Vivência no Hip-Hop: Artistas Wesllen Toledo e Mamacita refletem sobre as expressões artísticas que envolvem o gênero
Em sua nova edição, que já está no ar no canal da Gazeta do Paraná, no You-Tube, o programa recebeu os artistas locais Wesllen Toledo e Mamacita, para um bate-papo sobre suas experiências, vivências e reflexões sobre o cenário local do hip-hop, manifestado na música, na dança e nas artes visuais. Confira a entrevista:

Como já se tornou tradição neste espaço, semanalmente, o Caderno Mais traz mais detalhes sobre o novo episódio do GCast Mais+, o videocast cultural da Gazeta do Paraná, que vai ao ar nas quartas-feiras, às 19 horas, no canal da Gazeta do Paraná, no You-Tube.
O programa, tem como propósito trazer mais destaque e visibilidade para o cenário cultural de Cascavel e do Paraná. E é para dar sequência nesta missão que, em seu mais novo episódio, os apresentadores Bruna Bandeira e Lucas Gabriel receberam os artistas locais: Wesllen Toledo e Mamacita, profissionais atuantes no movimento do hip-hop local, para um bate-papo sobre o cenário do gênero em Cascavel.
Na cidade, a cultura do hip-hop é levada a sério, isso porque, no próprio município, existe a “Semana Municipal do Hip-Hop”, instituída através da lei ordinária número 6670 de 20 de dezembro de 2016. A programação, embalada por muito hip-hop, é celebrada anualmente entre os dias 05 e 12 de novembro de cada ano.
E aproveitando o momento em que o município se encontra, o bate-papo começou questionando os convidados sobre a importância de se instituir a data: “O que acontece é que todo movimento cultural artístico tem sua data, e o hip-hop não poderia ficar de fora, inclusive, no mês de novembro temos o Dia Mundial do Hip-Hop. É de muita importância termos esta lei e termos essa ênfase da Semana Municipal do Hip-Hop, pelo fato de que aqui, no interior, o hip-hop tem uma balança desigual”, explicou Wesllen.
“Eu acredito que é uma questão de representatividade batemos nesta tecla, porque é uma cultura periférica e não tem como crianças da periferia buscarem identificação em uma cultura 100% embranquecida, que não traz as origens do Brasil”, acrescenta Mamacita.
Hip-Hop e Oportunidade
Para os leitores que não estão familiarizados com o movimento cultural, o Hip-Hop surgiu nos Estados Unidos em meados da década de 70, sendo expressado na dança, através do break dance; na música, através de gêneros como o rap e em outras manifestações artísticas, como o grafite, por exemplo.
Por ter emergido de uma região de subúrbios nova-iorquinos, o movimento hip-hop passou a ser usado como ferramenta de denúncia das desigualdades sociais, uma característica que se manteve em todas as localidades por onde o movimento se espalhou, incluindo pelo Brasil. Através do uso da arte para criticar um sistema desigual, o movimento vem levando mais cultura para regiões, muitas vezes esquecidas, dando oportunidade de acesso à arte para os moradores destas localidades. Um trabalho que os artistas Wesllen e Mamacita vem desenvolvendo pela cidade, através da organização de encontros de rima, por exemplo: “Conseguimos achar um espaço para usarmos a assistência social a nosso favor, levando essa cultura, que é necessária nas regiões vulneráveis e periféricas para as crianças, onde muitos não poderiam pagar para ter esse acesso”, explica.
Uma realidade vivenciada pelo próprio Wesllen. O artista revela que descobriu a paixão pelo movimento hip-hop como uma forma de se manter em um “bom caminho”: “Meu primeiro contato foi ouvindo muitos rappers das antigas, depois, comecei a consumir batalhas de rimas, e o hip-hop sempre foi muito ativo na minha família, até por situações desagradáveis, que submeteram alguns dos meus familiares a agirem de formas que a gente não deve procurar, e o hip-hop foi uma ferramenta essencial para que eu não fosse para o mesmo caminho”, revela.
Após descobrir a existência das batalhas de rimas, Wesllen passou a participar ativamente dos encontros, atuando inclusive como mestre de cerimônias, guiando as disputas, além de integrar a projetos sociais, que oferecem acesso a cultura do hip-hop para crianças moradores de regiões periféricas da cidade.
Conexão através do Hip-Hop
Com o movimento hip-hop tendo surgido nos Estados Unidos e se mantendo ativo em diversos países do mundo, é possível tecer uma conexão entre todos esses focos de atuação, através da resistência de povos periféricos, para se manterem lutando contra as desigualdades.
Para Mamacita, é inegável a existência de um elo que une todas as diferentes culturas através deste movimento: “Eu acredito que o principal ponto do hip-hop, que faz essa conexão, é o quinto elemento, que é o conhecimento. Por mais que tenhamos vertentes distintas, como o grafite e a dança, o DJ e o MC, eu acho que todos eles se unem através do conhecimento. Eu acho que, como tudo na vida, temos que buscar conhecer as coisas para podermos viver. O hip-hop altera nossa perspectiva de mundo, através da visão de outros artistas”, explica.
As diferentes frentes de atuação do hip-hop, como a música e a dança, por exemplo, ainda são responsáveis por gerar um sentimento de pertencimento entre os envolvidos: “O hip-hop é de fácil acesso, eu perguntava para criançada quem gostava de desenhar, dançar, de fazer batuque, de cantar e o hip-hop é basicamente isso, você não precisa gostar de tudo, mas se você gosta de um ponto, você já se sente acolhido”, acrescenta Wesllen.
Mão na Massa
Uma grande curiosidade de grande parte do público que não está envolvido no movimento hip-hop, principalmente na vertente musical, através das batalhas de rimas, é quanto a habilidade dos batalhantes de construírem sentenças que, não sejam apenas sonoramente concordantes, mas que também respondam às provocações do adversário à altura.
Mamacita começou desmistificando essa habilidade, explicando que o segredo para as rimas concordantes e inteligentes está na autenticidade dos envolvidos, já que reflete suas realidades: “A principal coisa do repertório é que o hip-hop vai exigir que você seja você, então, seu maior tesouro vai ser sua história. Se você veste sua história e vai com ela, você é valorizado, por isso que, dentro disso, temos crianças de 13 anos, que na escola tiram nota cinco, mas na batalha levam a folha de dois a zero, porque a experiência de vida que ela tem, muitas pessoas não têm com 25 anos”, coloca.
A rimadora ainda conta que o nervosismo, muito comum entre artistas que se apresentam frente a um público, também presente durante as disputas, poderia ser contornado pela concentração na presença durante o momento: “É sobre presença, é você e a pessoa que está na sua frente, e sobre as palavras, a depender da pessoa, se ela mexe muito com você, é tudo sobre palavras. Você entra em um mundo paralelo, onde tudo é questão de mente e inteligência emocional”, revela.
Já para Wesllen, uma de suas maiores dedicações para poder participar das batalhas, não só como participante, mas também como mestre de cerimônias, isto é, o responsável por guiar a disputa, foi o estudo e a leitura: “Quando eu iniciei na cultura hip-hop, meu foco era batalhar, e desde então, veio o amor por produzir os eventos, mas quando eu batalhava um grande contra, para mim, a maior dificuldade era a falta do interesse de leitura, então eu tive que me obrigar a ler, para não ficar apanhando verbalmente na rua”, relembra o artista.
Para assistir a entrevista na íntegra e não perder nenhum episódio da programação do GCast Mais+, que vai ao ar nas quartas-feiras, às 19 horas, basta seguir o perfil @gazetadoparaná, no You-Tube.
Créditos: Redação