Banha de porco ou óleo de soja: o que é melhor para a saúde?
Estudo paranaense reacende debate sobre gorduras e indica que a banha pode ter vantagens, apesar de controvérsias entre especialistas.
Por Graziele Santos

A banha de porco, ingrediente tradicional da culinária brasileira e símbolo da cozinha afetiva de gerações passadas, voltou ao centro do debate nutricional. Em tempos de maior preocupação com hábitos saudáveis, ressurge como alternativa a óleos vegetais comuns nas cozinhas, como o de soja. A pergunta que continua dividindo opiniões é: afinal, qual gordura faz melhor para a saúde?
Uma pesquisa realizada pela Faculdade União das Américas, no Paraná, trouxe novos dados à discussão. O estudo analisou os efeitos do consumo diário de banha de porco e óleo de soja em dois aspectos principais: saúde cardiovascular (níveis de colesterol e triglicerídeos) e composição corporal (acúmulo de gordura).
O experimento
Durante 45 dias, duas mulheres jovens, com cerca de 19 anos, 78 kg e 31,45% de gordura corporal, participaram do estudo. Em períodos alternados, consumiram refeições preparadas com 80g de gordura por dia — ora à base de banha, ora de óleo de soja. Foram realizadas análises laboratoriais e medições físicas no início e no fim do período.
Os resultados mostraram diferenças marcantes: o colesterol total subiu 11,7% com a banha, mas caiu com o óleo. No entanto, o HDL (colesterol “bom”) subiu 77% com a banha e caiu 20,5% com o óleo. Além disso, triglicerídeos e VLDL (gordura transportada no sangue) caíram com a banha, mas aumentaram significativamente com o óleo de soja.
Houve ganho de peso e de gordura corporal em ambos os casos, porém maior entre quem consumiu óleo vegetal. A relação cintura/quadril piorou com o óleo e melhorou levemente com a banha, enquanto as pregas de gordura corporal aumentaram mais entre as mulheres que ingeriram óleo de soja.
O que dizem os especialistas
Embora seja um estudo pequeno, os dados reforçam a visão de muitos profissionais: não basta diferenciar gordura apenas como animal ou vegetal; a qualidade e o grau de processamento importam.
A endocrinologista e nutróloga Maria Clara Martins destaca que a banha, sendo natural e pouco industrializada, é melhor reconhecida pelo organismo, ao contrário do óleo de soja, mais refinado e potencialmente inflamatório.
A nutricionista Angéli Marques Golfetto complementa que a banha é mais estável em altas temperaturas, liberando menos toxinas que óleos vegetais refinados. Mas ambas alertam: nenhuma gordura é inofensiva em excesso, sobretudo em frituras. “Uma colher de sopa de óleo já corresponde a quase metade da gordura diária recomendada em uma dieta de 2 mil calorias”, diz Angéli.
Azeite lidera as preferências
Para o uso diário, o azeite de oliva extravirgem continua sendo o favorito entre os especialistas. Rico em ácidos graxos insaturados e antioxidantes naturais, mantém suas propriedades em temperaturas domésticas, embora não seja ideal para frituras profundas.
Na hierarquia das gorduras saudáveis, azeite aparece em primeiro lugar, seguido por manteiga ghee, manteiga comum e, em seguida, banha de porco — desde que pura e consumida com moderação. Margarinas e óleos vegetais refinados, como os de soja, milho, canola e girassol, ficam no fim da lista, considerados menos saudáveis.
Quem deve evitar a banha?
Apesar de apresentar benefícios, a banha não é indicada para todos. Pessoas com colesterol alto, problemas cardiovasculares ou triglicerídeos elevados devem priorizar gorduras insaturadas, como azeite ou manteiga em pequenas quantidades.
“Não existe gordura milagrosa. A escolha deve ser personalizada, levando em conta exames, condições clínicas e estilo de vida. Para quem é saudável e ativo, a banha pode ser uma boa opção, desde que usada com consciência”, recomenda Maria Clara.
A importância da quantidade
Mais importante do que optar entre banha ou óleo de soja é o contexto geral da alimentação. “Trocar o óleo pela banha não resolve tudo se a pessoa continuar usando grandes quantidades. O ideal é usar só o necessário para untar a panela ou refogar os alimentos”, enfatiza Angéli.
Ela recomenda, em refogados, uma colher de sobremesa; em pratos com muito carboidrato, como arroz e massas, a quantidade deve ser ainda menor. “A gordura deve ter papel coadjuvante, não ser protagonista do prato.”
O estudo paranaense contribui para enriquecer o debate sobre qual gordura escolher e reforça a importância de priorizar alimentos menos processados. A banha de porco, pura e usada com moderação, pode sim ser uma alternativa mais saudável do que o óleo de soja refinado, principalmente por elevar o HDL e reduzir triglicerídeos.
Mesmo assim, cada organismo reage de maneira única. O ideal é sempre buscar orientação profissional antes de qualquer mudança drástica na dieta. Afinal, quando o assunto é saúde, equilíbrio e bom senso seguem sendo os melhores ingredientes — tanto na cozinha quanto na vida.
Créditos: Redação com Agências
