Aos 68 anos, bailarina há mais tempo em atividade no Paraná relembra desafios e apresentação de lingerie nos anos 1970: 'Naquela época foi um boom'
Por Giuliano Saito
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Ana Maria Ferreira Silva integra o G2, companhia do Teatro Guaíra considerada a única master do Brasil. Artista completa 50 anos de carreira e destaca momentos marcantes nos palcos. Aos 68 anos, bailarina em atividade relembra desafios e apresentação de lingerie nos anos 1970 Arquivo Pessoal/Ana Maria Ferreira Silva A artista Ana Maria Ferreira Silva, de 68 anos, está há quase 50 anos nos palcos e é considerada a bailarina há mais tempo em atividade do Paraná. Ela coleciona momentos da carreira trilhada no Teatro Guaíra, em Curitiba. Marcada pela disciplina e dedicação, Ana faz parte do G2, a companhia master do centro cultural e única do tipo no Brasil. Os primeiros passos dados foram na então Fundação do Teatro Guaíra, aos 10 anos. Em 1973, aos 20 anos, ela foi contratada como servidora para ser bailarina do Balé Teatro Guaíra (BTG). "Abri mão de coisas na minha vida e não me arrependo. Sou uma profissional e uma mulher realizada", frisou. Ao g1, Ana contou que um dos momentos mais marcantes da carreira foi uma apresentação, nos anos 1970, na qual apareceu de lingerie e chocou os espectadores. "De repente a bailarina totalmente clássica vai dançar balé contemporâneo, começa com vestido e termina com lingerie. Naquela época foi um boom. Foi um momento marcante na minha vida. Eu fui e sou uma privilegiada por também ter feito esse tipo de trabalho em uma época que tudo era muito reservado", relembrou. Aos 68 anos, bailarina em atividade relembra desafios e apresentação de lingerie nos anos 1970 Arquivo Pessoal/Ana Maria Ferreira Silva Apoio da mãe O desafio de vencer os conservadorismos não se restringiu à apresentação de lingerie, mas também ao começo da carreira. A batalha foi enfrentada com o apoio da mãe, Adília Ferreira da Silva, hoje com 91 anos. "Meu pai falou: 'Como que minha filha vai fazer balé?' Imagina, naquela época, era um preconceito. Mas aí, minha mãe, uma mulher muito firme e determinada, sempre me prestigiou e me apoiou. Um super apoio. Foi e sempre será. Ela foi contra meu pai, contra tudo e todos", frisou. A gratidão faz parte do caráter da bailarina. De nome de professores a diretores com quem trabalhou, as lembranças de quem abriu portas e a incentivou permanecem vivas na memória de Ana. Ana Maria Ferreira Silva tem 68 anos e é bailarina ativa do Guaíra, em Curitiba Divulgação/Maringas Maciel/CCTG É o caso da amiga Rita, hoje dona de uma escola de dança em Curitiba. Foi dela o convite que levou Ana, ainda criança, a começar a fazer aulas na Escola de Dança do Teatro Guaíra. "Quando eu estava indo para o quarto ano da Escola de Dança, estava começando o Corpo de Baile da então Fundação. Eles começaram a chamar algumas pessoas para estagiar, e eu fui uma das escolhidas. [...] Foram tantas emoções. Depois de três anos de estágio, fui contratada como bailarina". O que ela define como "momento histórico" aconteceu em 29 de setembro de 1973. Hoje, a menos de seis meses de comemorar as bodas de ouro no balé, Ana tirou uma licença premium para refletir sobre os próximos passos na arte e na vida. Novos capítulos no G2 O G2 é um dos corpos artísticos do Teatro Guaíra e, assim como todo o centro cultural, é mantido pelo governo estadual. A companhia pública de dança foi formada há 23 anos. Hoje, o grupo conta com nove integrantes, que também foram bailarinos do Balé Teatro Guaíra. Segundo Ana, ela é a "jovem há mais tempo", com 68 anos. O mais novo tem 57. "Nós temos um trabalho diferenciado, porque esses corpos hoje em dia são corpos também diferenciados. Um histórico de dança, da dança clássica, que nunca sairá de nós. E fazemos uma dança teatro que faz com a gente busque a fala, o canto, e esse corpo se apresentar com dignidade para que o público sinta a mesma emoção que nós temos de estar no palco com essa idade", explicou. A ideia de criar uma companhia master surgiu a partir de inspiração em um grupo da Holanda. "Batalhamos, mostramos para a direção que bailarino não tem a durabilidade até os 34 anos, que a gente pode fazer, continuar e brilhar nessa carreira maravilhosa aos 40, 50, 60", contou. Os ciclos da vida Licenciada da companhia, Ana afirma que está refletindo sobre se ainda quer estar em cena. "É o momento de decisão, tudo na vida são ciclos", diz. De acordo com a bailarina, as decisões não têm relação com o fim de um amor, apenas com recomeços. Enquanto isso, Ana reforça o trabalho feito por ela e outros bailarinos buscando o respeito ao público. Ela também pretende deixar um legado aos novos artistas em busca do sonho, até porque, segundo a curitibana, se realizar na profissão é um privilégio. "Fazer aquilo que você gosta com amor, com disciplina, com respeito ao profissional que se é, é muito importante. [...] Se a gente está nessa profissão é porque a gente ama, então acredita e seja apenas você", afirmou. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 PR Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
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