Governo sugere trocar laranja, mas peso na inflação é mínimo
As carnes em geral tiveram influência de 0,14 ponto percentual no IPCA em dezembro de 2024 e lideram o ranking de impactos dentre os grupos de alimentos
Por Gazeta do Paraná
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, sugeriu que consumidores brasileiros troquem a laranja por alimentos mais baratos para aliviar as despesas nos supermercados. Mas os dados oficiais da inflação mostram que a fruta teve impacto mínimo na alta dos preços. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de dezembro de 2024 teve alta de 0,52%. A variação permaneceria praticamente inalterada se a laranja fosse retirada da conta. O motivo: a participação do item no indicador geral é muito próxima de 0 ponto percentual. Um efeito similar seria observado nos meses anteriores. O índice de preços cairia muito pouco em outubro, de 0,56% para 0,55%. Seria uma retração de só 0,01 ponto percentual.
O preço da laranja aumentou 48% em 2024, mas isso teve peso menor no bolso dos brasileiros do que a variação de outros produtos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não divulga impacto dos produtos na inflação no acumulado anual.
A declaração de Rui Costa foi ironizada na internet e transformada em meme pelos usuários. O posicionamento do ministro veio em um momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mobiliza em uma tentativa de baratear o preço dos alimentos para melhorar sua popularidade. “O preço internacional está tão alto quanto aqui. O que se pode fazer? Mudar a fruta que a gente vai consumir. Em vez da laranja, outra fruta. Não adianta baixar a alíquota porque não tem produto lá fora para colocar aqui dentro”, disse Rui Costa.
A grande vilã
As carnes em geral tiveram influência de 0,14 ponto percentual no IPCA em dezembro de 2024 e lideram o ranking de impactos dentre os grupos de alimentos. Esse grupo inclui vários itens. Todas as outras categorias apresentam uma participação bem menor. Bebidas e infusões tem participação de 0,03 ponto percentual, empatadas com aves e ovos. As proteínas animais são mais buscadas nos mercados pelos brasileiros. O barateamento dos produtos teria um grande apelo popular. As carnes têm um apelo especial para Lula. Uma das principais promessas de campanha do petista em 2022 era baratear o preço da picanha e da cerveja, por exemplo. “Digo sempre, o povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha”, declarou o presidente ao ser entrevistado em 2022 pelo Jornal Nacional da TV Globo.
Os cortes bovinos em geral apresentaram queda em 2023, quando começou o 3º mandato do presidente. O movimento não foi observado no ano seguinte.
O IBGE pesquisa a variação de 159 alimentos. Por exemplo, é possível encontrar as informações de impacto para diversos cortes no grupo das carnes. A participação de cada item é muito pequena. Isso impede que se consiga reduzir a inflação com medidas que tenham por objetivo reduzir o valor de um item específico.
Desaprovação
Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada ontem indica que o trabalho do presidente Lula é aprovado por 47% dos brasileiros. O percentual dos que disseram desaprovar é de 49%. Os que não sabem ou não responderam somam 4%. É a primeira vez que o índice de desaprovação supera o da aprovação. No levantamento anterior, de dezembro, 52% dos brasileiros disseram aprovar o trabalho da gestão atual, 47% responderam desaprovar e 2% não responderam ou declararam não saber como avaliar. A pesquisa foi encomendada pela Genial Investimentos. Foram entrevistados 4.500 eleitores em todo o Brasil de 23 e 26 de janeiro. A margem de erro é de 1 p.p. (ponto percentual), para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
A piora na aprovação se deu com mais força na região Nordeste: foram 8 pontos a menos com relação a última pesquisa. No Sul, foram 7 pontos. Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, é o pior resultado do governo nas duas regiões. A avaliação sobre o desempenho da economia nos últimos 12 meses permanece negativa em relação às pesquisas anteriores: 39% consideram que a situação piorou. A avaliação positiva, por sua vez, vem recuando desde outubro: de 33% para 27% em dezembro e 25% na pesquisa atual.
Na Rússia
Lula deve viajar para a Rússia, no próximo mês de maio, para celebração dos 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial, que ocorreu naquele mês em 1945, quando as tropas aliadas tomaram Berlim e os representantes do regime nazista assinaram a rendição. A viagem a Moscou é a convite do presidente russo, Vladimir Putin, com quem Lula conversou por telefone ontem (27).
A ocasião marca o fim da guerra na Europa, mas o Japão, aliado da Alemanha, continuou a lutar até 2 de setembro de 1945. Todos os anos a Rússia celebra a data com paradas militares nas principais cidades. De acordo com nota do Palácio do Planalto, o presidente brasileiro “indicou intenção de comparecer” a Moscou.
Na conversa, Lula e Putin trataram sobre outros temas da agenda global e bilateral, entre elas a guerra da Rússia na Ucrânia. O presidente brasileiro expressou sua preocupação com o cenário internacional e reafirmou o “compromisso do Brasil com a promoção da paz”. “Putin agradeceu a contribuição de atores como o Brasil na busca de uma solução para o conflito na Ucrânia e demonstrou interesse pelos trabalhos do Grupo de Amigos da Paz, lançado pelo Brasil e pela China na Organização da Nações Unidas (ONU) em setembro passado”, informou a Presidência. O grupo pretende estabelecer entendimentos comuns para apoiar os esforços globais para alcançar a paz.
Putin também cumprimentou o Brasil pelo lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza durante a presidência brasileira do G20, em 2024, e recordou que a Rússia foi um dos primeiros países a aderir à iniciativa. Já neste ano, o Brasil está na presidência do Brics, bloco de países emergentes do qual Brasil e Rússia fazem parte. Na conversa com Lula, Putin indicou disposição de seguir trabalhando no avanço de iniciativas em favor da facilitação do comércio e dos investimentos entre os membros do bloco e em outras áreas
Créditos: Das Agências