Abusos sexuais: Nucria ouve mais 7 pessoas nesta segunda-feira
Segundo a polícia, mais 2 supostas vítimas de assédio sexual pelo falecido bispo Dom Mauro prestaram depoimento. A Gazeta do Paraná conversou com os familiares do falecido religioso

Eliane Alexandrino/Cascavel
O Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) de Cascavel deve ouvir mais 7 pessoas, sendo 2 vítimas do sacerdote investigado, 1 já identificada anteriormente, mas que não tinha sido ouvida, e mais 5 testemunhas nesta segunda-feira (01).
Na semana passada, outras 13 oitivas foram realizadas no âmbito do Inquérito Policial que investiga os crimes de abuso sexual praticados pelo padre Genivaldo de Oliveira dos Santos, preso temporariamente. Segundo o Nucria, passou de 7 para 8 o número de possíveis vítimas de abuso sexual pelo religioso.
Na sexta-feira passada (29), a polícia também confirmou mais 2 supostas vítimas de assédio sexual praticado pelo falecido Dom Mauro Aparecido dos Santos. Com base nos depoimentos coletados até o momento, sobe para 3 o número de vítimas que teriam sido abusadas pelo falecido bispo.
“Sobre a vítima de estupro de vulnerável ocorrido em 2008 (uma criança de apenas 3 anos de idade), não está contabilizada entre as vítimas de Dom Mauro ainda, uma vez que as investigações não permitem estabelecer essa correlação de forma conclusiva. As investigações prosseguem sob sigilo, já que se trata da proteção das vítimas e testemunhas”, afirma a delegada do Nucria, Thais Zanatta.
A Gazeta do Paraná conversou com uma das sobrinhas de Dom Mauro, a advogada Denise Sfier, que disse estar muito abalada com o que vem sendo mostrado na mídia.
“Nossa família está muito chateada, abalada com tudo o que vem sendo noticiado pela imprensa. Quem conhecia meu tio sabia da conduta dele, jamais faria algo assim com alguém. Uma pessoa que só fazia o bem, sempre dedicou a vida à Igreja Católica. Minhas tias, entre elas a minha mãe, estão muito tristes com tudo o que vem sendo divulgado, elas não querem se manifestar. Apenas defendem que meu tio jamais faria isso”, relata a sobrinha.
Dom Mauro nasceu em uma família grande, eram 8 irmãos (4 mulheres e 4 homens). Hoje, apenas 3 irmãs idosas estão vivas (com idade entre 68 e 85 anos). A família emitiu uma nota destacando o respeito às vítimas e a gravidade de qualquer acusação. Também pediu a preservação da memória de Dom Mauro e finalizou ressaltando que ele não pode se defender, já que faleceu vítima de complicações da Covid-19, em março de 2021, em Cascavel. A família encerra a nota dizendo estar em oração e reforça o compromisso com a verdade e o respeito à dor alheia.
“Pedimos mais veracidade nos fatos que a imprensa vem divulgando. O nome do meu tio foi citado em supostos abusos sexuais, de cunho gravíssimo. A imprensa noticiou sem ter provas se realmente isso aconteceu, é preciso muita cautela antes de divulgar qualquer nome envolvendo crimes como esses. Estamos muito abalados com tudo o que vem acontecendo”, acrescenta Sfier.
Deputado Romanelli critica a imprensa
O deputado estadual Luiz Claudio Romanelli (PSD) fez duras críticas à imprensa de Cascavel, pela forma como o caso vem sendo noticiado na mídia. Ele usou as redes sociais para defender a imagem do falecido religioso.
“Dom Mauro era uma figura humana extraordinária. Era arcebispo, um homem com uma espiritualidade extraordinária. Assassinaram a reputação de um homem que morreu há 4 anos, um homem que só fez o bem durante a vida. Quero manifestar a toda a família de Dom Mauro e a todos aqueles que conviveram com ele, à Igreja Católica, todos que conheceram a integridade dele, a seriedade de Dom Mauro, a minha integral solidariedade”, disse em sua rede social.
Trajetória de Dom Mauro
Dom Mauro nasceu em Fartura (SP), em 9 de novembro de 1954, e foi ordenado sacerdote em 1984, em Jacarezinho, onde também estudou filosofia e teologia. Atuou como pároco e vigário-geral na Diocese de Jacarezinho, sendo ordenado bispo em 1998. Em 2002, foi administrador apostólico da Diocese de Umuarama e, em 2007, nomeado arcebispo de Cascavel, cargo que assumiu em janeiro de 2008 e veio a falecer em março de 2021.
Entenda o caso dos supostos abusos
A Polícia Civil, por meio do Nucria, realizou a prisão temporária do padre Genivaldo de Oliveira Santos, de 41 anos, no mês passado. Ele está sendo investigado por suspeita de abuso sexual contra jovens em Cascavel. A prisão foi deflagrada através da operação “Lobo em Pele de Cordeiro”. Ele havia sido afastado de suas funções no dia 14 deste mês pela Diocese de Cascavel.
De acordo com a polícia, as denúncias tiveram início ainda em 2009, quando o suspeito era seminarista. A prisão foi decretada após o padre entrar em contato com testemunhas e possíveis vítimas, comportamento que poderia comprometer as investigações e representar risco de intimidação, afirma a polícia.
Ainda segundo as investigações, o padre possuía um “padrão de comportamento predatório” com as vítimas: aproximava-se de jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade. “As vítimas seriam jovens envolvidos em atividades religiosas e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, possivelmente atraídos por ofertas de dinheiro, viagens, presentes e convites para pernoitar na residência do padre”, afirma o Nucria.
As investigações também identificaram irregularidades na gestão financeira da paróquia em que ele exerceu suas funções até o final de 2024. “Ele também exercia de forma ilegal ‘terapias complementares’ oferecidas em consultório próprio”, acrescenta o Nucria.
Segundo a polícia até o momento passou de 7 para 8 o número de possíveis vítimas de abuso sexual pelo religioso que segue preso temporariamente. A partir das denúncias contra o padre Genivaldo, surgiram os supostos abusos em relação a Dom Mauro.
Arquidiocese determina a suspensão cautelar do padre Genivaldo
Como medida imediata, a Arquidiocese determinou a suspensão cautelar do exercício público do ministério do sacerdote mencionado (Genivaldo Oliveira dos Santos), conforme as normas da Igreja, e adotou providências internas para a apuração rigorosa dos fatos. Lamentamos profundamente e nos solidarizamos com as vítimas, oferecendo acolhimento espiritual e psicológico (45 3225-2324 ou curia@arquicascavel.org.br).
Reiteramos que a Igreja não compactua com qualquer forma de abuso. O Papa Francisco recorda: “Não se pode impor qualquer vínculo de silêncio sobre quem denuncia abusos ou sobre quem foi vítima. O silêncio forçado não faz parte do Evangelho. Por isso, colaboramos integral e irrestritamente com as autoridades policiais, ministeriais e judiciais, entregando todas as informações necessárias e sem criar qualquer obstáculo às investigações. Sabemos que toda a comunidade sofre com essa situação; também nós nos reconhecemos feridos por fatos que contradizem o
Confira o posicionamento dos familiares de Dom Mauro:
A família de Dom Mauro Aparecido dos Santos, falecido em 2021 por complicações decorrentes da Covid-19, vem a público, com profundo respeito e dor, manifestar-se diante da acusação recentemente divulgada envolvendo seu nome.
Recebemos com consternação a notícia, conscientes da seriedade que envolve qualquer denúncia de violência sexual. Reiteramos nosso respeito ao público, sua dor, e acreditamos que toda manifestação de sofrimento merece acolhida e escuta.
Ao mesmo tempo, sentimos a necessidade de preservar a memória de Dom Mauro, que dedicou décadas de sua vida ao serviço pastoral, à promoção da dignidade humana e ao cuidado com os mais vulneráveis. Sua trajetória foi marcada por gestos de fé, solidariedade e compromisso com a comunidade.
É profundamente doloroso enfrentar uma acusação tão grave contra alguém que não está mais entre nós para se defender ou esclarecer os fatos. Confiamos que a verdade, mesmo diante da impossibilidade de contraditório, será buscada com responsabilidade, prudência e respeito por todos os envolvidos.
Pedimos à sociedade e à imprensa que tratem o tema com a sensibilidade que ele exige, evitando julgamentos precipitados e preservando a dignidade de quem sofre e de quem já partiu, até que os fatos sejam integralmente esclarecidos.A família permanece em oração, confiando na justiça divina e humana, e reafirma o compromisso com a verdade e com o respeito à dor alheia.
Jacarezinho – PR / Irmãs de Dom Mauro Aparecido dos Santos e familiares.
Foto: Divulgação
