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Pedágios no Paraná: roubalheira institucionalizada

Marcos Formighieri, Diretor do jornal Gazeta do Paraná, explicou em detalhes as situações “nebulosas” que permeiam os contratos do pedágio no estado

Por Gabriel Porta Martins

Pedágios no Paraná: roubalheira institucionalizada Créditos: Via Araucária/Reprodução

Na última edição do programa Tijolinho, do GCast, o podcast da Gazeta do Paraná, o diretor do jornal, Marcos Formighieri, expôs de forma detalhada e contundente a situação caótica e corrupta que envolve os contratos de concessão das rodovias e os pedágios no estado do Paraná. Suas falas revelam um cenário de desrespeito ao interesse público, má gestão, corrupção e um sistema que parece ter sido criado para beneficiar poucos em detrimento da população. A análise de Formighieri não se limita ao Paraná, mas também faz um paralelo com a situação em Santa Catarina, mostrando o problema estrutural do estado paranaense.


Formighieri começa destacando que muitas das rodovias paranaenses foram construídas há mais de 50 ou 60 anos, em um contexto completamente diferente do atual. A BR-277, por exemplo, foi construída na década de 1940, quando o tráfego de veículos pesados era insignificante comparado ao que vemos hoje. Naquela época, não existiam caminhões trucados, muito menos veículos com nove eixos e 30 metros de comprimento, como os que circulam atualmente. A infraestrutura das rodovias, no entanto, não foi adequada para acompanhar essa evolução. Curvas perigosas, aclives e declives mal projetados seguem sendo um risco constante para motoristas, causando acidentes graves e até mortes.


Formighieri enfatiza que, em muitos trechos, os caminhões precisam invadir a pista contrária para conseguir fazer curvas, o que aumenta significativamente o risco de colisões. A falta de manutenção e modernização das rodovias é, portanto, um problema que vai além da má gestão: é uma questão de segurança pública. A negligência histórica com a infraestrutura rodoviária do estado custa vidas e gera prejuízos econômicos incalculáveis.

 

Contratos


Um dos pontos mais alarmantes abordados por Formighieri é a forma como os contratos de pedágio foram e continuam sendo conduzidos no Paraná. Ele relembra que, na década de 1990, foi firmado um contrato fraudulento, resultado de um processo licitatório viciado. Pouco mais de um ano após o início da vigência do contrato, o então governador, candidato à reeleição, reduziu as tarifas em 50% por meio de um decreto. Essa medida, segundo Formighieri, foi um claro caso de "estelionato eleitoral", já que o governador sabia que manter as tarifas altas custaria sua reeleição.


Após a vitória nas eleições, as tarifas foram reajustadas, e um novo artifício foi criado para compensar as concessionárias pelas perdas durante o período de descontos: o chamado "degrau tarifário". Esse mecanismo permitiu que as empresas recuperassem os prejuízos, mas à custa da população, que continuou pagando tarifas abusivas. Formighieri denuncia que, além disso, 2% da receita bruta dos pedágios eram desviados como propina durante os 23 anos de vigência do contrato. Esse esquema de corrupção, segundo ele, foi "consagrado" e perpetuado ao longo das décadas.


A situação não melhora com os novos contratos de concessão. Pelo contrário, Formighieri alerta que a "roubalheira" pode ser ainda maior. Os prazos das novas concessões são de 30 anos, com possibilidade de prorrogação por mais 30, o que significa que as mesmas empresas podem continuar explorando as rodovias por até 60 anos. Para piorar, as obras de melhorias nas rodovias só devem começar a ser realizadas seis anos após a assinatura dos contratos. Enquanto isso, a população continua pagando tarifas altíssimas por um serviço precário.

 

Santa Catarina


O diretor do jornal também faz um comparativo com Santa Catarina, onde a situação é muito diferente. Em alguns trechos, a tarifa de pedágio chega a R$ 5,20, mas, ao mudar a denominação da rodovia entrando no Paraná, o valor aumenta consideravelmente. Além disso, os novos contratos no Paraná foram baseados nas tarifas exorbitantes dos contratos anteriores, que foram corrigidas monetariamente e incrementadas com novos "degraus tarifários". O resultado é que a população paranaense continua pagando caro por uma infraestrutura que não melhora.


Formighieri destaca que, enquanto as concessionárias lucram com tarifas altas e contratos vantajosos, a população sofre com rodovias congestionadas, acidentes frequentes e a falta de investimentos em infraestrutura. Ele critica a cláusula dos novos contratos que permite que as empresas recebam acréscimos em caso de atraso nas obras, em vez de serem penalizadas de forma severa. Essa prática, segundo ele, é mais uma prova de que o sistema foi criado para beneficiar as concessionárias em detrimento do interesse público.

 

Opinião


A análise de Formighieri é um alerta para a sociedade paranaense e para os governantes. A situação das rodovias e dos pedágios no estado é insustentável e reflete um sistema corrupto e ineficiente. Enquanto os contratos continuarem sendo feitos para beneficiar poucos, a população seguirá pagando caro por um serviço de má qualidade. A falta de transparência e a impunidade só perpetuam esse ciclo de roubalheira institucionalizada.


Formighieri encerra sua fala com um apelo: é preciso que a sociedade se mobilize e exija mudanças. A luta por uma gestão mais transparente e por contratos que priorizem o interesse público é essencial para que o Paraná possa finalmente, ter uma infraestrutura rodoviária digna e segura. Enquanto isso não acontecer, continuaremos sendo vítimas de um sistema que parece ter sido criado para roubar, e não para servir.

 

Confira o vídeo abaixo: