Eleição na Câmara: o jogo dentro e fora das quatro linhas
Os números, as rivalidades e os bastidores da eleição para a presidência da Câmara de Cascavel
Futebol e política não se misturam? São duas vertentes diferentes, mas que despertam sentimentos parecidos e mexem muito com o ego das pessoas envolvidas. Futebol e política se misturam, sim!. Gosto de fazer analogias de situações dentro do futebol com a política. Exemplos: a presidência da Câmara dos Vereadores de Cascavel é como se fosse a Libertadores para os times de futebol. Todos querem conquistá-la. Isso porque, tendo esse “título”, você automaticamente fica “grandão” para disputar o mundial de clubes — ou, no caso da política, para ser considerado um candidato forte à prefeitura de Cascavel. Hipóteses.
E tem mais uma analogia, que é ainda mais interessante. Como corinthiano, esse exemplo é difícil de aceitar, mas é válido. Em 2015, o atacante peruano Paolo Guerrero disse que, no Brasil, só jogaria no Corinthians. Meses depois, acertou contrato com outro time brasileiro: o Flamengo. Isso foi visto como uma traição pela torcida corinthiana. Até hoje dói.
Cá estamos levando esse exemplo para, novamente, a eleição da presidência da Câmara dos Vereadores de Cascavel. Tiago Almeida é a figura que tem a palavra. Dezesseis vereadores deram sua palavra a ele: “Presidência da Câmara? Só apoio você”. Até jantares reunindo os apoiadores de Tiago foram realizados.
Mas, imagine se esses dezesseis vereadores que prometeram apoio decidirem fazer como Paolo Guerrero fez: trocar de lado ou mudar de ideia. E ir para outro caminho. Pode acontecer.
A menos de um mês para a eleição da nova mesa diretora da Câmara Municipal de Cascavel, os bastidores na Câmara de Vereadores estão quentes. Os boatos começaram logo após a eleição e vêm ganhando força à medida que o dia 1º de janeiro de 2025 se aproxima, data marcada para a escolha do novo presidente do Legislativo.
A disputa pelo comando da Casa no biênio 2025/2026 já conta com dois nomes. De um lado, Tiago Almeida (Republicanos), que inicialmente assegurou 16 promessas de votos após a eleição entre um grupo de vereadores reeleitos e eleitos de primeira viagem. A articulação foi estrategicamente conduzida pelos vereadores Edson Souza e Dr. Lauri Silva, ambos do MDB e opositores de Renato Silva durante a campanha eleitoral. Do outro lado, Alécio Espínola (PL), atual presidente da Câmara, que recebeu garantia durante a pré-campanha de que seria o candidato da prefeitura, caso o grupo elegesse Renato Silva (PL) como prefeito.
Enquanto Tiago trabalha para manter seu grupo unido, rumores indicam que outros nomes podem entrar na disputa, formando novas chapas para concorrer à presidência. Mas a conversa que surge na Câmara, é de que ninguém quer um grupo opositor ao prefeito – discurso este, voltado para os vereadores do MDB -. Isso tem alimentado conversas e articulações que ameaçam fragmentar o grupo de apoio a Tiago Almeida.
O prefeito eleito, Renato Silva, declarou apoio à continuidade do atual presidente Alécio Espínola. “Deixei claro que o meu candidato é o presidente atual da Câmara, Alécio. Gostaria que todos buscassem o entendimento para o bem comum. Respeito o legislativo como um poder independente, mas acredito no diálogo e no bom senso para alcançar o melhor resultado para a cidade”, diz Renato.
Alécio Espínola aposta na gratidão do prefeito eleito e do atual prefeito Leonaldo Paranhos. “Três dias antes do registro das candidaturas, fui chamado por Renato Silva e Paranhos. Eles se comprometeram, como forma de gratidão, a me apoiar para ser o presidente da Câmara. Na época, eu estava dois pontos à frente do Renato nas pesquisas para prefeito, mas decidi abrir mão da disputa e dar meu apoio a ele”, afirmou Alécio. Ele reforça que sua gestão será pautada por eficiência, transparência e economia, características que, segundo ele, marcaram seus seis anos à frente do Legislativo.
Outros nomes?
Conforme as discussões avançam, surge a possibilidade de nem Tiago Almeida nem Alécio Espínola serem os escolhidos para liderar o Legislativo no biênio 2025/2026. A relação de Tiago com os articuladores de sua candidatura, Edson Souza e Dr. Lauri Silva, tem gerado desconforto dentro do grupo, o que pode levar a sua desarticulação.
Surge então a possibilidade de o vereador reeleito Carlos Xavier (Republicanos), também do grupo de Renato Silva, se tornar o candidato a presidente. Entretanto, essa movimentação pode comprometer os acordos firmados por Tiago Almeida com membros do grupo de 16, que incluem distribuição de comissões, como a CCJ e Finanças, além de promessas de cargos no Executivo e Legislativo. Carlos Xavier, em entrevista à Gazeta do Paraná, destacou que mantém o apoio a Tiago Almeida, apesar de seu nome ser cogitado para a presidência. “Nesse momento, temos um grupo de apoio ao vereador Tiago Almeida. Fico feliz com meu nome sendo citado, mas, para não dividir o grupo, permaneço com o apoio firmado anteriormente. Permanecemos unidos!”, afirmou.
Além disso, o vereador Mazutti (PL) também sinalizou interesse em presidir a Câmara. Em conversa com a reportagem da Gazeta do Paraná, Mazutti afirmou: “A maioria dos vereadores gostaria de estar na presidência. Muitas vezes, esperamos o momento certo para nos manifestarmos. Com a disputa entre Alécio e Tiago, acredito que podemos muito bem ter uma terceira via. Desde o meu primeiro mandato, venho buscando viabilizar meu nome, quem sabe agora seja o momento”.
Entre as movimentações, o vereador Policial Madril (PP) também surge como um potencial candidato à presidência. Madril, que já conversa com outros parlamentares sobre a formação de uma chapa, destacou ao blog de Luiz Nardelli, na Catve, sua intenção de liderar um Legislativo independente, livre de conchavos políticos e sem subserviência à Prefeitura. “Estou trabalhando para me lançar candidato e formar uma chapa que realmente represente a mudança que todos pregam”, afirmou.
Por outro lado, o vereador Lauri Silva (MDB) manifestou apoio à candidatura de Tiago Almeida, apontando-o como o nome ideal para liderar o legislativo. “Entendemos que Thiago é a figura que bem representará o poder legislativo no próximo biênio. Ele se consolida como uma nova liderança, e por uma questão de bom senso, optamos por apoiá-lo. Acredito na força da palavra e no compromisso assumido por homens que honram o que dizem. Eu, ao menos, cumprirei o meu compromisso”, declara.
A eleição para a presidência da Câmara de Cascavel está marcada para o dia 1º de janeiro de 2025, logo após a posse dos vereadores eleitos. A sessão será presidida inicialmente por Thiago Almeida, vereador mais votado neste pleito, com 4.243 votos. A escolha do próximo presidente será decidida por maioria simples.