Paraguai atrai indústrias brasileiras com incentivos fiscais e custos reduzidos

A estratégia paraguaia para atrair investimentos estrangeiros se apoia na Lei de Maquila, que garante tributação de apenas 1% sobre o valor das exportações

Por Da Redação

Paraguai atrai indústrias brasileiras com incentivos fiscais e custos reduzidos Créditos: José Fernando Ogura/AEN

Nos últimos anos, um número crescente de indústrias brasileiras tem cruzado a fronteira em direção ao Paraguai, impulsionadas por um conjunto de vantagens fiscais, custos de produção reduzidos e ambiente regulatório simplificado. Empresas de peso, como Guararapes (dona da Riachuelo), Buddemeyer, Camargo Corrêa e, mais recentemente, a Lupo, decidiram instalar operações no país vizinho para ampliar a competitividade e enfrentar a pressão de produtos importados, especialmente os vindos da Ásia.

A estratégia paraguaia para atrair investimentos estrangeiros se apoia na Lei de Maquila, em vigor desde 1997, que garante tributação de apenas 1% sobre o valor das exportações realizadas por fábricas instaladas no país, desde que 100% da produção seja voltada ao mercado externo. O regime ainda prevê isenção de impostos sobre importação de insumos e remessas ao exterior, além da suspensão de taxas alfandegárias.

De acordo com o Ministério da Indústria e Comércio do Paraguai, das 332 indústrias com programas de maquila ativos em 2024, 223 são brasileiras, representando 69% do total. O setor têxtil é um dos que mais se beneficiam: 32% das maquiladoras brasileiras atuam nessa área.

A Lupo, tradicional fabricante de meias e roupas íntimas de Araraquara (SP), anunciou um investimento de R$ 30 milhões para instalar sua primeira fábrica fora do Brasil, em Ciudad del Este. A unidade deve entrar em operação plena na segunda metade de 2026, com capacidade para produzir até 20 milhões de pares de meias por ano. Em entrevista ao portal Neofeed, a CEO Liliana Aufiero, o objetivo é enfrentar a concorrência estrangeira, que já responde por mais da metade do mercado brasileiro de meias. “Produzir no Paraguai é cerca de 28% mais barato do que no Brasil”, afirma.

Custos menores e energia mais barata

O Paraguai oferece uma combinação de fatores que reduz significativamente o custo de produção. A mão de obra é mais barata, até 40% inferior aos níveis brasileiros, e a energia elétrica está entre as mais baratas do mundo, resultado da forte geração hidrelétrica, especialmente na Usina de Itaipu.

Para empresas de setores de alta demanda energética, como têxtil, metalúrgico e químico, essa vantagem é decisiva. “O país tem uma vocação têxtil, com mão de obra abundante e infraestrutura adequada”, diz Carlos Mazzeu, diretor-superintendente da Lupo.

Estabilidade e proximidade geográfica

A estabilidade política e econômica do Paraguai também pesa na escolha das empresas. Governos recentes mantiveram políticas pró-mercado, com legislação trabalhista simplificada e menor burocracia. Além disso, a proximidade geográfica com o Brasil facilita a logística e reduz custos de transporte, permitindo que as fábricas abasteçam rapidamente o mercado brasileiro.

O Paraguai é membro do Mercosul, o que garante acesso a outros mercados da América do Sul com tarifas preferenciais. Há ainda acordos que ampliam a possibilidade de exportação para países fora do bloco, como a União Europeia, via Sistema Geral de Preferências.

Concorrência internacional

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a combinação do “custo Brasil”, alta carga tributária, burocracia e insegurança jurídica, com a concorrência da Ásia leva as empresas a buscarem alternativas no exterior. “O Paraguai possui um ambiente de negócios amigável, enquanto o Brasil é caro e já vê as importações representarem 20% do mercado”, afirma o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel.

A tendência pode se intensificar com a desaceleração das compras de vestuário da China pelos Estados Unidos, o que libera excedentes de produtos asiáticos para outros mercados, pressionando ainda mais a indústria nacional.

Embora a participação das maquiladoras brasileiras na economia paraguaia ainda seja pequena em termos absolutos, o ritmo de migração de investimentos é crescente. Além de setores tradicionais, como têxtil e calçadista, o país tem atraído fabricantes de autopeças, eletroeletrônicos e cimento.

Especialistas apontam que o Paraguai está se consolidando como um hub industrial regional, capaz de produzir a custos competitivos e distribuir para mercados vizinhos. Para empresas brasileiras, representa não apenas uma estratégia defensiva diante da concorrência internacional, mas também uma oportunidade de expandir para outros países da América do Sul.

Enquanto o Paraguai colhe os frutos de sua política industrial voltada à exportação, o Brasil enfrenta o desafio de conter a desindustrialização e criar um ambiente de negócios mais atrativo. Sem reformas estruturais e redução da carga tributária, o movimento de deslocamento de fábricas para o país vizinho tende a continuar e, possivelmente, se intensificar nos próximos anos.

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