Itaipu irá injetar R$ 752 milhões no "esqueleto" das obras da Unila, em Foz do Iguaçu
Por muitas vezes, a Unila tem sido criticada pela sua postura ideológica e muitos consideram a universidade uma espécie de “fábrica de extremistas da esquerda”
Por Gazeta do Paraná

A Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu está prestes a liberar a quantia de R$ 752 milhões para o campus Arandu da Unila (Universidade Federal Latino-Americana). A “bagatela” vem “salvar” as obras paralisadas desde 2014 no campus da universidade. Depois de milhões investidos, boa parte da obra continua um esqueleto a céu aberto.
O projeto foi idealizado pelo governo Lula no seu segundo mandato, mas não seguiu adiante devido a problemas estruturais e aumento de custos na época, o que gerou um impasse e atraso na concretização do mesmo. Quase dez anos depois, a Itaipu se prepara para financiar a retomada das obras com valores milionários. O novo projeto prevê a construção de um restaurante universitário, um prédio administrativo, além de um novo bloco de salas de aula.
A Gazeta do Paraná questionou a Itaipu sobre o valor destinado apenas à instituição da Unila. “Com relação à Unila, a obra será custeada com recursos destinados pela Itaipu Binacional, conforme pactuado pela direção da hidrelétrica e o Governo Federal. O convênio não altera nenhum aspecto da gestão acadêmica, administrativa e financeira da Universidade, que segue autônoma, como previsto pela Constituição Federal”, afirma a Binacional.
A empresa também destacou que, desde o início, a Itaipu e o Governo Federal foram parceiros na idealização da Unila, que nasceu dentro do então Parque Tecnológico Itaipu (hoje Itaipu Parquetec). A usina cedeu a área para a construção do campus Arandu e agora apoia a finalização do projeto.
“A Itaipu, por ser binacional, é simbólica para os processos de cooperação entre os países do Mercosul. A vocação internacional da Unila promove o desenvolvimento da região da tríplice fronteira, causando um impacto econômico bastante positivo para Foz do Iguaçu. A área onde se encontra o futuro campus fica ao lado da entrada da Usina, em um espaço integrado, o que promoverá também grande incentivo ao turismo nas áreas da Binacional”, destaca.
Nossa reportagem também questionou a Itaipu sobre os valores já destinados à Unila desde o início dos trabalhos na universidade. A empresa disse que doou o terreno do futuro campus Arandu, financiou o projeto arquitetônico e atualmente está financiando a reconstrução, sendo que os valores detalhados dependem de estudos e atualizações financeiras.
Retomada das obras
A obra, cujo projeto é de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, deve iniciar no próximo mês de abril, com previsão de entregas em duas fases ao longo de dois anos. A gestão da obra está a cargo do UNOPS na sigla em inglês (tradução: Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos). Todos os procedimentos seguirão as melhores práticas internacionais em infraestrutura e contemplarão aspectos de sustentabilidade, gênero, diversidade e inclusão.
A retomada das obras do Campus Arandu da Unila foi viabilizada por meio de um acordo de cooperação internacional entre a Itaipu e a Unops. O Ministério da Educação e a Itaipu responderam que o valor da obra na universidade inclui custos de revisão dos mais de 3 mil projetos executivos da obra, e a Unops é quem conduz o mesmo.
Segundo a Itaipu, esses aportes vão desde a formação de profissionais como em infraestrutura, por meio da instalação de placas solares e biodigestores para escolas nos municípios do Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul. “A Itaipu tem auxiliado na construção de laboratórios e espaços nos institutos federais de educação dos dois estados e, inclusive, investido na capacitação de educadores por meio do maior programa de qualificação de servidores municipais no país, o AMP 4.0. A Itaipu apoia o desenvolvimento de tecnologia e a produção do conhecimento por meio de sua Fundação Parquetec, que possui inúmeras parcerias universitárias em benefício do território impactado pelo empreendimento”, destaca a binacional.
O Programa de Extensão para Sustentabilidade Territorial, também é ofertado através de uma parceria entre a Itaipu Binacional, o Itaipu Parquetec e 16 Instituições de Ensino Superior (IES), entre elas as estaduais de PR e MS.
O objetivo do programa é apoiar projetos de extensão universitária que contribuam para a comunidade e fortaleçam a relação entre a universidade e a sociedade, com projetos focados em temáticas de educação ambiental, por exemplo.
Nacionalidades dos estudantes da Unila
A universidade começou a ser estruturada em 2007 pela IMEA (Comissão de Implantação com a Proposta de Criação do Instituto Mercosul de Estudos Avançados) ainda no governo do presidente Lula. Na época, o Projeto de Lei foi aprovado por unanimidade, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal. E foi em janeiro de 2010 que a Lei nº 12.189 foi sancionada.
A Gazeta do Paraná apurou que estudantes de outras nacionalidades que não fazem parte dos países que compõem a América Latina ingressaram na universidade. Como alunos do Japão, Síria, China, EUA, Paquistão e do Togo (país da África Ocidental). Mas a Unila justificou que existe uma modalidade de ingresso específica para pessoas refugiadas e portadoras de visto humanitário, por exemplo. Para o próximo ano letivo em 2026 serão disponibilizadas 114 vagas para a mesma modalidade.
Segundo a assessoria da Unila, hoje, a universidade conta com 4.214 alunos distribuídos em 29 cursos de graduação e 853 que frequentam os 13 programas de especializações (incluindo 2 doutorados). A instituição conta com 421 docentes, 548 servidores técnico-administrativos e 79 terceirizados. A última atualização referente a nacionalidade dos estudantes foi feita em 2023, portanto, atualmente são mais de 30, e o Brasil lidera o número de alunos.
Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, Equador, Panamá, Peru, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Colômbia, Venezuela, Haiti, República Dominicana, Cuba, Honduras, Estados Unidos, Belize, México, Síria, Gana, Togo, Benin, Congo, Angola, Guiné-Bissau, Paquistão, Japão e China.
A mesma afirmou que a educação tem um papel estratégico para o desenvolvimento de um país e a Itaipu apoia iniciativas para promoção de ensino de qualidade em diversas esferas, em âmbito municipal, nacional ou federal.
Filha do líder chavista Cabello ingressou na Universidade
Por muitas vezes, a Unila tem sido criticada pela sua postura ideológica e muitos consideram a universidade uma espécie de “fábrica de extremistas da esquerda”. Em 2017, o deputado federal Sérgio Souza (MDB) chegou a sugerir o fechamento da instituição para alunos estrangeiros. O perfil de alguns de seus alunos, ou que tentaram fazer parte da instituição, mostra que a universidade atrai até figuras ligadas a importantes personagens políticas da esquerda latino-americana. Em 2016, por exemplo, a cantora pop venezuelana Daniella Desiree Cabello Contreras, filha de Diosdado Cabello, um dos líderes chavistas mais poderosos da Venezuela e estreito aliado do regime de Nicolás Maduro, ingressou na instituição. Ela não chegou a fazer o curso. Embora tenha desistido de cursar Ciências Políticas, sua presença na universidade pode representar um exemplo das conexões ideológicas que a Unila atrai.