Mais taxas? Trump poderá impor tarifas de até 100% a produtos brasileiros
Medida já afeta exportações brasileiras; empresas paranaenses, especialmente do setor madeireiro, sentem impactos imediatos com aumento de tarifas e risco de sanções mais severas.

Eliane Alexandrino/Cascavel
Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) a nova alíquota de 50% aplicada pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, conforme decreto assinado em 30 de julho pelo presidente Donald Trump. A medida eleva de 10% para 50% as tarifas de entrada de centenas de itens nacionais no mercado americano. Muitos empresários correram contra o tempo para tentar embarcar seus produtos antes da taxação, mas o decreto garantiu isenção apenas para mercadorias que já estivessem em fase final de translado.
A medida, no entanto, pode ser apenas o começo. Trump sinalizou nesta terça-feira (5) que pode elevar as tarifas para até 100% sobre produtos oriundos de países que mantêm relações comerciais com a Rússia, entre eles, o Brasil. O objetivo seria pressionar Moscou a encerrar a guerra na Ucrânia. “Vamos tomar uma decisão sobre sanções a países que compram energia russa após a reunião com a Rússia”, afirmou o presidente norte-americano, sem mencionar diretamente o Brasil.
O impacto pode ser significativo para a economia brasileira, especialmente no agronegócio. O Brasil é um dos maiores compradores de diesel e fertilizantes russos. Dados do Ministério da Agricultura (MAPA) apontam que mais de 90% dos insumos agrícolas utilizados no país são importados sendo 30% provenientes da Rússia. Já o diesel russo representa cerca de 39% do total importado pelo Brasil.
O senador Carlos Viana (Podemos) alertou, em entrevista à Infomoney, que a tensão deve permanecer pelos próximos 90 dias. “Há outra crise pior que pode nos atingir. Congressistas republicanos e democratas defenderam a aprovação de uma lei prevendo sanções automáticas a países que mantêm negócios com Moscou”, disse.
Setores ligados ao agronegócio já comunicaram ao Itamaraty suas preocupações com as possíveis sanções. Segundo o presidente da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), o Brasil corre o risco de ser ainda mais penalizado por manter relações comerciais com a Rússia. “Não é simples tirá-los do mercado e encontrar fornecedores alternativos”, afirmou.
A leitura do governo americano é de que manter negócios com a Rússia é equivalente a dar “munição” para a continuidade da guerra na Ucrânia e, por isso, aplicam as sanções como forma de retaliação.
Faciap alerta para impacto direto no Paraná
Um estudo do Departamento de Relações Institucionais e Governamentais da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná) aponta que o tarifaço pode causar sérios danos à economia paranaense. O Paraná é atualmente o 7º maior exportador brasileiro para os EUA, com US$ 735 milhões em vendas no primeiro semestre de 2025. Quase 40% desse montante está concentrado no setor madeireiro, especialmente na região dos Campos Gerais.
“Não se trata de uma crise generalizada, mas de um colapso localizado e setorial, com potencial de colocar em risco mais de 600 mil empregos. A região dos Campos Gerais está no epicentro e precisa de atenção urgente”, afirmou o presidente da Faciap, Flávio Furlan.
Segundo ele, o impacto da perda de exportações vai muito além da indústria: “Derruba o consumo, fragiliza o comércio local, aumenta a inadimplência e compromete a economia regional como um todo. É um problema social e comunitário”, pontuou Furlan.
Indústria já sente os efeitos
Em Guarapuava e Quedas do Iguaçu, no Paraná, a empresa Milpar, especializada na exportação de molduras de madeira para os EUA, colocou 720 dos seus 1,1 mil funcionários em férias coletivas. A decisão, anunciada nesta quarta-feira (6), afeta os setores diretamente ligados à manufatura para exportação. Apenas os departamentos administrativos seguem operando na empresa. Segundo a Milpar, a decisão foi tomada como resposta imediata às tarifas impostas pelo governo norte-americano.
Governo brasileiro prepara plano de contingência
O governo federal informou que já possui um plano de contingência, embora ainda não o tenha apresentado. A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse em entrevista ao Portal Gov, que o Executivo aguardava um possível recuo da Casa Branca ou o adiamento das taxas.
Já o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, declarou na segunda-feira (4) que medidas de apoio aos setores afetados pelo tarifaço de Trump seriam anunciadas apenas após a entrada em vigor da nova alíquota. Dentre os pontos já discutidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou a reformulação de programas de exportação e novas linhas de crédito a empresas como parte do plano emergencial.
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