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Valdair Debus destaca mobilização durante Maio Laranja contra a pedofilia

Com aumento de 81% nos casos, Cascavel intensifica combate à pedofilia

Por Gabriel Porta

Valdair Debus destaca mobilização durante Maio Laranja contra a pedofilia Créditos: Divulgação CMC

A luta contra a pedofilia vai tomar as ruas de Cascavel no próximo dia 17 de maio, com uma caminhada organizada pela Associação Brasileira Todos Contra a Pedofilia (ABCP). A mobilização, que integra a campanha nacional Maio Laranja, terá início às 8h30, com concentração em frente ao McDonald’s da Avenida Brasil, e segue até a Catedral, onde serão realizadas ações de conscientização e apoio às vítimas de abuso sexual.

Esta Gazeta entrevistou o presidente da Associação, o pastor Valdair Mauro Debus, e ele afirmou que o objetivo é chamar a atenção da sociedade para a gravidade do tema e fortalecer a rede de proteção às crianças e adolescentes. “Será um momento histórico, de manifestação e de indignação. Queremos dizer ao pedófilo que vamos denunciá-lo se suspeitarmos de um abuso, e mostrar para as vítimas que Cascavel tem uma rede que acolhe quem denuncia”, conta.

A programação prevê a participação de igrejas, associações de moradores, entidades sociais e serviços públicos. Após a caminhada, às 9h30, haverá pronunciamentos de autoridades e ações educativas conduzidas por acadêmicos de Direito, Psicologia e Pedagogia das universidades locais. O Instituto Basta .também estará presente com atividades lúdicas para orientar crianças sobre como reconhecer e se defender de situações de abuso.

“A gente quer que os pais levem os filhos. Eles vão ter acesso a informações importantes e vão aprender como reagir diante de um abusador. Isso pode salvar vidas”, destacou Debus.

Desde 2010, a Associação Brasileira Todos Contra a Pedofilia atua em Cascavel com ações voltadas à prevenção e ao enfrentamento dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes. Ao longo desses anos, a entidade tem promovido campanhas, manifestações públicas e orientações que buscam não apenas combater os abusadores, mas, sobretudo, preparar a sociedade para reconhecer sinais de abuso e agir de forma responsável diante das denúncias.

Valdair Debus, diz que a informação é a ferramenta mais eficaz na proteção da infância. “Quando somos orientados, quando sabemos lidar com esse assunto, começamos a proteger aqueles que necessitam de nós: nossas crianças e adolescentes”, afirmou.

A gravidade do cenário em Cascavel exige resposta urgente. Segundo dados do Conselho Tutelar, o número de casos de pedofilia praticamente dobrou em um ano: foram 77 registros em 2023, contra 140 em 2024 — um aumento absoluto de 63 casos e percentual de 81%. Para Debus, esses números são alarmantes e exigem ação imediata por parte das famílias, da sociedade civil e do poder público. “A responsabilidade é tripla: sociedade, família e governo. Isso está no artigo 227 da Constituição, que garante com prioridade absoluta os direitos da criança e do adolescente”. 

Debus também alerta para a realidade dura e silenciosa de muitos abusos, cometidos dentro de casa por pessoas próximas, o que dificulta a denúncia e agrava o trauma das vítimas. “Infelizmente, muitas famílias tentam resolver internamente, em conversas, e a criança continua tendo que conviver com o abusador. Isso destrói emocionalmente e afeta toda a vida adulta se não houver tratamento. Precisamos encaminhar essas crianças para atendimento psicológico, para programas de saúde mental, porque o abuso deixa marcas profundas”, completou.

Palestra com Dr. Carlos Fortes sobre Pedofilia

A agenda de enfrentamento à pedofilia segue em Cascavel e terá uma palestra no dia 26 de maio com o promotor de Justiça de Minas Gerais, Dr. Carlos José Silva Fortes, coordenador nacional do movimento Todos Contra a Pedofilia. Com mais de duas décadas de atuação na área e passagem como membro técnico da CPI da Pedofilia no Senado Federal, em 2008, Fortes também integra a equipe da Interpol na América Latina, com sede em Buenos Aires. “É um nome de peso, uma autoridade no assunto, que vem para nos capacitar, tirar dúvidas e fortalecer ainda mais nossa atuação. Estamos convidando toda a sociedade a participar. Saia de casa, esteja conosco pelas nossas crianças. Elas precisam da nossa voz. Nós somos a voz daqueles que foram silenciados pelo crime”, finaliza Valdair Debus.

Maio Laranja

Entre abril de 2024 e março de 2025, 34 denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes foram registradas em Cascavel. O número, embora expressivo, representa apenas uma fração do problema — no Brasil, três crianças são vítimas de abuso sexual a cada hora, e mais da metade dessas vítimas têm entre 1 e 5 anos de idade.

Estima-se que cerca de 500 mil crianças e adolescentes sejam explorados sexualmente todos os anos no país, mas apenas 7,5% desses casos chegam às autoridades. Ou seja, a maioria das situações permanece invisível. Os dados são do Instituto Liberta e mostram a urgência de campanhas como o Maio Laranja**, que busca dar visibilidade ao tema e mobilizar a sociedade para enfrentá-lo.

Criado pela Lei Federal nº 14.432/2022, o Maio Laranja estabelece o mês de maio como um período oficial de conscientização e prevenção ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Durante o mês, governos, escolas, entidades e a sociedade civil realizam ações educativas para informar a população e estimular denúncias.

No Paraná, essa luta foi fortalecida com a Lei Estadual nº 17.493/2013, de autoria da deputada Cantora Mara Lima (Republicanos), que instituiu o dia 18 de maio como data oficial de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Como forma simbólica de alerta, a Assembleia Legislativa do Paraná é iluminada de laranja durante a semana que marca a data.

A referência nacional para essa mobilização é o caso de Araceli Cabrera Sánchez Crespo, uma menina de apenas 8 anos que foi sequestrada, abusada e assassinada em 18 de maio de 1973, no Espírito Santo. A tragédia motivou a criação da Lei nº 9.970/2000, que transformou o dia 18 de maio em Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Prevenção e atenção aos sinais

O Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes), da Polícia Civil do Paraná, reforça que a prevenção é a principal arma contra esse tipo de violência. Observar mudanças de comportamento, como isolamento, agressividade ou hipersexualização, pode ajudar a identificar sinais de abuso.

A orientação também passa pela educação: ensinar as crianças a nomear corretamente as partes do corpo, compreender o que são toques inapropriados e desenvolver confiança para relatar situações desconfortáveis são atitudes fundamentais dentro de casa e na escola.

Os especialistas alertam que os pais devem estar atentos ao comportamento das crianças diante de determinados adultos. Mudanças bruscas de humor, medo ou rejeição podem indicar que algo está errado. E nesses casos, o mais importante é agir com atenção, acolhimento e buscar ajuda especializada.