Sindicatos prometem greve em caso de privatização da Sanepar
Sindicatos aprovam estado de greve e intensificam luta contra possível privatização da Sanepar pelo governo Ratinho Júnior, reforçando defesa do saneamento público e dos trabalhadores

Os sindicatos que representam os trabalhadores da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) iniciaram uma mobilização contra a possível privatização da empresa. Na quarta-feira (11), em assembleia organizada pelo Coletivo Sindical — formado por SAEMAC, SIQUIM, SINDIJOR e SINDASP — foi aprovado o estado de greve, caso o governo Ratinho Junior avance com o projeto de venda da companhia.
Segundo o presidente do Saemac (Sindicato dos Trabalhadores no Saneamento do Paraná), Rodrigo Picinin, o Estado vive um momento delicado de sua história com certa ‘privataria’ de empresas públicas por parte do governo Ratinho Júnior (PSD) por isso, Picinin diz que a mobilização, conduzida de forma unificada por diversas categorias, busca fortalecer a luta contra o avanço do projeto do governo estadual. “Estamos promovendo essa assembleia de maneira integrada entre os sindicatos que representam diferentes categorias profissionais, como trabalhadores operacionais, técnicos, assistentes sociais, químicos e jornalistas. É importante frisar que todas as categorias da Sanepar estão realizando assembleias semelhantes em suas bases, cada uma dentro de suas dinâmicas habituais. Essa discussão unificada sobre o estado de greve é fundamental para evitar que o plano de privatização prospere”, afirmou Picinin.
A assembleia geral extraordinária dos sindicatos estará em vigor até quinta-feira (12) e se encerra às 18h. “É essencial que todos participem, pois estamos tratando de direitos trabalhistas e da defesa do saneamento público de qualidade. Esse é um momento crucial para reforçarmos nossa união e resistência contra possíveis prejuízos que a privatização pode trazer”, enfatizou.
A importância de se preservar a Sanepar como uma empresa pública para Picinin é de grande importância, pois, é o bem-estar da população e a qualidade dos serviços prestados que estão em jogo. " Nossa preocupação é comum: manter a empresa pública, garantir empregos e preservar o caráter social que a Sanepar sempre teve, como as tarifas sociais que beneficiam tantas famílias".
A aprovação do estado de greve é um passo crucial, para Picinin, assim, deixando uma mensagem clara para o governo de que o sindicato está vigilante. “Caso haja qualquer movimentação no sentido de privatizar a Sanepar, a greve será deflagrada imediatamente, com a paralisação das atividades", explica.
O presidente do sindicato Saemac criticou a gestão de Ratinho Júnior. "Este governador prometeu que não privatizaria a Copel antes das eleições. No entanto, logo após, iniciou um processo de privatização recorde, vendendo a Copel Telecom e até cogitando privatizar a educação pública. Um governador que privatiza escolas não terá escrúpulos para privatizar a Sanepar, uma empresa lucrativa, reconhecida nacional e internacionalmente, e que emprega mais de 6 mil trabalhadores".
Rodrigo finalizou seu discurso na assembleia e afirmou que o movimento sindical está preparado para enfrentar qualquer tentativa de privatização. "Se houver qualquer tramitação na Assembleia Legislativa ou na diretoria da Sanepar que indique privatização, faremos barulho. Fechamos os portões e pararemos tudo, se necessário. Não vamos aceitar que uma empresa tão importante seja entregue ao mercado e à especulação", garantiu.
No campo jurídico
O assessor jurídico do Saemac, Dr. Maykon Jorge, explicou as diferenças entre estado de greve e deflagração de greve, conforme previsto na Lei de Greve (Lei 7.783/1989). Ele destacou que o estado de greve é um aviso preliminar que não implica, necessariamente, na paralisação das atividades. "Essa é a grande diferença. No estado de greve, fazemos um alerta à sociedade e à empresa de que, caso o direito pleiteado seja violado, a greve pode ser deflagrada a qualquer momento", afirmou.
Já a deflagração de greve, segundo ele, representa a paralisação efetiva das atividades laborais. "Nesse caso, há a comunicação formal aos órgãos responsáveis e à própria empresa sobre a interrupção das atividades", esclareceu.
Dr. Maykon reforçou que, se aprovado, o estado de greve permitirá aos trabalhadores acompanhar de perto qualquer movimentação contrária à manutenção da Sanepar como empresa pública. "Caso surja a possibilidade de privatização, a greve poderá ser deflagrada imediatamente, com os devidos trâmites legais", concluiu.
Sindicatos na assembleia
Outros sindicatos participaram da assembleia como o Sindijor (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná), Sindasp (Sindicato dos Assistentes Sociais do Paraná) e o Siquim (Sindicato dos Trabalhadores Químico), e reforçaram suas ideias na mobilização contra uma possível privatização da Sanepar, por parte do Governo.
A presidente do Sindijor, Aline Reis, falou sobre a importância da organização dos trabalhadores diante da possível privatização da Sanepar. Em sua fala, ela ressaltou os prejuízos que a privatização de outras estatais, como a Copel, já trouxe para muitos trabalhadores, e alertou para a necessidade de união neste momento decisivo. “Esse é um momento que exige atenção de todos nós, trabalhadores. Vimos o que aconteceu com a Copel, onde muitos foram prejudicados, e agora há um encaminhamento para que o mesmo ocorra com a Sanepar. Por isso, precisamos estar organizados e mobilizados”, afirmou.
Harumi Mori, representante do Sindasp, reafirmou os princípios éticos e políticos que regem o serviço social. Segundo ela, a defesa das políticas públicas e dos direitos dos trabalhadores está no centro dessa mobilização conjunta contra a possível privatização da Sanepar. “A água é um bem público, um direito constitucional, e, por isso, sua gestão deve ser pública. A Sanepar não pode ser tratada como uma empresa qualquer, pois desempenha um papel essencial no acesso ao saneamento e na garantia desse direito fundamental”, afirmou Harumi.
José Carlos, representante do Siquim, expressou preocupação com a possibilidade de privatização da Sanepar e destacou que notícias como essa não são novidade no contexto das práticas do atual governo do Paraná. Segundo ele, o histórico de venda de empresas públicas no estado reforça a necessidade de mobilização e alerta por parte dos trabalhadores.
“Desde a publicação da matéria no dia 25 de novembro, pelo canal Plural, que trouxe a denúncia sobre a possível venda da Sanepar, percebemos a movimentação nos bastidores da Assembleia Legislativa e do governo. Esse tipo de prática não nos surpreende, pois já aconteceu antes com outras empresas públicas", comentou José Carlos.
A notícia gerou reações diversas entre os trabalhadores do setor químico. “Alguns receberam com espanto e nos questionaram, enquanto outros acreditaram nas notas públicas do governo e da diretoria da Sanepar desmentindo a possibilidade. Mas, como sempre dizemos, o que este governo fala, ele não escreve. Por isso estamos aqui, promovendo essa mobilização unificada”, afirmou.
José Carlos destacou a importância de manter a Sanepar como patrimônio público, enfatizando os impactos negativos que a privatização traria à população. “A Sanepar presta serviços essenciais de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, garantindo qualidade de vida aos paranaenses. É inconcebível que uma empresa tão importante seja vendida sem refletir nos prejuízos que isso pode trazer à população.”
Articulação política
Além das mobilizações internas, os sindicatos também planejam intensificar o diálogo com os deputados estaduais. Nas próximas semanas, representantes das entidades visitarão os gabinetes dos parlamentares para cobrar posicionamentos contrários à privatização. Uma reunião com o deputado estadual Professor Lemos já foi agendada pelo Sindaen (Sindicato dos Trabalhadores Em Empresas de Água, Esgoto e Saneamento Básico), com o objetivo de fortalecer o apoio político à causa.
Sebastião destacou a necessidade de alerta diante do modus operandi do governo, que, segundo ele, costuma aprovar propostas polêmicas sem amplo debate ou transparência. "Precisamos mostrar que a privatização do saneamento não é a solução. Em vários países, o movimento agora é de reestatização, devido aos prejuízos que enfrentaram com tarifas mais altas e serviços precarizados. A Sanepar é um patrimônio dos paranaenses, construído com esforço para garantir saneamento de qualidade para todos. Não podemos permitir que ela sirva apenas para aumentar o lucro de acionistas, em detrimento do bem-estar da população", concluiu.
O que diz o governo?
O Governo do Estado, em resposta à Gazeta, declarou que não tem planos de privatizar a Sanepar. Segundo a nota, a atual administração consolidou a empresa como a maior companhia pública de saneamento do país, inserida no maior ciclo de investimentos de sua história, com previsão de R$ 11,8 bilhões até 2029. Esses recursos visam ajudar o Paraná a cumprir as metas do marco legal de saneamento antes do prazo estabelecido pela legislação.
A nota também destacou que a Sanepar foi pioneira no Brasil ao firmar parcerias público-privadas para agilizar obras em municípios paranaenses. Recentemente, a empresa foi reconhecida pelo Global Water Leaders como a melhor companhia do mundo em iniciativas para a universalização do saneamento.