"Renato Silva trocou o agronegócio pelos invasores de terra", critica Cantini
Em programa de rádio, Cantini questiona presença do prefeito de Cascavel em evento do MST durante o Show Rural.
Por Gazeta do Paraná
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O prefeito de Cascavel, Renato Silva (PL), esteve presente no último sábado (08) em um evento que celebrou a conquista do assentamento Resistência Camponesa, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A visita, que contou com a participação de lideranças políticas, religiosas e comunitárias, gerou reações polarizadas. Enquanto alguns elogiaram a postura do prefeito em apoiar a Reforma Agrária, outros, como o jornalista Valdomiro Cantini, criticaram duramente a presença de Renato no evento, acusando-o de "trocar o agronegócio pelos invasores de terras".
O assentamento Resistência Camponesa, localizado em Cascavel, foi oficializado após 26 anos de luta das famílias que ocupavam a área. O evento celebrou a conquista do título de propriedade e reuniu mais de mil pessoas, incluindo lideranças do MST, representantes do governo federal e estadual, e autoridades locais. Durante o ato, foram servidos churrasco e almoço gratuitos, além de realizadas feiras e apresentações culturais. O prefeito Renato Silva participou do almoço e afirmou em seu discurso. "Contem com a gente, precisamos continuar lutando pelo bem comum. Temos muito que avançar ainda, precisamos ajudar as pessoas que mais precisam".
Em seu programa Microfone Aberto, na Rádio Massa FM, o jornalista Valdomiro Cantini expressou forte descontentamento com a presença do prefeito no evento. Cantini, afirmou que a visita do prefeito ao assentamento foi uma "troca" dos 50 mil participantes do Show Rural, evento que aconteceu no domingo, pelos "invasores de terras". Ele questionou o timing da visita, afirmando que Renato não deveria ir por conta da proximidade com a data do Show Rural. "Por que justo no dia em que abrimos oficialmente, na fé cristã, o nosso Show Rural?", questionou. Lembrando apenas que, Renato esteve no assentamento Resistência Camponesa no sábado, dia 8, não no domingo, dia em que o Show Rural celebra a tradicional missa de abertura.
Cantini também levantou dúvidas sobre as intenções políticas de Renato Silva, lembrando que o prefeito já foi associado a grupos de esquerda no passado. "O Renato sabe muito bem o que está fazendo. Ele trocou todos nós, 50 mil pessoas do Show Rural, pelos invasores de terra", disse o jornalista, que ainda criticou a celebração de títulos de propriedade concedidos a famílias que, segundo ele, ocuparam terras de forma irregular. "Lá, você estava rodeado por gente do PT. Gleisi Hoffmann presidente nacional do PT, pelos líderes da Itaipu, pelo deputado Elton Welter, pelo professor Lemos, por todos aqueles ligados à esquerda, os vereadores como a Bia Alcantara, o Antônio Marcos, Edson Souza aqui de Cascavel e no meio deles, quem? O nosso prefeito do PL, o prefeito ligado ao partido do ex-presidente Bolsonaro e ao deputado Giacobo".
Durante a semana de Show Rural, Renato Silva esteve todos os dias presente na feira, porém, optou por não comentar mais sobre o assunto.
O jornalista lembrou um episódio ocorrido no ano passado, quando o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, foi criticado por convidar o presidente Lula para um evento do agronegócio. "Ele foi achincalhado no Brasil inteiro pelos ruralistas", disse. Para o jornalista, a atitude de Renato Silva foi ainda mais grave, já que o prefeito é um "fazendeiro, um agropecuarista" que, em sua visão, deveria defender os interesses do setor.
Do lado do MST, a conquista do assentamento Resistência Camponesa é vista como uma vitória histórica. João Pedro Stedile, integrante da coordenação nacional do movimento, destacou a importância da Reforma Agrária em um momento de crise ambiental global. "Não estamos mais disputando hectares com a burguesia, e sim disputando o futuro da sociedade. A meta fundamental da nossa luta é produzir alimentos, plantar árvores e defender a natureza", afirmou Stedile.
O assentamento, que abriga 71 famílias, já conta com infraestrutura comunitária, como um barracão, igrejas, campo de futebol e uma agroindústria que fornece alimentos para escolas públicas por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A produção local é majoritariamente orgânica, com destaque para a agrofloresta e o cultivo de mandioca.
A visita de Renato Silva ao assentamento ocorre em um contexto de crescente tensão entre o agronegócio e os movimentos sociais rurais. Enquanto o governo federal sinaliza apoio à Reforma Agrária, setores do agronegócio pressionam por medidas contra ocupações de terras. O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), por exemplo, participou recentemente de uma reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para discutir "invasões de propriedades" e o marco temporal para demarcação de terras indígenas.
Curiosamente, a família de Ratinho Junior foi alvo de denúncias por suposta invasão de terras indígenas no Acre. Um dossiê do observatório "De Olho nos Ruralistas" apontou que a empresa Agropastoril RGM Ltda, de propriedade da família Massa, possui uma fazenda que invade os limites da Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã.
Créditos: Redação Cascavel