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Sindicatos prometem greve em caso de privatização da Sanepar

Sindicatos aprovam estado de greve e intensificam luta contra possível privatização da Sanepar pelo governo Ratinho Júnior, reforçando defesa do saneamento público e dos trabalhadores

Por Gabriel Porta Martins

Sindicatos prometem greve em caso de privatização da Sanepar

Os sindicatos que representam os trabalhadores da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) iniciaram uma mobilização contra a possível privatização da empresa. Na quarta-feira (11), em assembleia organizada pelo Coletivo Sindical — formado por SAEMAC, SIQUIM, SINDIJOR e SINDASP — foi aprovado o estado de greve, caso o governo Ratinho Junior avance com o projeto de venda da companhia.
Segundo o presidente do Saemac (Sindicato dos Trabalhadores no Saneamento do Paraná), Rodrigo Picinin, o Estado vive um momento delicado de sua história com certa ‘privataria’ de empresas públicas por parte do governo Ratinho Júnior (PSD) por isso, Picinin diz que a mobilização, conduzida de forma unificada por diversas categorias, busca fortalecer a luta contra o avanço do projeto do governo estadual. “Estamos promovendo essa assembleia de maneira integrada entre os sindicatos que representam diferentes categorias profissionais, como trabalhadores operacionais, técnicos, assistentes sociais, químicos e jornalistas. É importante frisar que todas as categorias da Sanepar estão realizando assembleias semelhantes em suas bases, cada uma dentro de suas dinâmicas habituais. Essa discussão unificada sobre o estado de greve é fundamental para evitar que o plano de privatização prospere”, afirmou Picinin.
A assembleia geral extraordinária dos sindicatos estará em vigor até quinta-feira (12) e se encerra às 18h. “É essencial que todos participem, pois estamos tratando de direitos trabalhistas e da defesa do saneamento público de qualidade. Esse é um momento crucial para reforçarmos nossa união e resistência contra possíveis prejuízos que a privatização pode trazer”, enfatizou.
A importância de se preservar a Sanepar como uma empresa pública para Picinin é de grande importância, pois, é o bem-estar da população e a qualidade dos serviços prestados que estão em jogo. " Nossa preocupação é comum: manter a empresa pública, garantir empregos e preservar o caráter social que a Sanepar sempre teve, como as tarifas sociais que beneficiam tantas famílias".
A aprovação do estado de greve é um passo crucial, para Picinin, assim, deixando uma mensagem clara para o governo de que o sindicato está vigilante. “Caso haja qualquer movimentação no sentido de privatizar a Sanepar, a greve será deflagrada imediatamente, com a paralisação das atividades", explica.
O presidente do sindicato Saemac criticou a gestão de Ratinho Júnior. "Este governador prometeu que não privatizaria a Copel antes das eleições. No entanto, logo após, iniciou um processo de privatização recorde, vendendo a Copel Telecom e até cogitando privatizar a educação pública. Um governador que privatiza escolas não terá escrúpulos para privatizar a Sanepar, uma empresa lucrativa, reconhecida nacional e internacionalmente, e que emprega mais de 6 mil trabalhadores".
Rodrigo finalizou seu discurso na assembleia e afirmou que o movimento sindical está preparado para enfrentar qualquer tentativa de privatização. "Se houver qualquer tramitação na Assembleia Legislativa ou na diretoria da Sanepar que indique privatização, faremos barulho. Fechamos os portões e pararemos tudo, se necessário. Não vamos aceitar que uma empresa tão importante seja entregue ao mercado e à especulação", garantiu.

No campo jurídico
O assessor jurídico do Saemac, Dr. Maykon Jorge, explicou as diferenças entre estado de greve e deflagração de greve, conforme previsto na Lei de Greve (Lei 7.783/1989). Ele destacou que o estado de greve é um aviso preliminar que não implica, necessariamente, na paralisação das atividades. "Essa é a grande diferença. No estado de greve, fazemos um alerta à sociedade e à empresa de que, caso o direito pleiteado seja violado, a greve pode ser deflagrada a qualquer momento", afirmou.
Já a deflagração de greve, segundo ele, representa a paralisação efetiva das atividades laborais. "Nesse caso, há a comunicação formal aos órgãos responsáveis e à própria empresa sobre a interrupção das atividades", esclareceu.
Dr. Maykon reforçou que, se aprovado, o estado de greve permitirá aos trabalhadores acompanhar de perto qualquer movimentação contrária à manutenção da Sanepar como empresa pública. "Caso surja a possibilidade de privatização, a greve poderá ser deflagrada imediatamente, com os devidos trâmites legais", concluiu.

Sindicatos na assembleia
Outros sindicatos participaram da assembleia como o Sindijor (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná), Sindasp (Sindicato dos Assistentes Sociais do Paraná) e o Siquim (Sindicato dos Trabalhadores Químico), e reforçaram suas ideias na mobilização contra uma possível privatização da Sanepar, por parte do Governo.
A presidente do Sindijor, Aline Reis, falou sobre a importância da organização dos trabalhadores diante da possível privatização da Sanepar. Em sua fala, ela ressaltou os prejuízos que a privatização de outras estatais, como a Copel, já trouxe para muitos trabalhadores, e alertou para a necessidade de união neste momento decisivo. “Esse é um momento que exige atenção de todos nós, trabalhadores. Vimos o que aconteceu com a Copel, onde muitos foram prejudicados, e agora há um encaminhamento para que o mesmo ocorra com a Sanepar. Por isso, precisamos estar organizados e mobilizados”, afirmou.
Harumi Mori, representante do Sindasp, reafirmou os princípios éticos e políticos que regem o serviço social. Segundo ela, a defesa das políticas públicas e dos direitos dos trabalhadores está no centro dessa mobilização conjunta contra a possível privatização da Sanepar. “A água é um bem público, um direito constitucional, e, por isso, sua gestão deve ser pública. A Sanepar não pode ser tratada como uma empresa qualquer, pois desempenha um papel essencial no acesso ao saneamento e na garantia desse direito fundamental”, afirmou Harumi.
José Carlos, representante do Siquim, expressou preocupação com a possibilidade de privatização da Sanepar e destacou que notícias como essa não são novidade no contexto das práticas do atual governo do Paraná. Segundo ele, o histórico de venda de empresas públicas no estado reforça a necessidade de mobilização e alerta por parte dos trabalhadores.
“Desde a publicação da matéria no dia 25 de novembro, pelo canal Plural, que trouxe a denúncia sobre a possível venda da Sanepar, percebemos a movimentação nos bastidores da Assembleia Legislativa e do governo. Esse tipo de prática não nos surpreende, pois já aconteceu antes com outras empresas públicas", comentou José Carlos.
A notícia gerou reações diversas entre os trabalhadores do setor químico. “Alguns receberam com espanto e nos questionaram, enquanto outros acreditaram nas notas públicas do governo e da diretoria da Sanepar desmentindo a possibilidade. Mas, como sempre dizemos, o que este governo fala, ele não escreve. Por isso estamos aqui, promovendo essa mobilização unificada”, afirmou.
José Carlos destacou a importância de manter a Sanepar como patrimônio público, enfatizando os impactos negativos que a privatização traria à população. “A Sanepar presta serviços essenciais de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, garantindo qualidade de vida aos paranaenses. É inconcebível que uma empresa tão importante seja vendida sem refletir nos prejuízos que isso pode trazer à população.”

Articulação política
Além das mobilizações internas, os sindicatos também planejam intensificar o diálogo com os deputados estaduais. Nas próximas semanas, representantes das entidades visitarão os gabinetes dos parlamentares para cobrar posicionamentos contrários à privatização. Uma reunião com o deputado estadual Professor Lemos já foi agendada pelo Sindaen (Sindicato dos Trabalhadores Em Empresas de Água, Esgoto e Saneamento Básico), com o objetivo de fortalecer o apoio político à causa.
Sebastião destacou a necessidade de alerta diante do modus operandi do governo, que, segundo ele, costuma aprovar propostas polêmicas sem amplo debate ou transparência. "Precisamos mostrar que a privatização do saneamento não é a solução. Em vários países, o movimento agora é de reestatização, devido aos prejuízos que enfrentaram com tarifas mais altas e serviços precarizados. A Sanepar é um patrimônio dos paranaenses, construído com esforço para garantir saneamento de qualidade para todos. Não podemos permitir que ela sirva apenas para aumentar o lucro de acionistas, em detrimento do bem-estar da população", concluiu.

O que diz o governo?
O Governo do Estado, em resposta à Gazeta, declarou que não tem planos de privatizar a Sanepar. Segundo a nota, a atual administração consolidou a empresa como a maior companhia pública de saneamento do país, inserida no maior ciclo de investimentos de sua história, com previsão de R$ 11,8 bilhões até 2029. Esses recursos visam ajudar o Paraná a cumprir as metas do marco legal de saneamento antes do prazo estabelecido pela legislação.
A nota também destacou que a Sanepar foi pioneira no Brasil ao firmar parcerias público-privadas para agilizar obras em municípios paranaenses. Recentemente, a empresa foi reconhecida pelo Global Water Leaders como a melhor companhia do mundo em iniciativas para a universalização do saneamento.

Créditos: Gabriel Porta