Ponto 14

Com privatização, Copel sofre com falta de mão de obra qualificada

Companhia de Energia tem oferecido curso de formação de eletricistas que embora importante, não substitui a formação contínua e a experiência que os técnicos da

Por Gazeta do Paraná

Com privatização, Copel sofre com falta de mão de obra qualificada

Mais de 400 pessoas já se inscreveram no curso de Formação Básica de Eletricista da Copel. É um projeto que visa proporcionar qualificação gratuita à população e tem o potencial de formar até 750 novos eletricistas até o final de 2024. No entanto, essa iniciativa revela questões preocupantes relacionadas à privatização e terceirização da empresa. 

O curso está sendo realizado em cidades como Cascavel, Curitiba, Londrina, Maringá e Ponta Grossa, oferecendo aulas teóricas e práticas ministradas por profissionais da Copel e instrutores do mercado. Embora a formação gratuita seja uma oportunidade valiosa, ela também é uma resposta à escassez de mão de obra qualificada que a empresa enfrenta. 

O jornal Gazeta do Paraná ouviu Leandro Grassmann, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (SENGE), sobre a gestão e manutenção da Copel e os impactos da privatização e reestruturação na Companhia de Energia do Paraná. Segundo Grassmann, a Copel reduziu drasticamente o número de funcionários, passando de cerca de 9.000 para 5.800 em 2023. "Muitos dos funcionários com mais tempo de casa e salários mais altos foram demitidos, resultando na perda de capital intelectual e capacidade técnica". 

Embora o curso de formação de eletricistas ofereça uma base sólida de conhecimentos teóricos e práticos, ele não substitui a formação contínua e a experiência que os técnicos da Copel costumavam adquirir ao longo dos anos. "Esses novos eletricistas muitas vezes são obrigados a trabalhar em condições inadequadas e com remuneração abaixo do ideal", afirma. Grassmann também afirma que a estratégia da Copel é continuar desligando funcionários sempre que possível, sem planos de contratação própria para eletricistas, técnicos ou engenheiros no curto prazo. Anteriormente, a Copel era vista como uma empresa que oferecia um bom plano de carreira, investindo na capacitação dos profissionais e oferecendo salários competitivos. Esse modelo assegurava uma mão de obra altamente qualificada e comprometida.

Com a privatização, a Copel passou a contratar empresas terceirizadas para fornecer mão de obra, sem a garantia de que esses profissionais possuam a mesma qualidade e formação dos técnicos anteriormente contratados de forma direta. Isso resultou em uma mão de obra menos qualificada e comprometida, forçando a empresa a criar cursos de formação básica para suprir a demanda, como os cursos profissionalizantes. Grassmann destaca que a tendência é que a Copel terceirize praticamente todas suas atividades, incluindo projetos, execução, montagem de subestações e manutenção. "A Copel está oferecendo cursos de eletricistas para qualificar o pessoal em campo, mas a expectativa não é de contratação direta desses profissionais pela Copel. A intenção parece ser aumentar a qualificação de trabalhadores de empreiteiras".

A privatização da Copel também teve um impacto significativo no mercado de trabalho do setor elétrico no Paraná. Embora o número de empregos formais no setor elétrico brasileiro tenha crescido 1,7% nos últimos 12 meses, o Paraná apresentou um saldo negativo de empregos. Desde o início do ano, a Copel implementou um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que pretende eliminar 1.438 postos de trabalho até agosto de 2024, representando cerca de 25% do quadro de funcionários da empresa. Segundo o Presidente da SENGE, essas demissões terão um impacto negativo no setor elétrico paranaense, prejudicando a qualidade dos serviços prestados. "A tendência é que a Companhia passe a oferecer serviços com menos qualidade, prejudicando a sociedade. Basta ver a piora dos índices de atendimento desde a privatização da Copel em agosto de 2023". Grassmann menciona que a Copel Telecom, anteriormente uma empresa de excelência no provimento de internet, tornou-se uma das campeãs de reclamação quase cinco anos após a privatização.

Os impactos da privatização da Copel já estão sendo sentidos, segundo Grassmann. A FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) indica que mais de 80% dos produtores rurais estão insatisfeitos com a qualidade do serviço da Copel. "Isso reflete problemas concretos no fornecimento de energia elétrica nessas áreas", diz Grassmann. Em 2023, mais de 2.000 famílias ficaram mais de dois dias sem energia elétrica, e algumas chegaram a ficar mais de uma semana sem eletricidade. "Isso seria impensável anos atrás e demonstra uma deterioração significativa na confiabilidade do fornecimento de energia". Grassmann sugere que, sem um investimento significativo em automação da rede ou em aumentar o número de equipes de manutenção, a qualidade do serviço continuará a deteriorar-se, é impossível manter uma rede funcionando 100% sem pessoal suficiente para trabalhar nas ruas". 

A oferta de cursos gratuitos pela Copel para a formação de eletricistas é uma iniciativa boa, aos olhos de Grassmann, pois oferece novas oportunidades de carreira para a população. No entanto, ele afirma que essa medida emergencial não pode esconder os problemas estruturais causados pela privatização e terceirização.