O que é o urânio enriquecido e por que ele está no centro da tensão entre Irã e Israel
No centro da crise, o enriquecimento de urânio deixou de ser apenas um tema técnico e passou a representar um risco geopolítico real
Por Da Redação

A recente escalada militar entre Israel e Irã tem como pano de fundo mais do que apenas rivalidades regionais: está diretamente ligada ao processo de enriquecimento de urânio, um dos caminhos para a produção de armas nucleares. A ofensiva israelense iniciada no último dia 13 de junho teve como alvos líderes militares iranianos e instalações nucleares do país, sob a justificativa de impedir que Teerã desenvolva armamentos atômicos.
A preocupação aumentou após relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicar a existência de três locais secretos de enriquecimento no Irã, violando o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares — do qual o país é signatário. A AIEA, no entanto, não confirmou que o Irã esteja produzindo bombas. O país alega que suas pesquisas nucleares têm fins exclusivamente civis, como geração de energia.
Mesmo assim, o cenário se agravou: Estados Unidos atacaram três instalações nucleares iranianas no dia 21 e, apesar de um cessar-fogo anunciado, as trocas de acusações entre os dois lados continuam. Um dos pontos mais sensíveis é a quantidade de urânio enriquecido a 60% que o Irã possui — cerca de 400 quilos, segundo a ONU. Esse nível de pureza é muito acima do necessário para usos pacíficos. Se fosse enriquecido a 90%, poderia ser suficiente para produzir até nove ogivas nucleares.
Mas o que exatamente é o enriquecimento de urânio?
O urânio natural, encontrado no solo, é composto principalmente pelo isótopo U-238, que representa 99% do minério. Apenas 1% é o U-235, mais instável e ideal para gerar energia por meio da fissão nuclear. Enriquecer o urânio significa aumentar artificialmente a proporção de U-235. Para isso, ele é transformado em gás e submetido a um processo de centrifugação, que separa os isótopos mais leves (U-235) dos mais pesados (U-238).
Esse processo exige tecnologia avançada, alto investimento e rigorosos controles internacionais, pois o mesmo material que alimenta usinas de energia também pode ser usado para construir armas nucleares. Usos civis geralmente exigem urânio com até 20% de U-235, enquanto bombas nucleares exigem acima de 85%.
É por isso que a AIEA monitora instalações nucleares de países signatários. O Brasil, por exemplo, utiliza urânio enriquecido para fins pacíficos nas usinas de Angra 1 e 2. Já Israel nunca assinou o tratado e possui um arsenal nuclear não declarado, o que adiciona tensão à disputa com o Irã.
No centro da crise, o enriquecimento de urânio deixou de ser apenas um tema técnico e passou a representar um risco geopolítico real. A preocupação internacional cresce à medida que o impasse diplomático se transforma em ataques militares, com o perigo de a ciência do átomo se converter em tragédia.
