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Guaratuba sofre com instabilidade na rede elétrica da Copel

Transtornos, relatados por moradores e comerciantes locais, se intensificaram nos últimos meses e geram prejuízos para a economia e o bem-estar da população

Por Bruno Rodrigo

Guaratuba sofre com instabilidade na rede elétrica da Copel Créditos: Copel

A cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, vive um cotidiano marcado por instabilidade elétrica, aumentos inesperados nas faturas e interrupções recorrentes no fornecimento de energia. Os transtornos, relatados por moradores e comerciantes locais, se intensificaram nos últimos meses e geram prejuízos para a economia e o bem-estar da população.

As dificuldades enfrentadas por Guaratuba são reflexo de uma crise mais ampla vivida pela Copel Distribuição, responsável pelo fornecimento de energia em grande parte do estado. De acordo com informações divulgadas pelo Jornal Plural, a companhia encerrou 2024 como uma das três piores concessionárias de energia elétrica do Brasil, segundo o mais recente ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A pesquisa anual da Aneel avalia o desempenho das distribuidoras com base em dois indicadores principais: a duração e a frequência das interrupções no serviço, reunidos no chamado Desempenho Global de Continuidade (DGC). No ranking de 2024, a Copel aparece na 29ª colocação entre 31 concessionárias de grande porte — posição que a coloca atrás de quase todas as distribuidoras do país, superando apenas a Equatorial (GO) e a CEEE (RS).

Em 2021, a Copel ainda figurava entre as dez melhores do Brasil, ocupando a 10ª colocação. Desde então, a trajetória foi de queda acentuada: 22ª em 2022, 25ª em 2023 e agora entre as últimas. A piora coincide com a privatização da companhia, oficializada em 2023, e tem levantado dúvidas sobre os impactos da nova gestão na qualidade do serviço prestado.

Em Guaratuba, os efeitos são sentidos na prática. Os relatos são de que quedas de energia tem sido frequentes e sem explicações. Moradores relatam ter perdido eletrodomésticos e alimentos, além de prejudicar negócios do empresariado.

A insatisfação dos consumidores paranaenses ganhou eco também na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), onde deputados estaduais têm cobrado explicações da direção da empresa. Em março, durante uma audiência pública, entidades como a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares (Fetaep) apresentaram um documento exigindo ações imediatas da companhia, como compensações financeiras, melhoria da infraestrutura e abertura de canais eficazes de atendimento.

Casos de prejuízo em razão das quedas de energia se multiplicam. De acordo com a deputada Luciana Rafagnin (PT), apenas em março deste ano, 60 toneladas de tilápia foram perdidas em criadouros na região Oeste, enquanto 707 frangos morreram em Sulina, no Sudoeste, após um blecaute de dez minutos. Dados apresentados na Alep indicam que, em 2023, a Copel recebeu 28 mil pedidos de indenização por danos causados por falhas no fornecimento, menos de 25% foram atendidos.

A direção da Copel, presidida por Daniel Pimentel Slaviero desde 2019, afirma que o desempenho da empresa não é adequadamente refletido pelo ranking da Aneel. Em nota enviada à imprensa, a companhia argumenta que o índice mais relevante, o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), a coloca entre as cinco melhores do país. Confira a íntegra da nota:

O que diz a Copel

O ranking divulgado pela ANEEL no último dia 2 de abril traz uma percepção distorcida, pois não elenca as distribuidoras pelo tempo médio que o cliente fica sem energia durante o período observado (2024), o chamado DEC, que é a Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora. Este índice é a métrica mais relevante do setor e a Copel figura na 5º melhor posição do Brasil. A meta da ANEEL em relação ao DEC para a Copel em 2024 era de 8,35 horas e foi superada pela companhia, que fechou o ano com índice de 7,9 horas.

O que o ranking da ANEEL propõe é uma comparação entre meta por distribuidora e desempenho alcançado ao fim do período observado em relação a essa meta, que é atribuída pela própria ANEEL e varia de uma empresa para outra. Ou seja, as metas não são as mesmas para todas as distribuidoras de energia, o que torna a comparação entre elas um exercício assimétrico.

Dessa forma, o ranking da ANEEL induz a uma percepção equivocada da realidade no setor elétrico brasileiro, ao colocar à frente empresas que têm pior desempenho no critério mais importante para o cliente, que é o da oferta continuada de energia. Assim, 19 empresas que ficaram à frente e têm um desempenho pior que o da Copel na oferta continuada de energia ao cliente. São as seguintes: Equatorial Piauí (DEC de 21 horas), Energisa Rondônia (DEC de 20,6), Equatorial Pará (DEC de 19,4), CEEE Equatorial (DEC de 18,8), Enel Goiás (DEC de 15,9), Energisa Tocantins (DEC de 15,4), Energisa Mato Grosso (DEC de 15,1), Equatorial Maranhão (DEC de 13,3), Neoenergia Pernambuco (DEC de 10,9), Neoenergia Coelba (DEC de 10,4), Energisa Paraíba (DEC de 9,7), Enel Ceará (DEC de 9,6), Cemig (DEC de 9,4), Energisa Sergipe (DEC de 9,2), Enel RJ (DEC de 9,1), RGE (DEC de 9), Energisa Mato Groso do Sul (DEC de 9), Celesc (DEC de 8,6), Neoenergia Cosern (DEC de 8,2).