Brasileiros nos EUA vivem clima de medo e apreensão após eleições, relata cascavelense
Com medo de sair de casa e sem enviar filhos à escola, brasileiros nos EUA enfrentam clima de incerteza e xenofobia após eleições
A Gazeta do Paraná entrou em contato com Laís, uma imigrante brasileira natural de Cascavel que vive nos Estados Unidos há mais de dez anos. Laís, que reside legalmente no país, compartilhou sua perspectiva sobre a situação dos imigrantes brasileiros, especialmente após as recentes eleições nos EUA, com vitória do republicano Donald Trump. Ela também falou sobre os desafios enfrentados por familiares e amigos que estão em situação irregular.
Clima pós-eleição nos EUA
Laís relata que, na região do Texas onde mora, 25% da população é latina, e o clima está bastante tenso e triste. "Tenho amigos e familiares que estão com medo de sair de casa para ir ao mercado ou à farmácia. Estão com medo de viver suas rotinas diárias", conta. A preocupação com a segurança e a incerteza sobre o futuro têm afetado profundamente a comunidade imigrante.
Trajetória de imigração
Há quase 11 anos nos Estados Unidos, Laís decidiu imigrar em 2014, impulsionada principalmente pela situação econômica no Brasil. "Quando você pensa em ir para outro país, precisa levar em consideração vários fatores. O fator decisivo para mim foi a situação econômica, que não era suficiente para sustentar a mim e minhas três filhas", explica.
Preocupações da comunidade brasileira
A imigrante destaca que a comunidade brasileira nos EUA está mais preocupada e insegura após as eleições. "Afeta muito todos que trabalham e vivem aqui sem a documentação necessária. Eles não estão indo para o trabalho e já não estão mandando seus filhos para a escola", relata. O medo de deportação e o aumento da fiscalização têm criado um clima de apreensão.
Tratamento das autoridades americanas
Laís observa que as autoridades americanas têm intensificado as medidas de controle migratório. "Eles dobraram o número de barricadas no Rio Grande para tentar bloquear as pessoas na travessia do rio. Aumentaram também o número de agentes patrulhando a região", comenta. Essas ações, segundo ela, refletem uma postura mais dura em relação aos imigrantes.
Discriminação e xenofobia
A discriminação e a xenofobia, que sempre existiram, parecem ter ganhado mais força. "As pessoas não tinham o apoio do governo antes, e agora têm", afirma Laís. Esse cenário tem contribuído para um aumento no sentimento de insegurança e exclusão entre os imigrantes.
Apoio do governo brasileiro
Por fim, Laís expressa seu desejo de ver o governo brasileiro agindo de forma mais incisiva para apoiar os cidadãos que vivem no exterior. "Gostaria de ver o governo brasileiro apoiando seus cidadãos de uma forma que mostre aos EUA e a qualquer outro país que trata imigrantes como criminosos que existem direitos humanos e fundamentais a serem respeitados", conclui.
Crise diplomática entre EUA e América Latina
A política de deportações em massa do governo de Donald Trump desencadeou a primeira crise diplomática entre os Estados Unidos e a América Latina. O Brasil, por meio do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, manifestou preocupação com o tratamento dado aos brasileiros deportados, exigindo que as ações respeitem "requisitos mínimos de dignidade e direitos humanos". A reação do governo brasileiro ocorreu após a chegada de 88 deportados algemados a Manaus em um voo organizado pelos EUA, classificado pelo Itamaraty como "degradante".
O caso levou à convocação do encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos. Enquanto isso, países latino-americanos, liderados por Honduras, preparam uma reunião emergencial para discutir uma resposta conjunta à política migratória de Trump. Estima-se que 11 milhões de imigrantes vivam irregularmente nos EUA, sendo 7 milhões latinos, grupo diretamente afetado pelas medidas do governo americano.
A promessa de Trump de realizar "a maior deportação da história da América" já impacta brasileiros, colombianos, mexicanos e outras nacionalidades. Relatos de agressões por agentes americanos e condições precárias durante as deportações acendem o alerta para violações de acordos internacionais. O Brasil, que abriga a maior comunidade de imigrantes latino-americanos nos EUA, reforça a necessidade de diálogo e respeito aos direitos humanos, enquanto a crise migratória continua a gerar tensões na região.