Eu falei: ‘Olha, eu faço questão de plantar umas árvores. [...] Ia ficar um tapete amarelo embaixo. [...] tudo que ele descreveu está acontecendo”, disse Milton à época. 3. Parecer técnico para retirada de árvores Parecer indicou a retirada de árvores da Avenida Pedro Basso Gilvana Giombelli/g1 PR Um parecer técnico elaborado em junho de 2022 pela Secretaria de Meio Ambiente de Foz do Iguaçu indicou a necessidade de corte e substituição de algumas árvores da avenida. O documento aponta que, de todas as árvores do "túnel verde", 95 (63%) estavam em boas condições. Outras 31, cerca de 20%, estavam em condições razoáveis, "demandando atenção quanto a necessidades de manutenção de reparos". Outras 25 árvores (17%), segundo o parecer, estão com algum "tipo de injúria" que implica atenção para a possibilidade de retirada gradativa "mediante reposição com mudas nativas". O documento diz não ter sido feita análise da parte interna das árvores e que, por tal motivo, não é possível precisar as "condições e potenciais" que mantém as mesmas em pé. O procedimento não foi realizado por falta de equipamento especifico, segundo parecer. Avenida Pedro Basso, em Foz do Iguaçu Gilvana Giombelli/g1 Paraná O documento cita entre os critérios para a avaliação das plantas a não presença de "pragas em níveis relevantes, doenças estabelecidas, manchas de apodrecimento, galhadas secas, e fraturas de galhos e exposição de tecidos". O parecer indicou que "não foi identificada a existência de algum plano que vise à preservação dos espécimes inseridos". O documento informa ainda que a retirada das árvores só é recomendada em "casos de extrema necessidade" pelo valor histórico, cultural e atributos quanto à arborização. Porém, a análise cita exceções, como das espécies alfeneiro, leucena e sete-copas, consideradas "exóticas invasoras". Somadas, as três espécies representam quase 30% das plantas do arco verde. O diretor de arborização de Foz do Iguaçu, Marcos Antônio da Silva, afirmou em 12 de janeiro, em entrevista à RPC, que estava previsto o plantio de algumas mudas na avenida e que, depois, as árvores classificadas com ruins, seriam cortadas. De acordo com Silva, aquelas em estado razoável ainda seriam reavaliadas. 4. Tombamento da rua como patrimônio natural e paisagístico Galhos entrelaçados formam túnel verde na Avenida Pedro Basso Gilvana Giombelli/g1 Paraná Em 16 de janeiro de 2023, após a repercussão do caso, o Centro De Direitos Humanos e Memória Popular De Foz Do Iguaçu pediu em ofício à Fundação Cultural do município o tombamento da Avenida Pedro Basso como patrimônio natural e paisagístico. O pedido tramita na fundação e deverá, em até 60 dias, ser encaminhado para o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (Cepac). Após essa fase, o processo passará por fase de instrução, com levantamento de dados. Depois, o caso será submetido aos 18 conselheiros do Cepac, que decidirão em até 60 dias se a avenida será tombada. Enquanto isso, qualquer modificação da via, seja para corte de galhos ou árvores, assim como colocação de fachadas dos estabelecimentos, deverá ser encaminhada à Fundação Cultural, que pode ou não encaminhar para discussão no Cepac. "O plantio de mudas está descartado, provisoriamente, inclusive qualquer ação está restrita na Pedro Basso, tanto de plantio de novas espécies, poda ou substituição, até entender melhor esse pedido de tombamento da avenida", afirmou o secretário interino de Meio Ambiente, Jorge Pegoraro. Florada das tipuanas forma "tapete amarelo" na Avenida Pedro Basso Gilvana Giombelli/g1 Paraná Na última segunda-feira (23),representantes da sociedade civil, da Secretaria de Meio Ambiente de Foz do Iguaçu e do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz Do Iguaçu se reuniram para debater o projeto de tombamento. O museólogo Pedro Louvain é conselheiro titular do Cepac e participou do encontro representando a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Ele destacou que o projeto vai além da preservação ambiental e da renovação - a partir de estudos técnicos - das árvores da via, tratando até mesmo da colocação de placas na avenida. "Placas comerciais que estão sendo instaladas de forma perpendicular à via, descaracterizando o ambiente, e dando poluição visual. Essas placas deveriam ser colocadas dentro dos domicílios, de forma paralela, isso tem que estar no protocolo de tombamento, todo tombamento implica no protocolo salvaguarda, que tem as restrições previstas em lei do qual o conselho, o Cepac, vai entender como necessário para proteger a originalidade, a ambiência do bem", explicou Louvain. O secretário de meio ambiente disse ter havido uma má interpretação do parecer, mas que um novo laudo está em elaboração para atualizar as informações já obtidas e esclarecer sobre a real situação das árvores da Avenida Pedro Basso. "Não existe nenhum plano ou projeto para substituir as árvores, o houve foi um mal-entendido, uma má interpretação técnica do parecer técnico, solicitado pela Câmara de Vereadores", afirmou Pegoraro. 5. O que diz a população? Mulheres que trabalham na Avenida Pedro Basso falam sobre os benefícios da via Gilvana Giombelli/g1 Paraná A possível retirada das árvores repercute nas conversas pela cidade e nas redes sociais. Um abaixo-assinado online, contrário à retirada de árvores, conta com mais de 2,5 mil assinaturas. A auxiliar de serviços gerais Maria Brandão trabalha há 10 anos no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), localizado na avenida. Ela acredita ser preciso refletir sobre os benefícios que as plantas trazem aos ambientes, especialmente o frescor. "Eu acho o local mais gostoso de Foz do Iguaçu. Sujeira tem em qualquer lugar que tenha árvore, folhas, essas coisas, mas o benefício é muito grande, ter um lugar fresquinho para ficar. É um cartão postal de Foz do Iguaçu. Eu acho que tem que pensar os dois lados", ponderou. Copada das árvores da Avenida Pedro Basso Gilvana Giombelli/g1 Paraná Para a educadora social do Creas Maria Aparecida a discussão precisa de um melhor embasamento técnico para que seja encontrada a melhor solução. "Eu entendo uma necessidade [de retirada] por conta das questões de perigo, a gente percebe quando chove que cai bastante galho, entendemos que são bem antigas também. Mas por outro lado, a gente também compreende que é muito necessário ter o verde, as árvores, a purificação. Então, entendo que se retirar tudo vai ficar estranho, mas, com reflorestamento gradativo, pode dar certo", afirmou. Além de debates com a sociedade, ela defende maior investimento em estudos sobre a situação das árvores antes de qualquer ação precipitada. 6. Quem foi Pedro Basso? Nome da rua é em homenagem ao italiano Pedro Basso Arquivo pessoal O nome da rua homenageia um dos pioneiros da região. Pedro Basso trouxe o primeiro cinema à cidade e foi dono de um hotel, comércios em geral, além de ser um dos fundadores e primeiro presidente da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu (Acifi). Basso nasceu em 31 de julho de 1908, em Codognè, província de Treviso, na Itália. Ele chegou ao Brasil com 13 anos. Aos 22 anos, se mudou para a região de Foz do Iguaçu, conforme o neto dele, Pedro Basso Neto. “Chegaram em 1930 em Foz, na vila Celeste, hoje Santa Helena, que na época era distrito de Foz. Se estabeleceu no comércio em geral, tinha um armazém, também ramo da hotelaria, cinema, fábrica de gelo. Também foi o primeiro presidente da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu", explicou o neto. Pedro Basso (em pé, da esquerda para a direita) patrocinou time de futebol da cidade Arquivo pessoal/Pedro Basso Neto O professor de História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e autor de diversos títulos sobre a tríplice fronteira, Micael Alvino da Silva, destaca que o italiano era considerado imprescindível à região. “Na Segunda Guerra Mundial, alemães e italianos foram obrigados a sair da zona da fronteira, cerca de 80 famílias. Mas Pedro Basso foi um daqueles que as autoridades públicas fizeram documentos dizendo que a presença dele aqui, por conta do hotel, era imprescindível." A importância histórica de Pedro Basso à cidade rendeu a homenagem com o nome da rua, segundo neto. "Tinha uma chácara onde criava porcos e servia para os clientes do bar e do hotel dele. Era no loteamento onde está a avenida hoje. Nada mais justo do que a avenida do loteamento fosse Pedro Basso", explicou. 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