“É preciso prender os ladrões”, diz Marcos Formighieri sobre fraude no INSS
Em muitos casos, valores pequenos fazem enorme diferença na vida de quem depende dos pagamentos
Por Da Redação

No último episódio do podcast Tijolinho no GCast, do jornal Gazeta do Paraná, Marcos Formighieri, fez duras críticas à estrutura administrativa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e ao Governo Federal, em razão da revelação de um esquema de fraude que desviou cerca de R$ 7 bilhões dos aposentados e pensionistas. Segundo ele, o caso representa uma “roubalheira” sem precedentes, com efeitos devastadores sobre os brasileiros mais pobres e dependentes de benefícios previdenciários.
Formighieri classificou o episódio como "assustador", embora não exatamente uma novidade. Para ele, o rombo bilionário nas contas da Previdência é a ponta do iceberg de uma estrutura corrompida e que há anos estaria sendo minada por organizações criminosas infiltradas dentro da própria máquina pública.
"É lamentável vermos pessoas precisando de um remédio e não terem o pouco dinheiro para comprá-lo, enquanto uma quadrilha instalada dentro do INSS desvia esses valores", afirmou.
Apesar da gravidade da situação e do "excepcional trabalho da Polícia Federal", que, segundo o diretor da Gazeta do Paraná, "levantou toda a roubalheira", nenhum dos envolvidos está preso. Ao contrário, pontua Formighieri, “ainda aparecem querendo dar explicações, explicando o inexplicável. Roubaram, mas dizem que não foi bem assim”.
A estrutura criminosa teria cooptado funcionários, diretores e até o presidente do INSS, operando um esquema interno de corrupção com pagamento de propina e manipulação de processos. Isso, explica Formighieri, dificulta também os trâmites das investigações administrativas. “A própria investigação dentro do INSS demora porque a quadrilha se implantou lá dentro”, denunciou.
Formighieri também criticou o impacto direto que o desvio causou aos beneficiários da Previdência. Ele destacou que, em muitos casos, valores pequenos fazem enorme diferença na vida de quem depende desses pagamentos, em que quarenta reais roubados de um benefício pode ser a diferença entre comprar um pão ou um remédio.
Outro ponto abordado no podcast foi o tratamento dado pela Justiça Federal em decisões que afetam aposentados. Formighieri narrou o caso de um mandado de segurança em que o pedido de um beneficiário foi indeferido com base em um suposto acordo entre a Justiça Federal e o INSS. “A Justiça está aí para garantir o direito do aposentado, não para justificar que fez acordo. O que o aposentado tem a ver com o acordo? Nada”, indagou.
Embora tenha ponderado que conhece bons juízes federais e que não se pode generalizar, Marcos Formighieri não escondeu a indignação. O caso, segundo ele, se soma a uma sequência de situações que geram descrença na população e fortalecem o sentimento de impunidade.
Na visão de Formighieri, a responsabilização deve alcançar os "peixes grandes". Ele cobrou que o Ministério Público não se limite a denúncias e que os culpados sejam efetivamente punidos com prisão. “Não adianta apreender bens que não chegam nem perto do valor que eles roubaram”, defendeu.
O diretor da Gazeta do Paraná foi além e relatou que possui provas envolvendo um ministro, que teria recebido R$ 300 mil em espécie dentro de uma mala, entregue por uma empresária com o objetivo de comprar uma situação favorável a um sindicato.
Formighieri também fez menção à recente declaração do ministro da Justiça, que prometeu "não descansar enquanto os ladrões não estiverem presos". Mas ponderou: “Tem que ser logo, porque daqui a pouco não tem mais ladrão nenhum por aí”. Ele ainda criticou o uso político da crise, alertando para tentativas de partidos em pressionar o presidente da República a manter ministros suspeitos no cargo em troca de apoio político.
A crítica se estendeu também a outras esferas do poder. Para ele, o Brasil está dominado por quadrilhas, não apenas no INSS, mas também em agências reguladoras, bancos e laboratórios farmacêuticos. Ele denunciou o oligopólio do setor bancário e apontou que os cinco maiores bancos do país controlam a economia nacional.
Segundo ele, o governo brasileiro paga anualmente mais de R$ 500 bilhões em juros aos bancos, valores que ele classificou como "achaques", e sobre os quais “ninguém fala”. Para o Formighieri, a manutenção dessa estrutura só perpetua a desigualdade e a miséria.
“Enquanto estiver desse jeito, o pobre estará sempre sujeito a ser vítima das quadrilhas”, concluiu.