pref santa tereza Setembro 2025

Moradores do Santa Felicidade reclamam de isolamento após obra na Rua Souza Naves

Santa Felicidade conta com apenas dois acessos, e um deles agora foi inviabilizado com as mudanças no Trevo da Petrocon

Por Da Redação

Moradores do Santa Felicidade reclamam de isolamento após obra na Rua Souza Naves Créditos: Secom

As recentes obras de mobilidade em Cascavel, como a nova ponte sobre o Rio Quati e a revitalização do viaduto da Petrocon, trouxeram fluidez ao trânsito e alívio para quem vive no bairro XIV de Novembro. No entanto, as intervenções acabaram criando uma nova dificuldade para os moradores do bairro vizinho, Santa Felicidade, que passaram a enfrentar obstáculos no acesso ao bairro, sentindo-se praticamente “ilhados” diante das mudanças.

Com a reconfiguração do entroncamento da Avenida Souza Naves, quem precisa chegar ao Santa Felicidade agora é obrigado a entrar primeiro no XIV de Novembro, realizar um looping por quadras internas e depois retornar até a marginal da BR-277 para, só então, alcançar o bairro. Esse trajeto acrescenta em média cinco minutos ao deslocamento, segundo relatos de moradores. Para quem precisa sair do bairro rumo à BR-277 no sentido Foz do Iguaçu, o cenário não é diferente: é preciso acessar o Parque São Paulo e só depois alcançar a rodovia. O tempo adicional chega a dez minutos, o que, em situações de emergência, pode ser crucial.

Além dessa dificuldade, a revitalização da Rua Rio da Paz, localizada na “outra ponta” do bairro, também tem afetado o deslocamento. A soma de obstáculos tem gerado a sensação de isolamento. “O bairro Santa Felicidade demonstra estar vivendo uma situação de isolamento que gera prejuízos significativos à população local, especialmente em serviços de urgência e emergenciais”, desabafou uma moradora em postagem nas redes sociais, que viralizou e recebeu apoio de centenas de moradores da região.

Solução lenta

A busca por alternativas não é novidade. Há anos, a ligação pela Avenida das Torres, entre o Santa Felicidade e o XIV de Novembro, é mencionada como solução viável, mas nunca saiu do papel. Para viabilizá-la, seria necessária a desapropriação de parte do terreno da Petrocon, empresa instalada entre os dois bairros, o que trava o avanço.

Outra medida discutida seria a criação de um acesso por agulhamento diretamente da BR-277, que depende tanto da concessionária EPR Iguaçu, responsável pelo trecho, quanto do aval do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Contudo, como se trata de rodovia federal, a tramitação tende a ser lenta.

Ainda há um terceiro pedido da comunidade: a construção de uma trincheira ligando o Santa Felicidade ao bairro Parque São Paulo, obra considerada estratégica para integrar a região oeste de Cascavel ao restante da cidade. Essa alternativa, porém, não consta no contrato de concessão da rodovia, o que aumenta a complexidade para viabilizar recursos.

Requerimento aprovado na Câmara

Diante do impasse, a Câmara de Vereadores aprovou por unanimidade o Requerimento nº 485/2025, de autoria do vereador Tiago Almeida (Republicanos), que solicita a destinação de emendas parlamentares para viabilizar a trincheira no km 591 da BR-277. O documento foi encaminhado aos deputados federais Nelsinho Padovani (União Brasil), Diego Garcia (Republicanos), Giacobo (PL), Dilceu Sperafico (PP), Elton Welter (PT), Sargento Fahur (PSD) e Carol Dartora (PT).

Na justificativa, Almeida destacou que a obra é essencial para reduzir riscos de acidentes, melhorar a mobilidade e garantir segurança. “A ausência de infraestrutura adequada compromete não apenas o trânsito, mas também o atendimento a situações de urgência. Uma trincheira permitirá maior fluidez, menos congestionamentos e atendimento mais rápido em emergências”, escreveu o parlamentar.

Os moradores argumentam que a situação ultrapassa o mero incômodo no trânsito, alcançando direitos constitucionais. A moradora que publicou o texto de denúncia citou o direito de ir e vir e o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamentos que estariam sendo desrespeitados pelo isolamento do bairro.

Ela lembrou ainda que o Santa Felicidade, com população de 16.843 habitantes segundo o IBGE de 2022, não pode ser ignorado em obras de mobilidade. “Não se trata de poucas pessoas inconvenientes, mas sim de uma parcela expressiva de cidadãos que se veem em situação de desvantagem”, afirmou.

A preocupação maior está nos serviços de saúde e emergência. Hospitais de referência como o HUOP e a UPA Tancredo dependem de acesso rápido pela BR-277. “Esse atraso de 10 minutos, em horários comuns, pode parecer pequeno, mas é inadmissível quando falamos de situações de urgência e emergência, ambulâncias, socorro médico, bombeiros, etc. Mais tempo para acesso ou saída pode representar risco de vida”, alertou.

A Gazeta do Paraná questionou a Secretaria de Serviços e Obras Públicas quanto as reclamações dos moradores do Santa Felicidade. O município se manifestou por meio de nota sobre o assunto, mas não deu nenhum indício de que soluções serão dadas aos moradores do bairro de forma imediata. Confira a nota:

“A Secretaria de Serviços e Obras Públicas informa que a ponte é a primeira fase de um grande projeto de mobilidade.

A segunda etapa, já autorizada, contempla o alargamento das ruas Souza Naves Sul e Octávio Silveira Siqueira, dentro do bairro XIV de Novembro.

A terceira etapa, em fase de projeto, prevê a continuação do binário da Rua Souza Naves, da Rua General Osório até o Viaduto, além da implantação do novo viaduto, contemplando a duplicação da rodovia BR-277.

As agulhas também já foram solicitadas à Concessionária EPR. Está em andamento também a licitação da Rua Cabo Clodoaldo Ursulano, que além de alargada, também terá pavimentação asfáltica revitalizada. O processo já está em andamento, inclusive marcado para o fim de outubro.”

Enquanto a ponte do 14 de Novembro é vista como conquista para a cidade, no Santa Felicidade ela é interpretada como exemplo de planejamento urbano que desconsiderou os efeitos colaterais sobre um bairro inteiro. Por enquanto, a sensação dos moradores é de que, apesar dos avanços em Cascavel, parte da população ficou para trás.

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