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Câmara aprova MP que permite troca de dívidas de hospitais por serviços ao SUS

Proposta altera legislação para permitir que hospitais, clínicas privadas e operadoras de planos de saúde possam trocar dívidas com governo por serviços prestados ao SUS

Por Da Redação

Câmara aprova MP que permite troca de dívidas de hospitais por serviços ao SUS Créditos: Marcello Casal Jr

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (24) a Medida Provisória que cria o programa Agora Tem Especialistas, principal aposta do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para acelerar atendimentos na rede pública e reduzir filas do Sistema Único de Saúde (SUS). O texto, que recebeu 403 votos favoráveis e apenas 6 contrários, ainda precisa passar pelo Senado até sexta-feira (26) para não perder a validade.

A proposta altera a legislação para permitir que hospitais, clínicas privadas e operadoras de planos de saúde possam trocar dívidas com o governo por serviços prestados ao SUS. Entre as novidades, está o uso de carretas para atendimentos móveis, que deverão ser ampliados com apoio de emendas parlamentares.

Assinada em maio, a medida reformulou o antigo programa Mais Acesso a Especialistas, lançado em 2024, mas que não agradou ao presidente Lula por não reduzir de imediato as filas da rede pública. O novo formato foca na assistência especializada em áreas como oncologia, ginecologia, cardiologia, ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia.

Segundo o Ministério da Saúde, a meta é acelerar a realização de consultas, exames e cirurgias, com mutirões voltados a pacientes que aguardam há meses ou anos por diagnóstico e tratamento. O ministro Alexandre Padilha anunciou que serão mobilizados R$ 16 bilhões, dos quais cerca de R$ 4,4 bilhões virão da troca de dívidas de empresas de saúde por serviços ao SUS.

O mecanismo funcionará de duas formas: operadoras de planos poderão abater valores devidos em ressarcimento ao SUS, enquanto hospitais privados e filantrópicos terão créditos emitidos para descontar serviços prestados de débitos tributários ou de futuras cobranças de impostos.

A MP também reforça a atuação da AgSUS, órgão criado em 2019 e que hoje é responsável pela gestão de contratações de médicos, carretas e serviços para o programa. Além disso, promove mudanças no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa pública federal que concentrará parte das ações no Sul do país.

Outro ponto polêmico é a autorização para que o Ministério da Saúde passe a prestar serviços diretamente em estados e municípios, e não apenas repassar recursos. Críticos apontam risco de ruptura com a lógica descentralizada do SUS. Em nota técnica, a Consultoria de Orçamento e Fiscalização da Câmara alertou que a MP altera de forma significativa o papel da União no sistema, “transformando-a de indutora e financiadora em executora e contratante direta”.

O documento também chama atenção para possíveis falhas de controle, já que as mesmas entidades privadas poderão firmar contratos simultaneamente com o governo federal, estados e municípios. “Este mecanismo [de renúncia fiscal por serviço] produz efeitos semelhantes ao gasto público direto, mas à margem do controle orçamentário tradicional”, afirma a nota.

Apesar das críticas, o Planalto aposta na medida como vitrine eleitoral rumo a 2026. Lula e Padilha já participaram de inaugurações de ações do programa em Recife (PE) e em Brasília (DF), destacando o esforço do governo em dar visibilidade ao atendimento especializado na saúde pública.

Com a aprovação na Câmara, a MP segue para análise do Senado, em votação decisiva para garantir sua continuidade.

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