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Distribuição de materiais escolares pelo governo beneficia população, mas afeta papelarias

Comerciantes afirmam que medida fez com que venda de materiais despencassem, totalizando queda de aproximadamente 40% em relação ao ano passado

Por Bruno Rodrigo

Distribuição de materiais escolares pelo governo beneficia população, mas afeta papelarias Créditos: AEN

Pela primeira vez na história, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed) anunciou a distribuição de kits escolares para todos os alunos da rede estadual de ensino a partir de 2025. A iniciativa, que visa garantir equidade e inclusão, tem sido celebrada por famílias em situação de vulnerabilidade, mas também trouxe preocupação para comerciantes de papelarias, que relatam queda de até 40% nas vendas de materiais escolares.

O investimento de mais de R$ 40 milhões, com recursos próprios do Estado, garantirá a entrega de aproximadamente 945 mil kits escolares. Cada kit contém itens essenciais como cadernos, lápis de cor, canetas, réguas, borrachas e apontadores, variando conforme o nível de ensino. A medida tem como objetivo aliviar o orçamento familiar no início do ano letivo, especialmente para pais com mais de um filho em idade escolar.

“Nosso objetivo é que cada estudante, independentemente da sua localização, receba o material necessário para começar o ano letivo com tudo o que precisa. A educação do Paraná está cada vez mais comprometida com a equidade e a inclusão”, afirmou o secretário de Estado da Educação, Roni Miranda.

Ele destacou ainda o alívio financeiro que essa ação representa para as famílias. “Para os pais com dois, três filhos, pesa muito no orçamento fazer a compra do kit escolar. Entregando esse material, aliviamos essa despesa e garantimos que os alunos tenham o que precisam para aprender”.

 Os kits foram elaborados para atender às necessidades pedagógicas as etapas escolares. Cada modelo foi cuidadosamente montado para garantir que os alunos tenham o suporte necessário para as atividades, desde a criatividade no Fundamental I até instrumentos de precisão para o Ensino Médio.

Confira os itens:

Ensino Fundamental I

7.773 kits com itens como cadernos, lápis de cor, giz de cera, tesoura sem ponta e canetinhas hidrográficas.

Ensino Fundamental II

550.000 kits com materiais como cadernos universitários, régua, transferidor, esquadros e lápis de cor.

Ensino Médio e EJA

352.206 kits contendo cadernos universitários, canetas esferográficas, réguas e lápis grafite.

Impacto nas papelarias

Enquanto a iniciativa é vista como um avanço para a educação pública, comerciantes de papelarias têm sentido o impacto negativo da medida. Com a distribuição gratuita dos kits, muitos pais deixaram de comprar materiais escolares em lojas especializadas, o que resultou em uma queda significativa nas vendas.

“Na prática, o que ele fez (governador) foi quebrar o segmento de papelarias. Nós, comerciantes, precisamos nos preparar para atender a demanda anual. Todo ano é assim: fazemos as compras de materiais, temos uma série de boletos para pagar, certo? Só que, dessa vez, não fomos avisados com antecedência sobre a decisão do governo. E agora, quem vai pagar esses boletos? O estado? Não. Nós temos que pagar os impostos, e não podemos atrasar nem um dia, senão vem multa. O que o governo fez foi basicamente passar uma rasteira nos comerciantes do ramo de papelaria”, acusa um comerciante que preferiu não se pronunciar.

Ainda segundo esse comerciante, o movimento nas lojas despencou com a medida do governo.

“O movimento nas lojas despencou. Estamos com estoques cheios de material escolar e não sabemos até quando vamos conseguir vender tudo. Agora, talvez tenhamos que tentar renegociar com as indústrias, mas as chances de sucesso são muito pequenas. No fim das contas, o estado prejudicou todo o comércio de papelarias do Paraná”, afirmou.

Segundo ele, essa medida pode ter sido eleitoreira visando uma possível candidatura à presidência da república.

“O governo do Estado do Paraná deu um golpe, vamos dizer assim, contra o comércio, especificamente contra o setor de papelarias. De certa forma, parece que o governador está agindo de modo eleitoreiro, já que ele pode estar se preparando para se candidatar à presidência”, finalizou o comerciante.

Jocemir Greco, que é comerciante de uma loja de variedade, afirmou que no estabelecimento houve queda de aproximadamente 40% nas vendas após a medida do governo, e que isso tem prejudicado comerciantes de toda a região.

“Eu acredito que, com o material escolar que o governo está distribuindo para os colégios, as nossas vendas, e o comércio no geral, estão sentindo um impacto muito grande. As vendas estão bem fracas, caíram mais de 40% em comparação com o mesmo período do ano passado. A procura por materiais escolares está muito baixa, apenas o essencial, muito abaixo do que costumávamos vender. Realmente afetou bastante, não só aqui em Cascavel, mas acredito que em toda a região. O incentivo do governo para as crianças foi muito bom, mas para o comércio, principalmente para as papelarias de Cascavel, a situação ficou bem complicada”, explicou.

A vendedora Keila do Carmo por sua vez falou que o movimento até o momento é bom, mas que está abaixo do que era esperado para os últimos dias.

“Não que a gente não esteja vendendo. Mas acreditamos que o pessoal está esperando chegar os kits para avaliar e depois complementar o que falta. Alguns vão acabar nem usando”, detalhou.