Audiência pública vai discutir crise leiteira no Paraná no próximo dia 21
Produtores enfrentam prejuízos com queda nos preços e impacto das importações de leite em pó. Mesmo afetado pelas importações, o Paraná produziu cerca de 4,6 bilhões de litros de leite em 2024

Eliane Alexandrino/Cascavel
A cadeia produtiva do leite no Paraná enfrenta um de seus momentos mais críticos. Os produtores rurais relatam prejuízos, endividamento e desespero diante da queda nos preços, enquanto os custos de produção continuam em alta. Mesmo durante o inverno período em que tradicionalmente ocorre um aumento no valor pago ao produtor.
A principal causa apontada para a crise é a importação de leite em pó, especialmente de países do Mercosul, que tem impactado diretamente a renda das famílias que vivem da atividade. “O momento é parecido com o vivido em 2023, quando o produto no supermercado tinha preço alto e o valor pago ao produtor era baixo, comprometendo a atividade, principalmente nas pequenas propriedades”, afirma o deputado Wilmar Reichembach (PSD), coordenador da Frente Parlamentar do Leite na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Preocupada com a situação que afeta uma das cadeias mais importantes para os pequenos agricultores do Estado, a Alep realizou no mês passado uma audiência pública para discutir medidas que evitem a concorrência desleal e apontem caminhos para a recuperação do setor. O encontro reuniu dezenas de produtores rurais, além de deputados, prefeitos e vereadores de diversas regiões do Paraná. “Estamos fazendo a nossa parte, mas é urgente que o Governo Federal se sensibilize e adote medidas efetivas em favor dos produtores de todo o país”, completou Reichembach.
Outro parlamentar que tem acompanhado o tema é o deputado Requião Filho (PDT), que pediu esclarecimentos ao Governo do Estado e ao Conseleite-Paraná (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Paraná) sobre a política de preços aplicada ao programa Leite das Crianças. Denúncias recebidas pelo deputado indicam que produtores estão recebendo até 25% abaixo do valor de referência, o que compromete a sustentabilidade da cadeia produtiva.
Segundo o Conseleite-Paraná, o preço de referência para setembro de 2025 é de R$ 2,41 por litro, mas produtores relatam pagamentos inferiores a R$ 1,80, valor insuficiente para cobrir os custos de produção. Requião Filho solicitou que a Casa Civil, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) e o Conseleite-Paraná apresentem relatórios, auditorias e dados que expliquem os critérios de definição dos valores pagos e a execução do programa.
“Queremos entender por que os valores pagos aos produtores estão tão abaixo do preço de referência. Essa prática inviabiliza a atividade rural, compromete a cadeia produtiva e coloca em risco o abastecimento do programa que garante o leite das nossas crianças”, afirmou o deputado.
O requerimento também questiona a mudança na forma de aquisição do leite para o programa estadual, que passou a priorizar usinas beneficiadoras cadastradas, em vez da compra direta dos pequenos produtores. Segundo o parlamentar, a modalidade anterior assegurava remuneração justa e estabilidade de renda às famílias do campo. Requião Filho pede ainda que o governo apresente relatórios detalhados de pagamentos, auditorias realizadas e medidas para garantir a remuneração adequada aos produtores.
“Precisamos garantir que o dinheiro público investido nesse importante programa social, criado no governo Requião, também fortaleça quem mais precisa. O pequeno produtor é responsável pelo sucesso do programa e não pode ser desvalorizado dessa forma”, destacou.
Programa Leite das Crianças – Criado pela Lei nº 16.385/2010, o programa distribui gratuitamente um litro de leite por dia a crianças de seis a trinta e seis meses pertencentes a famílias de baixa renda. A iniciativa é considerada fundamental no combate à desnutrição infantil no Paraná.
Vereadores cobram soluções
O vereador Rodolfo Revers (PSB), de Quedas do Iguaçu, representando os legislativos municipais, destacou a necessidade de uma ação conjunta entre os governos estadual e federal para recuperar a atividade leiteira. “A crise leiteira é um desafio regional e exige uma resposta rápida. Todos devemos trabalhar juntos para que as demandas do setor sejam atendidas de forma eficaz”, afirmou.
A presidente em exercício da Câmara de Quedas do Iguaçu, Carlise Priscila Kazmierczak (MDB), reforçou a importância do debate e da união entre os representantes da região. “Este debate é fundamental para que as questões que afetam os produtores de leite sejam tratadas com a urgência que merecem. A colaboração entre diferentes esferas é essencial para encontrar soluções eficazes e duradouras”, disse.
Mais ações
A audiência pública está marcada para o dia 21 de outubro, também na Alep, com a participação de representantes do governo, lideranças e produtores, para aprofundar o debate e construir soluções concretas para o setor.
Enquanto isso, tramita na Assembleia um projeto de lei que impede a transformação do leite em pó importado em leite líquido no Paraná, além de propostas que ampliam a compra de leite para abastecer creches, escolas e hospitais.
Mesmo afetado pelas importações, o Paraná produziu cerca de 4,6 bilhões de litros de leite em 2024, consolidando-se como o segundo maior produtor do país.
