Paraná se divide após prisão de Bolsonaro: quem defende, quem ataca e quem calcula
A prisão de Bolsonaro expôs fraturas na política paranaense, dividindo aliados, opositores e oportunistas, enquanto o eleitor conservador do estado começa a redefinir seus rumos para 2026
Por Gazeta do Paraná
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A prisão preventiva de Jair Bolsonaro colocou a política paranaense diante de um espelho desconfortável. No estado onde o ex-presidente sempre encontrou seu eleitorado mais fiel, o impacto político foi imediato, e absolutamente desigual. Governador, senadores e deputados federais reagiram em quatro eixos claros: a ala de defesa intransigente, a crítica moderada ao Judiciário, a oposição que celebrou a decisão, e um quarto grupo que preferiu não se comprometer, transformando a prisão em pauta de engajamento, pedindo “a opinião do povo”.
Cada postura revela não apenas preferências ideológicas, mas sobretudo cálculos eleitorais. Em ano pré-2026, ninguém quer pisar em falso num estado em que Bolsonaro foi predominante, mas também ninguém ignora que, pela primeira vez, ele se encontra em seu momento mais frágil.
O bolsonarismo-raiz
Entre os que correram imediatamente a defender o ex-presidente, o tom foi emocional, religioso e persecutório - linguagem típica do núcleo duro bolsonarista.
O sargento Fahur lamentou: “A notícia que eu não queria dar, nosso capitão foi preso! Mas não vamos desistir… estamos com Bolsonaro.”
Luiz Nishimori reforçou o discurso de lealdade pessoal: "Nosso eterno Presidente, Jair Bolsonaro, o senhor não está sozinho nesta batalha.”
Stephanes Júnior elevou a retórica da injustiça: “Essa injustiça não pode permanecer. Eu, como Deputado Federal do Brasil, não vou me calar.”
Filipe Barros apelou à dimensão religiosa: “Se a oração incomoda tanto, então vamos rezar o dobro. Que Deus venha em socorro do nosso presidente.”
Rodrigo Estacho seguiu a linha da perseguição: “Mesmo em prisão domiciliar e com a saúde debilitada, [Bolsonaro] segue sendo alvo de perseguição.”
Esses parlamentares falam diretamente ao eleitor bolsonarista mais fiel - o que, no Paraná, ainda representa uma fatia considerável.
Os críticos moderados
Uma segunda ala optou pelo meio-termo: defende Bolsonaro, mas evita confrontos diretos com o STF. É a retórica jurídica, moderada e calculada.
Pedro Lupion escreveu: “Nada justifica decisões que coloquem em risco a vida de qualquer brasileiro.” E completou: "O quadro de saúde dele é grave e amplamente conhecido e a negativa de prisão domiciliar ignora esse fato.”
O senador Sergio Moro foi técnico: “Não há motivos para tirá-lo da prisão domiciliar.”
Felipe Francischini destacou a condição clínica: “É absurdo ver o ex-presidente Bolsonaro ser preso mesmo após apresentar laudos que apontam um estado de saúde delicado.”
O governador Ratinho Jr. também se alinhou, embora mantendo a cautela institucional: "A prisão demonstra insensibilidade do Poder Judiciário. Ao ex-presidente e aos seus familiares, minha solidariedade.”
Nenhum deles confronta o Judiciário de maneira aberta, mas todos acenam ao eleitorado conservador - que, no Paraná, ainda dita o ritmo da política.
Os que celebraram
Na outra ponta, a oposição paranaense leu a prisão como vitória institucional.
Zeca Dirceu foi direto: “GRANDE DIA!”
Tadeu Veneri afirmou: "Bolsonaro está preso! Um passo importante para a democracia e para o país.”
Lenir de Assis adicionou densidade política ao debate: “Comparar a prisão de Bolsonaro com a de Lula é manipulação política […] A lei vale para todos.”
Esses discursos falam à base progressista - minoritária no estado, mas mobilizada.
Os que “jogaram para a torcida”
Um quarto grupo emergiu com força: os que transformaram a prisão de Bolsonaro em estratégia de engajamento, levantando o assunto e pedindo “a opinião do povo”, evitando tomar posição clara.
O deputado Luciano Alves publicou: “Qual sua opinião?" acompanhado da contextualização do caso e da pergunta aberta ao público.
Outro caso emblemático é a estrutura usada por deputadores que replicaram a narrativa da prisão seguida de um convite ao engajamento, como na postagem que pergunta: "Você está sabendo disso? Qual sua opinião? Deixe nos comentários!”
Essa estratégia, aparentemente neutra, funciona como termômetro eleitoral: mede o humor das bases, identifica riscos e permite ao parlamentar ajustar seu discurso nos dias seguintes.
É a política do “esperar e ver”, movida por um cálculo simples: por ora, não se comprometer pode render mais do que se posicionar.
Os que silenciaram
Há ainda os que optaram por não dizer nada. No Paraná, o silêncio é sempre mais político do que casual. Significa evitar atrito com o eleitorado conservador ou ver para onde a opinião pública pende. Afinal, em um cenário de incerteza, silêncio também é estratégia.
O eleitor decide: continuar com Bolsonaro ou buscar novo líder? O ponto central, que os analistas têm destacado, é o impacto eleitoral: o eleitor paranaense continua fiel a Bolsonaro, mas por quanto tempo?
A prisão, a inelegibilidade e o desgaste progressivo criam um cenário inédito. Pela primeira vez, figuras da direita tradicional avaliam se é mais prudente continuar defendendo Bolsonaro, para manter a base mobilizada; ou começar a pular do barco, buscando renovação dentro do próprio campo conservador.
Parlamentares que jogaram para a torcida estão, justamente, testando esse limite. O Paraná mostrou um retrato político dividido, mas menos previsível do que antes.
O estado reagiu em quatro blocos claros: defesa, crítica moderada, celebração e cálculo eleitoral. Mas o elemento mais importante talvez seja o que a política não controla: a reação do povo.
O humor do eleitor paranaense, fiel a Bolsonaro por tantos anos, será, agora, o fator decisivo. E é essa incerteza que está guiando cada gesto, cada silêncio, cada frase calculada.
Créditos: Bruna Bandeira
