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Núcleo periférico de Curitiba realiza último ato em sede física após ordem de despejo

Último ato do Núcleo Periférico em sua sede física reuniu um almoço de Natal, na agora, antiga sede

Por Gabriel Porta Martins

Núcleo periférico de Curitiba realiza último ato em sede física após ordem de despejo Créditos: Luísa Mainardes

Em operação desde 2013, o Centro Cultural Núcleo Periférico, em Curitiba, realiza um trabalho essencial de assistência social e capacitação profissional para pessoas em situação de rua, egressos do sistema penitenciário, dependentes químicos, imigrantes e mulheres vítimas de violência. Idealizado pelo deputado estadual Renato Freitas (PT), o projeto fornece atualmente mais de duas mil refeições semanais, incluindo café da manhã, almoço, café da tarde e jantar.
Apesar dos inúmeros desafios enfrentados, como a recente perda da sede física, o trabalho do Núcleo não pode parar. No período natalino, a dedicação se torna ainda mais especial. O último ato realizado na antiga sede, antes de seu fechamento temporário devido a uma ordem de despejo emitida pela prefeitura, foi um almoço de Natal, ocorrido na segunda-feira (23). Localizada na Alameda Dr. Muricy, no centro de Curitiba, a sede que abriga o Núcleo passará por mudanças. Segundo informações da assessoria do deputado, ainda não há informações sobre o destino que o município dará ao espaço.
Com isso, muitas pessoas terão que voltar para rua. O deputado Renato Freitas apontou um dos possíveis motivos para a ordem de despejo: a insatisfação de comerciantes da região com a presença de moradores de rua atendidos pelo projeto. "Os comerciantes olham pelo olhar do dinheiro, mas a gente entende que isso acontece porque eles não compreendem o que é o projeto. Quem olha de fora julga de um jeito, mas, se viessem aqui passar um dia com os meninos, convivendo com eles, perceberiam que o Núcleo Periférico é uma força que ajuda a sociedade a melhorar a cada dia", declarou Freitas.
Renato também alertou para as consequências do fechamento do espaço: "Eles [os comerciantes] podem até ganhar agora, mas vão perder no futuro. Quem sabe um dia não seja um filho deles precisando de ajuda? Estamos falando de pessoas que, sem o Núcleo, podem perder a esperança por completo".
O Núcleo Periférico, agora sem uma sede fixa, busca um novo local para continuar suas atividades. De acordo com a assessoria de Freitas, o projeto depende de doações via Pix e de uma vaquinha online para arrecadar recursos e viabilizar uma nova sede. No entanto, ainda não há previsão para que isso aconteça.
Renato Freitas sempre frequenta o espaço onde aproveita para se comunicar com o pessoal. Na segunda, o parlamentar esteve na, agora, antiga sede. Durante discurso, o deputado Renato Freitas (PT) compartilhou reflexões sobre as dificuldades enfrentadas pelo espaço e o impacto transformador que ele tem na vida de quem o frequenta. "Eu gostaria que um dia um rico ficasse pobre e sentisse na pele o que é depender do próximo. Quando vim aqui pela primeira vez, estava em busca de ajuda. Desde então, encontrei mais do que apoio: encontrei uma família. Aqui, tomamos banho, almoçamos, e, mais do que isso, resgatamos a dignidade. Em apenas 18 dias frequentando o Núcleo, me senti transformado, com forças para superar as dificuldades, e agora querem acabar com nossa história, mas não vão".
O parlamentar também abordou o preconceito em relação às pessoas em situação de vulnerabilidade "Eu não uso drogas, não fumo, mas jamais vou menosprezar alguém que enfrenta a dependência química. Todos merecem uma chance, um espaço para recomeçar. Para mim, o Núcleo foi um oráculo, um lugar de acolhimento e esperança".
Apesar da incerteza quanto ao futuro, a mensagem compartilhada durante o evento foi de esperança e fé. "Nesta semana de Natal, lembramos o amor de Deus e o convite para amar ao próximo. Não apenas no Natal, mas todos os dias, precisamos de solidariedade e união. Que 2025 traga novos desafios vencidos e a oportunidade de ajudar ainda mais pessoas". A Gazeta solicitou nota retorno à prefeitura de Curitiba, mas até o fechamento desta reportagem não obtivemos respostas.