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Em depoimento à polícia, funcionário nega ter perseguido professora negra em supermercado de Curitiba

Por Giuliano Saito


Mercado entregou à polícia cerca de 8 horas de imagens de câmeras de segurança, a partir de dez ângulos diferentes. Material será analisado por peritos. Caso ocorreu na sexta-feira (7), em Curitiba, no Atacadão, que faz parte da rede Carrefour. Professora fez protesto em supermercado de Curitiba (PR) e alegou que foi alvo de racismo Reprodução/Redes sociais O funcionário acusado de racismo contra a professora Isabel Oliveira em um supermercado de Curitiba negou que estivesse vigiando a mulher. Ele prestou depoimento à Polícia Civil na tarde desta terça-feira (11). "Ele disse que andou pelo corredor central do mercado de forma constante, que ele não tinha visto a vítima até então, que não tinha perseguido ela. Ele alega que só percebeu a presença da vítima no momento em que ela se dirigiu a ele", afirmou Camila Cecconello, delegada responsável pelo caso. O funcionário chegou à delegacia acompanhado de uma advogada. No local, ele não quis falar com a imprensa. De acordo com Isabel, de 43 anos, o homem a seguiu durante o trajeto dela dentro de unidade do Atacadão na última sexta-feira (7). Ela tirou a roupa para protestar contra racismo. Assista abaixo. Professora tira a roupa para protestar contra racismo em supermercado de Curitiba Conforme a delegada, o mercado entregou à polícia cerca de 8 horas de imagens de câmeras de segurança, a partir de dez ângulos diferentes. O material será analisado por peritos e a expectativa de Cecconello é que as imagens ajudem a esclarecer o que aconteceu. Por meio de nota, o Grupo Carrefour Brasil, dono do mercado Atacadão, afirmou que "segue postura de tolerância zero contra qualquer tipo de racismo". Além disso, conforme a nota, a empresa suspendeu temporariamente o funcionário durante o período de investigação. Funcionário de supermercado acusado de racismo presta depoimento, em Curitiba Professora alega ter sido perseguida Segundo ela, a manifestação aconteceu depois dela ter sido perseguida por um segurança enquanto fazia compras. Isabel relatou que foi até o estabelecimento para fazer compras para a Páscoa programada com a família. Em certo momento, a professora reparou que um segurança a seguia em todos os lugares que ela ia. Em seguida, ela disse que foi conversar com o homem e perguntou se ela apresentava ameaça para a loja. Ele negou. "Nada novo. Nós, pessoas pretas, estamos infelizmente habituadas a ter sempre um segurança, sempre somos [vistas como] ameaças nos espaços. [...] É extremamente violento, eu sai da minha casa para comprar coisas para passar a páscoa com a minha família. Eu não tinha nada, só meu cartão e meu celular na minha bolsa. Não havia motivo para que ele tivesse que ficar andando atrás de mim, investigando se eu poderia subtrair alguma coisa daquele estabelecimento", desabafou. 'Muitos já choraram para que eu estivesse aqui' diz professora que fez protesto em mercado Após a situação, a professora afirmou que ligou para a polícia, descreveu a situação para a agente e solicitou que enviassem uma viatura. Porém, segundo ela, a atendente afirmou que não poderia enviar apoio, pois Isabel "não soube descrever o que estava acontecendo" e também porque aquele era o trabalho do segurança. A professora contou ainda que foi questionada pela corporação se funcionários da empresa recusaram atendimento ou se houve algo que caracterizasse crime de racismo. "Este foi o momento que eu mais me senti violentada. Porque essa violência de ser acompanhada no mercado é corriqueira. Eu achava que, de alguma forma, eu teria o suporte de uma instituição policial e foi essa a resposta que eu tive", lamentou. De acordo com a professora, apesar de não ter existido uma ação explícita, a violência aconteceu. LEIA MAIS: 'Muitos já choraram para que eu estivesse aqui', diz professora que tirou roupa para protestar contra racismo em supermercado de Curitiba O protesto Isabel disse que resolveu dar uma resposta à situação. Algumas horas após o acontecimento, a professora resolveu voltar ao estabelecimento e protestar. Escreveu em seu corpo "sou uma ameaça". Dentro do mercado, retirou a roupa e ficou somente com as roupas íntimas, deixando a frase a mostra. "Eu entrei na loja, tirei a minha blusa, tirei a minha calça. Quando o primeiro segurança me abordou perguntando se ele poderia me ajudar em alguma coisa eu falei: 'Não, você não precisa me ajudar em nada. Eu estou inclusive facilitando o seu trabalho, porque você não vai precisar andar atrás de mim, porque você pode observar, eu não tenho lugar algum onde eu possa esconder qualquer produto desta loja'", relatou a professora., De acordo com Isabel, a situação deixou marcas emocionais. "Eu tenho dois filhos. Eu não tive coragem de voltar ao mercado para comprar um ovo de páscoa para eles. [...] Eu fui tratada como uma marginal. Como é que alguém se sente sendo tratado como um marginal, tendo trabalhado a semana inteira, para pegar o dinheirinho e ir comprar um ovo de páscoa para seu filho e não se sentir no direito de circular? Como você se sente sem ter a sua liberdade de ir e vir respeitada?", afirmou. Além disso, para ela, a situação reflete um cerceamento dos direitos dela. "Por que eu tenho que garantir meu lugar de existência? Eu só quero ter o direito de entrar e sair onde quer que seja, com a dignidade que eu tenho", afirmou. LEIA TAMBÉM: 'Que o nome dela não seja esquecido', diz mãe de jovem esfaqueada e estrangulada com cabo de carregador de celular em Curitiba Pelo segundo dia seguido, polícia busca suspeitos de assaltar banco em Antonina; cerca de R$175 mil foram achados na mata, diz PM Justiça manda soltar professor suspeito de injúria racial contra alunas em colégio de Ibiporã VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.