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Expansão urbana de Cascavel traz desafios e impactos

Se, por um lado, a criação de novos bairros atende à crescente demanda habitacional, por outro, impõe desafios ao planejamento urbano

Por Bruno Rodrigo

Expansão urbana de Cascavel traz desafios e impactos Créditos: Reprodução

Cascavel cresce exponencialmente ano após ano. De 2000 para cá, um período de 25 anos, a cidade ganhou mais de 100 mil habitantes. Esse aumento populacional também impulsiona a necessidade de expansão habitacional. Atualmente, são mais de 80 bairros e distritos espalhados pelo município, que abriga cerca de 360 mil pessoas. A alta demanda por moradias tem levado construtoras e loteadoras a expandirem a área urbana, alcançando locais que, até pouco tempo atrás, não tinham a mínima possibilidade de receber novos moradores. Esse movimento foi impulsionado, sobretudo, pela mudança no Plano Diretor do município em 2023, que permitiu a ampliação do perímetro urbano de Cascavel.

A situação faz com que a área urbana avance sobre as zonas rurais. É cada vez mais comum ver loteamentos em espaços antes ocupados pelo campo. Áreas antes destinadas à produção agrícola têm sido vendidas por produtores para empresas interessadas na expansão do perímetro urbano.

Esse avanço sobre territórios tradicionalmente agrícolas levanta uma série de discussões. Se, por um lado, a criação de novos bairros atende à crescente demanda habitacional, por outro, impõe desafios ao planejamento urbano, à preservação ambiental e ao equilíbrio entre o desenvolvimento da cidade e a manutenção da atividade rural.

“Em Cascavel, seguimos as diretrizes nacionais de parcelamento do solo. Fora do perímetro urbano, para a criação de uma chácara, é necessário abrir um processo de parcelamento, comprovar que será levada infraestrutura ao local, que o loteamento será compatível com o entorno e não causará incômodos aos vizinhos, especialmente às propriedades agrícolas. Após essa verificação, emitimos o decreto de aprovação do loteamento, tornando o empreendimento regular e apto para comercialização”, explica Marcos Augusto Borges, coordenador de planejamento do IPC e membro da Comissão de Monitoramento de Parcelamento de Solo Irregular.

A regularização dos loteamentos é um dos pontos centrais do debate. O crescimento desordenado pode resultar em bairros sem infraestrutura adequada, comprometendo a qualidade de vida dos futuros moradores. Além disso, há o risco de conflitos entre vizinhos, especialmente em áreas próximas a propriedades rurais, onde o uso de defensivos agrícolas e o tráfego de maquinário pesado fazem parte da rotina.

“O principal problema da irregularidade é o impacto para os vizinhos. Quem produz pode ser prejudicado por quem mora em situação irregular e vice-versa. Além disso, há questões ambientais que são analisadas pelo IAT, e a infraestrutura precisa ser planejada, incluindo abastecimento de água, energia elétrica, esgoto e pavimentação. Tudo isso deve ser verificado antecipadamente para garantir a regularidade do loteamento”, detalha Marcos Borges.

Para evitar problemas, a fiscalização se torna essencial. A Comissão de Monitoramento de Parcelamento de Solo Irregular tem a função de garantir que novos empreendimentos sigam as diretrizes estabelecidas pelo município, prevenindo impactos negativos tanto para o meio ambiente quanto para os moradores. Um loteamento criado sem a devida aprovação pode gerar dificuldades na obtenção de serviços essenciais, como saneamento básico e fornecimento de energia elétrica, além de comprometer o ordenamento territorial da cidade.

Do ponto de vista do setor produtivo, a expansão urbana sobre áreas rurais também gera preocupação. Para o Sindicato Rural de Cascavel, o crescimento da cidade é inevitável e não representa, necessariamente, uma ameaça à agropecuária. No entanto, a entidade defende que essa ocupação ocorra de forma planejada, respeitando a vocação original de cada área e garantindo o cumprimento das normas para evitar prejuízos tanto para os agricultores quanto para os futuros moradores.

“Precisamos separar os loteamentos organizados e aprovados daqueles que não são. Há vários loteamentos no município onde proprietários dividiram suas terras em diversos lotes sem aprovação, tornando essas áreas irregulares. O Sindicato não apoia essa prática, pois ela impõe um ônus ao governo e à prefeitura, que precisam providenciar infraestrutura para esses locais. Além disso, defendemos o direito do produtor rural vizinho. Muitas vezes, ele está ali há 50 anos, e novos moradores começam a reclamar dos defensivos agrícolas ou do odor da criação de suínos, por exemplo. Outro ponto importante: quando a fração de terra é menor que 20 mil metros quadrados, ela deixa de ser considerada rural e passa a ser urbana, mas, se o loteamento não for aprovado, o proprietário nunca conseguirá regularizar o documento. Por isso, alertamos quem pretende adquirir essas chamadas chácaras para que tenha cuidado”, enfatiza Paulo Orso, presidente do Sindicato Rural de Cascavel.

Os desafios da expansão urbana de Cascavel exigem atenção do poder público, do setor imobiliário e da sociedade como um todo. Com o crescimento populacional contínuo, a cidade precisará conciliar a necessidade de novas moradias com a preservação das áreas produtivas e ambientais. O planejamento urbano será determinante para definir o futuro de Cascavel e garantir um crescimento equilibrado e sustentável.