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Correios anunciam plano para fechar mil agências e cortar despesas até 2028

Estatal prevê redução de 15 mil funcionários, venda de imóveis e dois PDVs; déficit acumulado passa de R$ 6 bilhões em 2025

Correios anunciam plano para fechar mil agências e cortar despesas até 2028 Créditos: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Os Correios anunciaram nesta segunda-feira (29) um plano de reestruturação com foco na redução dos déficits acumulados desde 2022. A proposta prevê o fechamento de 16% das unidades próprias da estatal, cerca de mil das seis mil agências em operação no país. A empresa estima economia de R$ 2,1 bilhões com a medida.

Considerando os demais pontos de atendimento mantidos por meio de parcerias, são aproximadamente 10 mil unidades que prestam serviços postais no Brasil. A estatal reforçou, porém, que continuará atendendo todo o território nacional. O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, afirmou em coletiva realizada em Brasília que a redução da estrutura será feita de maneira planejada, sem descumprimento da obrigação constitucional de universalização do serviço.

“A gente vai fazer a ponderação entre resultado financeiro das agências e o cumprimento da universalização, para não ferir o princípio ao fecharmos pontos de venda da empresa”, declarou o presidente.

O plano prevê também corte de despesas de aproximadamente R$ 5 bilhões até 2028, com venda de imóveis e dois programas de demissão voluntária (PDVs), que devem reduzir o quadro de funcionários em cerca de 15 mil trabalhadores até 2027. Segundo a estatal, 90% dos gastos atuais têm perfil fixo, o que dificulta ajustes diante das mudanças do mercado.

A necessidade de reestruturação se deve aos déficits recorrentes registrados pela companhia. Desde 2022, os Correios acumulam prejuízo anual estrutural estimado em R$ 4 bilhões, de acordo com o presidente. Nos primeiros nove meses de 2025, o saldo negativo já soma R$ 6 bilhões, e o patrimônio líquido está em R$ 10,4 bilhões no vermelho.

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Para reforçar o caixa, a empresa tomou um empréstimo de R$ 12 bilhões com bancos, contrato assinado na sexta-feira (26). Ainda assim, a diretoria busca outras fontes de financiamento, avaliando a necessidade de captar mais R$ 8 bilhões para equilibrar as contas em 2026.

Outra medida em análise é uma transformação societária dos Correios a partir de 2027. Hoje 100% pública, a companhia estuda a possibilidade de abrir o capital e tornar-se uma empresa de economia mista, modelo semelhante ao adotado pela Petrobras e pelo Banco do Brasil.

Os ajustes na estrutura administrativa incluem novas etapas previstas para 2026 e 2027, entre elas os dois PDVs, sendo o primeiro já no próximo ano e outro previsto para 2027. Também estão no foco da direção os planos de saúde e previdência dos servidores, que deverão ter mudanças nas regras e reduções nos aportes realizados pela estatal.

“O plano de saúde precisa ser completamente revisto porque hoje ele onera bastante. Tem cobertura boa para o empregado, mas é financeiramente insustentável para a empresa”, disse Rondon. Com cortes de benefícios e adesão ao PDV, a previsão é reduzir R$ 2,1 bilhões anuais em despesas de pessoal. A venda de imóveis deve acrescentar R$ 1,5 bilhão em receita.

Ao apresentar o plano, Rondon afirmou que o objetivo não é apenas recuperar o equilíbrio financeiro, mas reforçar o papel da estatal como instrumento estratégico do Estado brasileiro. “Esse plano vai além da recuperação financeira. Ele reafirma os Correios como ativo essencial para integrar o território nacional, garantir acesso igualitário a serviços logísticos e assegurar eficiência operacional, especialmente onde ninguém mais chega”, concluiu.

A crise financeira dos Correios, segundo a direção, é resultado de mudanças no mercado postal desde 2016. A digitalização reduziu drasticamente o envio de cartas, até então principal fonte de receita da estatal. O avanço do comércio eletrônico também trouxe novos concorrentes no setor logístico, pressionando a empresa. Rondon citou como referência o quadro da Unit States Postal Service (USPS), nos Estados Unidos, que também registra prejuízos, estimados em US$ 9 bilhões, e anunciou ações para enfrentar o desequilíbrio financeiro.

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