Julgamento de Jorge Guaranho ganha nova data após adiamentos
O caso será analisado no Tribunal do Júri de Curitiba no dia 11 de fevereiro, uma terça-feira
Foz do Iguaçu - Jorge José Guaranho, ex-agente penal e apoiador de Bolsonaro, enfrentará julgamento pelo assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR). O caso será analisado no Tribunal do Júri de Curitiba no dia 11 de fevereiro, uma terça-feira. Guaranho é acusado de homicídio duplamente qualificado, com agravantes de motivo fútil e violência política, além de expor terceiros a perigo.
O crime ocorreu em 2022, durante a festa de aniversário de 50 anos de Arruda, que foi atingido por três tiros. O agressor, até então desconhecido da família, invadiu o evento, que tinha como tema uma homenagem ao ex-presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores. O assassinato, ocorrido em meio à intensa polarização política que marcava o período eleitoral, ganhou destaque internacional e reacendeu discussões sobre o crescimento da violência política no país. Em memória ao ocorrido, a data do crime, 9 de julho, foi oficializada como o Dia de Luta contra a Intolerância Política no Paraná e no Distrito Federal.
Esta é a quarta vez que o júri de Guaranho é marcado, mas por diversos motivos o julgamento foi sempre adiado. Inicialmente, o julgamento estava previsto para ocorrer em Foz do Iguaçu, local do crime, mas foi transferido para Curitiba após um pedido de desaforamento apresentado pela defesa de Guaranho. O processo, que deveria ter sido realizado em 4 de abril de 2024, foi interrompido quando os advogados do réu deixaram a sala em protesto contra decisões desfavoráveis do juiz. Remarcado para 2 de maio do ano passado, o julgamento foi novamente adiado devido a um pedido de mudança de foro, aceito pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).
O júri
O julgamento do caso Marcelo Arruda será presidido pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, titular da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri de Curitiba. A sessão está programada para começar às 10 horas do dia 11 de fevereiro, com a possibilidade de se prolongar por mais de um dia. A acusação ficará a cargo das promotoras de Justiça Roberta Franco Massa e Ticiane Louise Santana Pereira, integrantes da Promotoria de Crimes Dolosos Contra a Vida. A equipe de assistência à acusação inclui os advogados Andrea Pacheco Godoy, Daniel Godoy, Alessandra Raffaeli Boito e Rogério Oscar Botelho.
No primeiro dia do julgamento, serão selecionados os jurados por meio de sorteio entre os convocados, seguido da leitura de trechos do processo. Em seguida, serão ouvidas as testemunhas e peritos. Após essa fase, terão início os debates entre acusação e defesa. Finalizadas as argumentações, o conselho de sentença, formado pelos jurados, se reunirá para deliberar sobre o veredito. O julgamento deve atrair a presença de manifestantes e familiares de Marcelo Arruda, que realizarão um ato simbólico em defesa da paz.
Expectativas
A viúva de Marcelo Arruda, Pamela Silva, afirmou em entrevista ao Jornal Plural que tem esperança de que, desta vez, o caso seja concluído. “Esta é a quarta tentativa de realização do júri, e temos fé de que, finalmente, o autor do assassinato de Marcelo será julgado e condenado. O assassino está em casa, em prisão domiciliar, enquanto nós enfrentamos essa dor insuportável. Ele matou uma pessoa boa, pai de quatro filhos, que viverão para sempre com a ausência do Marcelo. Não consigo entender como alguém pode invadir um local privado e matar um inocente. Esse crime não pode ficar impune. Esperamos que a justiça seja feita”, afirma Pamela.
A família de Arruda e a equipe de acusação esperam que o réu seja condenado à pena máxima prevista para homicídio duplamente qualificado, com o reconhecimento da motivação política como agravante. O Ministério Público do Paraná, em denúncia assinada pelos promotores Tiago Lisboa e Luís Marcelo Mafra Bernardes da Silva, destacou que o crime foi motivado por “preferências político-partidárias antagônicas”.
Por meio de uma perícia de leitura labial, realizada com base em imagens de câmeras de segurança do local da festa, foi possível identificar que o réu repetiu a frase “petista vai morrer tudo [sic]” durante o ataque. Segundo a denúncia, Guaranho invadiu o salão de festas e começou a provocar os convidados, muitos dos quais não conhecia, com frases como “Lula ladrão”, “PT lixo”, ao mesmo tempo em que exaltava o político de sua preferência, gritando “Bolsonaro Mito” e “aqui é Bolsonaro”.
A denúncia também aponta que Marcelo Arruda foi impedido de se defender, já que Guaranho efetuou os disparos quando a vítima já estava caída. Além disso, o réu foi acusado de expor os convidados a risco comum, ao atirar repetidamente dentro do salão de festas, onde estavam presentes dezenas de pessoas que também poderiam ter sido atingidas.
O julgamento deve ser acompanhado por manifestantes e familiares de Marcelo Arruda, que realizarão um ato simbólico em defesa da paz. “O ódio político não está tipificado como crime na legislação brasileira, mas é essencial que a motivação política do réu seja reconhecida neste caso emblemático, em que uma família foi destruída por um assassinato a sangue frio, claramente impulsionado pela intolerância. O júri do caso Marcelo Arruda tem grande relevância para a sociedade brasileira e deve ser um marco para o país. Ninguém pode ser vítima de violência por causa de suas crenças, origem ou posição política. Isso precisa acabar”, avalia o advogado Daniel Godoy Júnior.