Tarifaço: qual o prejuízo real que economia do Brasil vai sofrer?
O governo brasileiro calcula que aproximadamente 43% das exportações brasileiras aos EUA em 2024 não sofrerão com a nova tarifa, graças às exceções
Por Da Redação

O decreto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, trouxe um cenário de incertezas para a economia nacional. A medida, que entra em vigor em 6 de agosto, afetou diretamente diversos setores-chave da economia brasileira, especialmente os que exportam produtos como café, carne bovina, frutas, calçados e têxteis. No entanto, com cerca de 700 exceções previstas pelo governo dos EUA, como peças aeronáuticas e minérios, setores como o agronegócio e a indústria têxtil ficaram de fora da taxação.
O impacto do tarifaço não é homogêneo. O governo brasileiro calcula que aproximadamente 43% das exportações brasileiras aos EUA em 2024 não sofrerão com a nova tarifa, graças às exceções. No entanto, setores como o de carne bovina, café, frutas e têxteis sofrerão fortemente. A carne bovina, por exemplo, já enfrenta uma alíquota de 26,4% e verá a tarifa aumentar para 50%, afetando as exportações para o mercado norte-americano. Para a indústria cafeeira, a situação também é preocupante, uma vez que os Estados Unidos são um dos maiores destinos para o produto.
Diante dos impactos econômicos, os governos estaduais começaram a agir para minimizar os danos às empresas locais, especialmente as exportadoras. Quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, já anunciaram pacotes emergenciais.
São Paulo liberou R$ 1,5 bilhão em créditos de ICMS e ampliou a linha de crédito Giro Exportador de R$ 200 milhões para R$ 400 milhões. A medida oferece juros subsidiados e carência de até 12 meses.
Minas Gerais anunciou um pacote de R$ 300 milhões, incluindo monetização de créditos de ICMS e créditos com juros reduzidos via o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
O Paraná autorizou a liberação de créditos de ICMS para empresas e a suspensão de exigências fiscais, com previsão de R$ 400 milhões em financiamentos.
“Vai afetar diretamente a nossa região já que somos exportadores de carne. Vai afetar também exportadores de café, que não entraram nesse tarifaço. E esses itens que não entraram nessa lista do Trump, representam 50% do volume das exportações para o mercado americano. Isso tudo afeta de uma forma direta e indiretamente todos os setores”, Rui São Pedro, economista, ao comentar sobre a situação do Paraná.
O Rio Grande do Sul criou uma linha de crédito de R$ 100 milhões, com juros subsidiados, para empresas dos setores mais atingidos, como metalurgia, madeira e máquinas.
Além desses estados, o Ceará, um dos mais impactados devido à sua forte exportação para os EUA, está discutindo a liberação de créditos de ICMS, enquanto o Espírito Santo iniciou reuniões com setores como café e rochas ornamentais, buscando apoio emergencial. O Rio de Janeiro criou um grupo de trabalho para mapear os efeitos no setor de petróleo e aço, enquanto o Pará está monitorando os impactos no setor mineral e agrícola.
E o governo?
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o tarifaço é prejudicial, mas avaliou que a situação poderia ser pior. Ele classificou o decreto como um "melhor ponto de partida" para futuras negociações, embora tenha alertado para a necessidade de revisar alguns setores que foram afetados injustamente. Segundo Haddad, o governo está preparado para apoiar as empresas, embora o plano ainda não tenha sido completamente divulgado.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) já se manifestou sobre o impacto da nova tarifa sobre a carne bovina, afirmando que a medida comprometerá a viabilidade das exportações. Estima-se que a redução das exportações para os EUA possa afetar a produção no Brasil, com uma queda nos abates de gado.
Panorama Setorial
De acordo com cálculos da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), cerca de 43% das exportações brasileiras para os EUA não serão afetadas pelas novas tarifas, o que representa um alívio para setores como aeronáutico e minério. No entanto, o setor agrícola, em especial a carne bovina e o café, enfrentam desafios significativos.
A carne bovina, em particular, está sendo considerada um dos setores mais afetados. Os Estados Unidos, que compraram 229 mil toneladas de carne brasileira em 2024, são o segundo maior mercado para o produto. O aumento da tarifa pode reduzir a demanda por carnes mais baratas, como a parte dianteira do boi, afetando diretamente os pecuaristas. A expectativa é de que a redução nas exportações leve a uma queda temporária nos preços, mas que o custo da carne no Brasil suba no médio prazo devido à diminuição do número de abates.
“Em um primeiro momento esses produtos que não serão exportados para o mercado americano, ficarão no mercado interno. E a tendência é reduzir os preços para fazer o consumidor comprar mais esses produtos por um curto período de tempo. E a consequência é que em um espaço de tempo mais longo os preços voltarem a normalidade”, explicou o economista Rui São Pedro.
No setor de café, a tarifa pode tornar o produto brasileiro menos competitivo no mercado norte-americano, um dos maiores consumidores de café do mundo. Especialistas apontam que o Brasil, como principal fornecedor, pode tentar redirecionar suas exportações para outros mercados, mas a perda do mercado dos EUA é difícil de compensar rapidamente.
“Teve empresas dando férias coletivas por tempo indeterminado, e se esse tarifaço realmente se manter, vai ter empresa fazendo demissão em massa. Acredito que o governo federal juntamente com o governo estadual teria de fazer comitivas e sair no mercado tentando colocar esses produtos que iriam para o mercado americano, no mercado mundial como União Europeia, continente Europeu, norte da África, Oriente Médio, Leste Europeu”, frisou o economista.
Em meio a tudo isso, a negociação com os EUA continua, e o Brasil terá que se adaptar rapidamente às novas condições do mercado global.
