Nova gasolina promete baratear combustível; especialistas apontam riscos

Governo adota nova composição em combustíveis a partir de agosto, com mais etanol na gasolina e maior teor de biodiesel no diesel

Por Da Redação

Nova gasolina promete baratear combustível; especialistas apontam riscos Créditos: Banco de imagens/Pexels/Engin Akyurt

A partir de 1º de agosto, os combustíveis vendidos no Brasil passarão por mudanças significativas. O governo federal autorizou a adoção da gasolina E30, com 30% de etanol anidro em sua composição, e o diesel B15, que eleva para 15% a presença de biodiesel. A medida foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) nesta semana, em reunião comandada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi celebrada pelo governo como uma ação em prol da sustentabilidade e da redução da dependência do petróleo, especialmente em meio a tensões geopolíticas no estreito de Ormuz, noticiada pela Gazeta nesta semana.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), a mudança poderá reduzir o preço da gasolina nas bombas em até R$ 0,11 por litro. A estimativa atual é levemente inferior à divulgada em março, que previa queda de R$ 0,13 após os testes técnicos da nova composição. Para um motorista de taxi ou de aplicativo, que roda 7.500 km por mês, significa uma economia de R$ 150 por mês ou R$ 1.800 por ano, de acordo com o MME.

Além do possível impacto no bolso dos consumidores, o governo argumenta que a medida é estratégica para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, incentivar o uso de fontes renováveis e fortalecer o setor de biocombustíveis. A substituição da gasolina E27 (com 27% de etanol) pela E30 deve evitar a importação de até 760 milhões de litros de gasolina por ano, além de gerar uma demanda adicional de 1,5 bilhão de litros de etanol e movimentar R$ 9 bilhões em investimentos na cadeia produtiva do biocombustível.

Críticas e preocupações técnicas

Apesar do entusiasmo do governo, a mudança não agrada a todos. Para o engenheiro eletricista e mecânico Boris Feldman, o brasileiro comum tem pouco ou nada a comemorar com a mudança. Ele aponta que o grande beneficiado da decisão foi o agronegócio, que, com o aumento da demanda por etanol e biodiesel, que são biocombustíveis produzidos a partir de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar (etanol) e óleos vegetais ou gorduras animais (biodiesel), tendo faturamento com chances de aumentar em bilhões de reais. 

Feldman ressalta que testes realizados com 30% de etanol mostraram que os motores já operam no limite da tolerância, o que pode aumentar o consumo de combustível, reduzir o desempenho e acelerar o desgaste de peças. O caso das motocicletas inspira atenção especial: segundo ele, os testes apontaram falhas no funcionamento e instabilidade nos motores.

Do lado do diesel, o alerta veio da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que representa cerca de 200 mil transportadoras. Em nota à Gazeta, a entidade afirmou que o aumento para 15% de biodiesel pode provocar formação de borra nos tanques, entupimento de bicos injetores, perda de potência e desgaste prematuro de componentes mecânicos. Segundo a CNT, esses efeitos podem imobilizar caminhões em rodovias ou obrigar o reboque de ônibus para oficinas, além de exigir trocas mais frequentes de filtros, óleos e até retíficas de motores.

Validação e testes

Os testes de validação da gasolina E30 foram realizados no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), em São Caetano do Sul (SP), com apoio do MME e patrocínio de entidades do setor de biocombustíveis. Foram avaliados 15 veículos de diferentes modelos e anos de fabricação, todos movidos exclusivamente a gasolina. As simulações analisaram aspectos como consumo, potência, durabilidade e partida a frio.

O MME afirmou que os testes não apontaram falhas nos motores com a nova gasolina, tampouco variações relevantes no desempenho. A “Lei do Combustível do Futuro”, sancionada por Lula em outubro de 2024, define os novos parâmetros da mistura de etanol na gasolina. O índice mínimo, antes de 18%, passa a ser de 22%, e o máximo pode chegar a 35%. A adoção da E30 será a primeira etapa da nova política de transição energética.

Repercussão

Durante a reunião do CNPE, o presidente Lula celebrou a medida como uma forma de fortalecer a indústria nacional e reduzir a dependência externa. “Essas ações ampliam o uso de combustíveis renováveis produzidos no Brasil, fortalecem nossa produção e contribuem para o desenvolvimento econômico”, afirmou o presidente.

Pietro Mendes, secretário nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, reforçou que a medida ajudará a segurar os preços dos combustíveis. “A cada quilômetro rodado, o impacto da nova mistura é de R$ 0,02 a menos. Isso pode gerar uma economia real e importante para quem depende do carro diariamente para trabalhar”, disse.

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