Primavera Sound 2022 em SP termina com pop solar de Lorde e rap soturno de Travis Scott
Por Giuliano Saito
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Shows do domingo (6) encerraram a primeira edição brasileira do festival. Phoebe Bridgers também estreou e cantou com Lorde. Evento voltou a reunir 55 mil pessoas no Anhembi. Lorde no Primavera Sound 2022 em SP Divulgação / Pridia A primeira edição brasileira do Primavera Sound terminou neste domingo (6), no Anhembi, em São Paulo. O público foi de 55 mil pessoas, assim como no sábado. Foi um dia de atrações mais variadas, vide a diferença entre os headliners: o pop solar de Lorde e o rap soturno de Travis Scott. Leia mais: Lorde Loira, falante e soltinha, Lorde fez seu melhor show no Brasil, após cantar no Lollapalooza e no Popload. "Em algumas horas, eu faço 26 e fiz essa quando tinha 15. Vamos dançar como se tivéssemos 15 anos", convocou a popstar neozelandesa, antes de "Ribs". O começo da carreira foi lembrado também com "Bravado" (raridade, pedida pelos fãs) e "Royals", a mais cantada ao lado de "Green Light". Nessa, teve que ficar com a mão nas costas, segurando a caixinha do microfone, deslocada após pulos. Em "Stoned at the Nail Salon", chamou Phoebe Bridgers para um dueto. Ela havia se apresentado logo antes e gravou os vocais de apoio no terceiro e mais recente álbum da amiga. Lorde mostrou ao vivo sua fase menos melancólica (fruto do tal "poder solar") e fez rápida menção à eleição de Lula: "Na semana passada... vocês ganharam um novo Presidente". Travis Scott O início do show Travis Scott foi um sonho para a plateia do palco Beck's. A estreia do rapper no Brasil era esperada desde 2020, quando ele estava no line-up do Lollapalooza, cancelado pela pandemia. Ele apareceu em cima de uma plataforma altíssima no palco, perfeita para a plateia estreita e obstruída por árvores. Travis berra sobre as bases pesadas e psicodélicas - até nas mais climáticas, como "Mamacita" - e ainda dá o microfone para os fãs gritarem na grade em "Mafia". Antes, toca uma música nova que deve estar no próximo álbum, "Utopia". Ele corre o palco todo e, nos intervalos, faz ofegantes juras de amor ao público e pedidos para acender a luzinha do celular em "Skeletons". Até a bronca é criativa e estilosa: "Saiam fora do meu palco". Parecia outro refrão novo, mas era ele expulsando dois câmeras do seu lado sem nem desligar o efeito de autotune do microfone. Phoebe Bridgers A americana Phoebe Bridgers conseguiu recompensar o público, depois de cancelar a participação no Lollapalooza de 2022, sem dar nenhuma explicação. Com jeito de diva acessível, dançou e girou no palco, desceu duas vezes para cumprimentar fãs e interrompeu a apresentação para alertar que alguém estava passando mal na plateia. No resto do tempo, apresentou seu repertório delicado, sobre as dores e delícias de virar adulto. Antes de "Chinese Satellite", fez um discurso pró-aborto e citou que ela mesma já interrompeu uma gravidez. A cantora já tinha mencionado o episódio em maio deste ano, quando contou que fez o procedimento em outubro de 2021, enquanto estava em turnê. "Todos deveriam ter o direito de fazer, legalmente e com segurança", disse, no palco do Primavera. Brasileiros fogosos O segundo dia de festival atraiu um público interessado no que há de mais atual no rap. Entre os brasileiros, Don L fez um show enérgico, com banda talentosa e o repertório que transita entre o rebelde e o fogoso. "Enquanto a gente reconstrói o Brasil, vamos juntando luta de classes, revolução e tesão", disse no palco. Os dois discos já lançados de sua trilogia "Roteiro pra Aïnouz" fizeram do músico cearense um dos nomes mais influentes de seu gênero. "O rapper favorito do seu rapper favorito", ele costuma dizer. A programação esperta do Primavera permite entrar em um auditório para ver um trio de jazz entre um show de rap e outro de indie rock. O pianista pernambucano Amaro Freitas fez improvisos de tirar o fôlego. "Ayeye" vira uma batalha rítmica entre Amaro e o baterista Hugo Medeiros. Depois, sozinho, ele literalmente entra no piano: usa as cordas internas para criar efeitos, bate nelas com um chocalho e funde batida e melodia com uma falta de limite que poderia aparecer nos palcos maiores de outros Primaveras. Hermeto Pascoal, Jovem Dionísio, Terno Rei, Maglore, MC Dricka e Júlia Mestre foram outras atrações brasileiras. Pop japonês e Japonese Breakfast Além de Lorde, o pop mais alternativo foi a trilha da tarde no palco principal. Às 15h15, o quarteto japonês Chai fez show que merecia horário mais nobre. As quatro tocam, dançam, cantam e atacam de DJ em show divertido e barulhento com citação a Spice Girls ("Wannabe", quando as integrantes são apresentadas). As fãs declaradas de Cansei de Ser Sex fazem um disco pop punk avacalhado (mas nem tanto) e muito bom. Na sequência, o palco principal recebeu o Japanese Breakfast, de som mais contemplativo, mas não menos festivo. Ao vivo, o quinteto se escora na voz suave da americana-coreana Michelle Zauner, que toca guitarra em músicas como a noise pop "Savage Good Boy". A quentura permanece em todo o show, indo além do baixo, guitarra, teclado e bateria: saxofonista e violonista dão cara indie retrô easy listening ao som. Father John Misty, Caroline Polacheck, Arca e Jessie Ware também estiveram entre as atrações internacionais do domingo.
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