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“Todo mês é uma guerra para receber”: servidores denunciam atrasos no Hospital de Retaguarda

Trabalhadores denunciam atrasos de salários e benefícios; Consamu afirma que não há pendências de pagamento com a empresa contratada

“Todo mês é uma guerra para receber”: servidores denunciam atrasos no Hospital de Retaguarda Créditos: CMC/Divulgação

Trabalhadores terceirizados responsáveis pela limpeza, manutenção e recepção do Hospital de Retaguarda Allan Brame Pinho, em Cascavel, denunciam atrasos salariais recorrentes, falta de benefícios e precarização das condições de trabalho. As denúncias foram formalizadas pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação, Serviços Terceirizados e Temporários em Geral de Cascavel e Região (Siemaco Cascavel), que aponta uma série de irregularidades praticadas pela empresa Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (IDEAS), contratada por meio de licitação.

Entre os principais problemas relatados pelo sindicato estão: atraso no pagamento de salários, atraso no vale-alimentação, não pagamento de vale-transporte, ausência de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), falta de uniformes, pagamento incorreto do adicional de insalubridade e descumprimento de cláusulas que preveem multas convencionais.

Segundo o Siemaco, o Consórcio de Saúde dos Municípios do Oeste do Paraná (Consamu), responsável pela contratação da empresa, vem sendo notificado mensalmente desde outubro, mas até o momento não houve solução definitiva. “Os trabalhadores seguem prestando serviços essenciais em ambiente hospitalar, mesmo diante de atrasos e irregularidades que comprometem sua dignidade, segurança e condições mínimas de subsistência”, afirma o sindicato.

“Todo mês é uma guerra para receber”

Uma funcionária da limpeza, que preferiu não se identificar por medo de retaliações, relatou à equipe de reportagem uma rotina marcada por atrasos constantes e incertezas financeiras. Segundo ela, desde que a IDEAS assumiu o contrato, os salários nunca foram pagos dentro do prazo.

“Desde o primeiro salário foi tudo atrasado. Todo mês é briga para receber. Esse mês, alguns receberam no domingo, outros só na segunda, e ainda tem gente que não recebeu. Eu nunca vi pagamento cair num domingo. É uma firma que não tem responsabilidade com o funcionário”.

Ela também denuncia problemas com o adicional de insalubridade. Apenas parte dos trabalhadores do apoio à manutenção recebeu os 40% previstos em lei, enquanto funcionários da recepção e da copa ficaram sem o benefício. “Disseram que vão pagar os valores atrasados, mas eu sinceramente não acredito que isso vá acontecer rápido. Se para pagar o salário já é uma guerra, imagina os atrasados”, afirma.

O vale-transporte, segundo a trabalhadora, também nunca é depositado na data correta. “Todo mês é problema com o pagamento e com o vale. A gente está ali porque precisa trabalhar, mas é sempre um sufoco”.

Quadro de funcionários reduzido e sobrecarga

A funcionária ainda revelou que, em diversos dias, a equipe trabalhou de forma extremamente reduzida. Segundo ela, já houve situações em que apenas uma pessoa do apoio ficou responsável por todo o hospital. 

“Teve dia em que só uma pessoa ficou no apoio para cuidar do hospital inteiro. Eles não querem pagar extra, então não colocam mais funcionários. Já tem gente que trabalhou em plantão extra e faz dois, três meses que não recebeu. Vai tudo parar na Justiça”, conta.

Em outro episódio, segundo a denúncia, apenas duas funcionárias deram conta da limpeza geral da unidade. “Eu e a moça da rouparia tivemos que organizar o hospital inteiro. Muita gente falta porque não aguenta mais trabalhar sem receber”, relata.

O Hospital de Retaguarda conta com duas enfermarias e uma UTI, setores que exigem limpeza contínua. O quadro ideal para o setor seria de 12 profissionais, mas raramente está completo. Na última sexta-feira e também na segunda-feira, segundo apuração, apenas um profissional da limpeza atuou em todo o hospital.

Críticas à licitação e histórico da empresa

A trabalhadora também questiona o processo de escolha da empresa. “Por que nessas licitações ninguém investiga a procedência da empresa? Tiraram uma empresa boa, que sempre pagava em dia, e colocaram essa, cheia de problema. A gente nem sabe quem são os responsáveis”, afirma.

A empresa IDEAS venceu a licitação em junho deste ano, exclusivamente para a contratação de serviços de limpeza, manutenção e fornecimento de pessoal para a recepção da unidade. O instituto também é responsável pela administração do Hospital Regional de Toledo, onde enfrenta denúncias semelhantes.

A situação também levou à saída da encarregada responsável pela equipe de limpeza do hospital. Em mensagem enviada aos funcionários, à qual a reportagem teve acesso, ela comunicou o desligamento e afirmou que a permanência na empresa se tornou “insustentável”. Na mensagem, a supervisora disse que a IDEAS “não a respeita como funcionária e nem como supervisora” e que fez “tudo ao alcance”, mas várias situações estavam fora de seu controle. Ela também confirmou que havia informado à direção da empresa e ao sindicato que parte da equipe ainda não havia recebido os salários.

“Infelizmente para mim se tornou insustentável permanecer em uma empresa que não me respeita como funcionária e nem como supervisora. Fiz tudo que estava ao meu alcance, mas muitas coisas fogem do meu controle”, escreveu.

A Gazeta procurou a empresa IDEAS, mas não houve manifestação até o fechamento desta edição. O espaço permanece aberto.

O que diz o Consamu

Em nota, o Consórcio de Saúde dos Municípios do Oeste do Paraná (Consamu) afirmou que todos os repasses financeiros feitos à empresa IDEAS estão rigorosamente em dia desde o início do contrato.

O consórcio informou ainda que todas as irregularidades cometidas pela empresa vêm sendo apuradas, e que já foram adotadas as seguintes medidas:

Quatro processos administrativos para apuração das ocorrências;

Notificação formal para regularização das falhas;

Aplicação de multa contratual;

Avaliação jurídica sobre a possibilidade de rescisão unilateral do contrato.

“O Consamu reafirma que vem cumprindo rigorosamente seu papel de fiscalização e que as medidas adotadas visam garantir a continuidade e a qualidade dos serviços prestados à população, assegurando que o funcionamento do Hospital de Retaguarda não seja comprometido”, diz a nota.

O consórcio também destacou que a IDEAS foi contratada por ter atendido a todas as exigências do processo licitatório, mas que as falhas recorrentes podem levar ao rompimento do contrato.

Sindicato promete intensificar ações

O Siemaco Cascavel informou que vai intensificar as medidas administrativas e judiciais, além de acionar os órgãos fiscalizadores competentes. O sindicato cobra providências tanto da empresa quanto do Consamu.

“O sindicato reafirma seu compromisso com a defesa integral da categoria e com a garantia de condições de trabalho dignas para todos os profissionais que atendem diariamente a população”, finaliza a entidade.

Créditos: Gabriel Porta Acesse nosso canal no WhatsApp