Ouça os novos áudios que expõem entrega de dinheiro, pedidos de campanha e uso de chantagem nos bastidores da Sanepar
Gravações divulgadas pela oposição detalham valores, prazos e entrega de dinheiro em espécie, citam arrecadação para a campanha de Ratinho Jr. e indicam uso de áudios como moeda de pressão e barganha por cargos
Por Gazeta do Paraná
Créditos: Geraldo Bubniak/AEN
A divulgação de novos áudios pela oposição da Assembleia Legislativa do Paraná adiciona camadas decisivas ao escândalo que envolve a Sanepar e o governo estadual. Se as gravações reveladas anteriormente já indicavam a existência de um esquema de arrecadação paralela para campanhas eleitorais, o material agora apresentado aprofunda a narrativa ao expor valores, prazos, entregas em dinheiro vivo, depósitos bancários e o uso de áudios como instrumento de pressão e chantagem. A leitura do conjunto aponta para uma engrenagem mais organizada do que se supunha, com personagens recorrentes e consciência explícita dos riscos legais.
A apresentação dos novos trechos foi feita pelo deputado Arilson Chiorato, líder da oposição, que abriu a divulgação afirmando que os áudios acrescentam “novos capítulos” a uma história que já era conhecida, mas nunca plenamente esclarecida. Para o parlamentar, as gravações ajudam a explicar por que a companhia enfrenta sucessivos problemas operacionais enquanto, nos bastidores, conversas indicam circulação de recursos para fins eleitorais. Em tom crítico, ele contrapôs a escassez de água em diversas regiões do Estado à fartura de dinheiro mencionada nas conversas ligadas à campanha.
Os diálogos trazidos a público são diretos. Em um dos trechos, interlocutores negociam quantias fracionadas, combinam datas e horários e tratam da entrega do dinheiro em espécie, com menções a saques bancários realizados por terceiros para viabilizar a operação. As falas indicam pressa, divisão de valores e preocupação com o fechamento das entregas dentro de prazos rígidos, elementos que reforçam a suspeita de arrecadação fora dos canais oficiais. O fato de o dinheiro circular em espécie, segundo especialistas ouvidos em reportagens anteriores, é um dos sinais clássicos de tentativas de ocultação de origem.
À medida que os áudios avançam, o foco se desloca para o centro do poder político. Há menções explícitas à necessidade de levantar R$ 200 mil para a campanha do governador Ratinho Júnior, com a articulação sendo atribuída ao então secretário e hoje figura central nas denúncias, Guto Silva. As conversas sugerem que o pedido não era pontual nem isolado, mas parte de uma mobilização mais ampla, envolvendo diferentes pessoas e ocorrendo, inclusive, antes da formalização de nomeações dentro da estrutura administrativa. A lógica que emerge é a da cobrança antecipada de lealdade política, vinculada a cargos e espaços de poder.
Em outro momento, os interlocutores demonstram preocupação com depósitos bancários identificáveis. Três transferências específicas são citadas como fatos que precisariam ser explicados, e surgem referências a pedidos de extratos e ao temor de que determinadas operações “respingassem” em terceiros. O diálogo revela não apenas a existência de movimentações financeiras sensíveis, mas também uma tentativa clara de construir narrativas defensivas, separando esses depósitos de qualquer repasse regular ou compromisso formal.
As gravações também ajudam a reconstruir a rede de relações que sustenta o esquema. Personagens relatam como se conheceram dentro da Sanepar, mencionam aproximações ocorridas entre 2017 e 2018 e falam abertamente sobre o engajamento de alguns deles nas campanhas do governador e de seus aliados. Em um dos trechos, a ajuda financeira à campanha é tratada como algo natural, quase esperado, reforçando a impressão de que a fronteira entre gestão pública e articulação eleitoral teria sido sistematicamente borrada.
O ponto mais grave do novo material surge quando a conversa envereda para o terreno da chantagem. Há menções explícitas ao uso de gravações como moeda de troca para garantir permanência ou retorno a cargos públicos. Um interlocutor afirma possuir áudios que comprovariam pedidos de dinheiro e ameaças, dizendo que pretende entregá-los para se proteger ou negociar sua situação. Em outro trecho, o uso de gravações envolvendo pedidos de recursos para campanha aparece como estratégia deliberada para forçar uma recondução, criando precedente para que outros também reivindiquem o mesmo tratamento. A lógica descrita não é a da denúncia imediata às autoridades, mas a da utilização das provas como instrumento de barganha interna.
No encerramento do material divulgado, surge a referência mais impactante até agora: a afirmação de que R$ 600 mil teriam sido entregues “em mãos”, segundo relato atribuído a um terceiro. Embora o áudio não detalhe datas ou locais, a simples menção amplia significativamente a dimensão financeira do caso e reforça a necessidade de uma apuração aprofundada e independente.
Esses novos áudios se somam às revelações anteriores que levaram a oposição a acionar Polícia Federal, Tribunal Superior Eleitoral e outros órgãos de controle, além de cobrar explicações formais do governo estadual. Se antes o debate girava em torno de indícios e suspeitas, agora o material traz detalhes operacionais: valores exatos, métodos de entrega, preocupação com rastreamento, personagens identificáveis e estratégias de ocultação.
Enquanto o governo insiste em classificar o episódio como algo do passado, as gravações recém-divulgadas apontam para continuidade, organização e consciência dos riscos por parte dos envolvidos. Longe de encerrar o caso, os novos áudios indicam que a história da Sanepar ainda está em pleno desenrolar — e que, como sugerem as próprias falas captadas, há mais capítulos por vir.
Ouça abaixo os novos áudios.
Créditos: Redação
