Após divulgação de novos vídeos, Renato Freitas afirma que reagiu para proteger companheira grávida e acusa manobrista de ameaça, injúria e armação política
Em coletiva, Renato Freitas diz ter reagido para proteger a companheira grávida, acusa frentista de injúria e ameaça, e afirma ser alvo de armação política articulada por parlamentares investigados
Por Gazeta do Paraná
Créditos: Reprodução/Redes Sociais
Na tarde desta sexta-feira, horas após a circulação de um novo vídeo divulgado pelo advogado Jeffrey Chiquini, o deputado estadual Renato Freitas (PT) convocou a imprensa em frente à Assembleia Legislativa do Paraná para apresentar sua versão completa do episódio de agressão que ganhou dimensão política e abriu cinco representações formais no Conselho de Ética. Em uma fala longa, Freitas descreveu em detalhes o que classifica como uma “reação proporcional e necessária” a uma ameaça injusta que, segundo ele, colocou em risco não apenas sua integridade física, mas sobretudo a da mãe de seu filho, grávida de poucas semanas.
Freitas relatou que havia acabado de sair do exame de ecografia - “coração batendo, 22 milímetros, estávamos felizes” - quando um carro “apareceu sobre nós” em uma manobra que descreve como direção perigosa. Ele afirma que apenas disse “respeita o pedestre”, mas que o motorista teria abaixado o vidro, encarado e iniciado uma série de injúrias. Segundo o deputado, os xingamentos incluíram “lixo, nóia e outros palavrões”, proferidos enquanto o veículo os acompanhava até o ponto em que estacionou para, nas palavras de Freitas, “vir correndo iniciar um conflito físico”.
O deputado disse que decidiu ir ao encontro do manobrista para impedir que ele alcançasse sua companheira grávida - “as consequências poderiam ser as piores, eu não quero nem imaginar” - e que seu amigo Carlos, que os aguardava próximo ao carro, interveio imediatamente. De acordo com Freitas, Wesley teria tentado agredir Carlos, levando ambos ao chão, enquanto ele permaneceu parado, “de pé, ao lado da mureta”, apenas observando a contenção. Ele reafirmou que, nesse primeiro embate, não desferiu golpes: “não sou partidário do dois contra um, não sou adepto da covardia”.
Freitas também se defendeu da acusação de ter atravessado a rua para atacar o frentista, afirmando que foi Wesley quem saiu do carro “correndo” e que as imagens internas do estacionamento precisariam de perícia para esclarecer a sequência exata. Ele admitiu somente um contato físico nesse primeiro momento: “dei dois tapas na bunda dele e disse para respeitar os mais velhos”, gesto que classificou como repreensão, não agressão.
A versão de Freitas sustenta que, após o primeiro confronto, ele, Carlos e sua companheira entraram no carro para ir embora, mas foram cercados por Wesley e outras duas pessoas que “entraram na frente do veículo” e o obrigaram a parar. Segundo o deputado, Wesley bateu na lateral do carro e iniciou uma nova perseguição a pé, focada exclusivamente nele. Freitas afirma que tentou evitar o embate: “falei para ele sair de perto, caminhei, mudei de direção”, mas que Wesley “bateu o ombro” nele e tentou acertar um soco no rosto - golpe que, segundo Freitas, efetivamente o atingiu e quebrou seu nariz. Ele disse que, somente então, reagiu com dois chutes, reconhecendo a cena mostrada nas imagens: “dei os dois chutes, vocês viram”.
O deputado usou o restante da coletiva para rebater críticas jurídicas, políticas e raciais. Disse que considerar o episódio como quebra de decoro seria “um absurdo semântico”, já que não estava em agenda oficial - “esses juristas têm que voltar para a faculdade”. Sinalizou que se sente vítima de uma perseguição racial enraizada no cotidiano curitibano e citou episódios anteriores de violência policial sofridos por ele, entre eles o tiro de bala de borracha recebido da Guarda Municipal em 2018.
Nesse ponto, Freitas ampliou o escopo das críticas e afirmou que os ataques políticos contra ele são motivados por parlamentares que, segundo diz, têm histórico de crimes graves. Ele declarou: “aqueles que se fizeram meus inimigos porque roubaram os cofres públicos, praticaram rachadinha, são acusados de lavagem de dinheiro, organização criminosa, tráfico de influência, entre tantos outros crimes - notadamente o crime cometido pelo presidente Ademar Traiano - farão de tudo para que eu seja cassado”. Segundo Freitas, a ofensiva contra seu mandato tem raízes anteriores ao episódio e é guiada por interesses de parlamentares que foram alvo de suas denúncias.
Freitas afirmou que o histórico do manobrista desmente a versão de “trabalhador injustiçado” propagada por seus adversários. Mencionou que Wesley já foi detido por portar um simulacro de arma de fogo, que publicou em junho um relato no qual se dizia envolvido em várias brigas na mesma noite e chamou o homem de “pit boy”. Também sugeriu que o episódio pode ter sido premeditado, mencionando que Wesley segue apenas dois políticos nas redes: Pablo Marçal e o vereador Guilherme Külter, responsável por divulgar as primeiras imagens.
O deputado acusou ainda a administração do prédio onde buscou imagens de ter tratado seus assessores negros com discriminação explícita e questionou cortes, lacunas e edições nos vídeos apresentados até agora pela outra parte: “se a verdade está com eles, por que editar, por que recortar, por que maltratar a verdade conforme o gosto do cliente?”.
Ao final, quando questionado se se considera vítima ou agressor, respondeu: “eu não sou nem vítima nem algoz, sou sobrevivente”. Disse que se arrepende apenas de não ter orientado seu amigo a filmar desde o início - “a câmera é a arma do século XXI”.
Créditos: Bruna Bandeira
