Grupo Salta Educação deve administrar colégios de Cascavel que aderirem ao Parceiro da Escola
Grupo é uma das maiores redes de educação privada do Brasil e deve gerir as escolas que aprovarão em consulta pública a transferência de gestão
Por Da Redação
O Grupo Salta Educação deve ser a empresa que irá gerir as escolas de Cascavel que tiverem aprovada a entrada no Programa Parceiro da Escola, nas consultas públicas que serão realizadas nos dias 06, 07 e 09 de dezembro. Conforme fontes da Gazeta do Paraná, as escolas de Cascavel estão no lote que será administrado pelo Grupo Salta. Com a definição da empresa que irá gerir essas escolas, alinhamentos serão realizados para definir as necessidades de cada instituição para 2024, com a gestão administrativa que deve ser feita pelo grupo.
Em Cascavel, seis escolas passarão por Consulta Pública: Colégio Jardim Interlagos, Colégio Eleodoro Ébano Pereira, Colégio Marilis Faria Pirotelli, Colégio Olinda Trufa de Carvalho, Colégio Ieda Baggio Mayer e Colégio Padre Carmelo Perrone.
Fundado em 2013, o Grupo Salta é um dos maiores grupos educacionais do Brasil. Em Cascavel, o Salta já administra outros três colégios que são particulares e integram a rede de ensino: o Colégio Elite, o Alfa Junior e o Alfa Plaza, que agora está instalado no Shopping Catuaí.
O Salta nasceu de uma união de educadores com o fundo de investimento Gera Venture, que é focado em educação, transformando-se rapidamente em um dos grandes grupos de educação do país. A rede se coloca como o “maior grupo de educação básica do Brasil” e é liderada atualmente por Bruno Elias, que é presidente do Grupo Salta desde sua fundação, em 2013, com a fusão do Elite Rede de Ensino e o Pensi Colégio e Curso.
O Grupo administra 184 colégios em 16 estados e no Distrito Federal, tendo cerca de 130 mil alunos no total. São 25 redes de ensino administradas pelo Salta. Isso tudo gera uma receita líquida de aproximadamente R$ 2,1 bilhões, uma arrecadação vultosa com educação. O que difere do objetivo da educação pública, que nunca visa o lucro e sim a formação de jovens pensantes.
Em fala durante um podcast, o executivo que é presidente do grupo afirmou que é necessário modernizar a gestão de escolas de educação básica. Sua fala focada em escolas privadas no Brasil, pode refletir no modo de administrar as escolas que o grupo vai assumir no Parceiro da Escola.
“Por incrível que pareça, a educação básica ainda é um setor muito pouco sofisticado em termos de gestão. Ainda é muito comum você encontrar professores excelentes na sala de aula, que entregam um produto de excelência para os alunos, mas que não têm nem tempo suficiente nem formação para se dedicar à gestão”, disse.
Entre os investidores do grupo está Jorge Paulo Lemann, administrador das Lojas Americanas, que tem por meio da Gera Capital 23% do capital do Salta. A Warburg Pincus tem 28%, a Atmos tem 19%, a Mission Co. tem 11% e o management da companhia tem os outros 9%.
Recentemente um dos fundos da Gera Capital no Grupo Salta foi vendido por cerca de R$ 1 bilhão. A transação foi conduzida para acomodar a entrada das gestoras Atmos e Mission, além de aumentar a participação da Warburg Pincus na rede de ensino.
A Gazeta do Paraná entrou em contato com o Grupo Salta por meio de e-mail enviado diretamente para a assessoria de imprensa questionando sobre a entrada do grupo no Parceiro da Escola e também sobre as medidas que serão implementadas com a administração das escolas que serão de responsabilidade do Salta. No final da tarde de quinta-feira, 05 de dezembro, as respostas foram dadas pelo Salta:
Sobre a participação no programa, o Grupo Salta afirmou que:
"fazer parte desse projeto é oferecer condições para que as escolas melhorem sua estrutura e ambiente beneficiando professores e alunos, sem nenhuma alteração na natureza pública das instituições, ou seja, fornecer ferramentas e estruturas de qualidade de gestão administrativa que possam contribuir para a rede pública, cuja gestão pedagógica continuará sendo feita pelo Estado".
Quanto as escolas que serão assumidas pelo grupo, a resposta foi a seguinte:
"O Grupo ainda não definiu quais escolas irá assumir. Isso será determinado após a consulta pública e a distribuição dos blocos, que depende da pontuação atribuída a cada participante do processo, divulgada hoje, 05 de dezembro, às 13h10, pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná - Seed-PR (https://www.aen.pr.gov.br/
Sobre como será feita a utilização de valores por parte do grupo, foi destacado que todas as ações serão realizadas mediante os repasses de valores do governo do Paraná:
"As ações do Grupo no programa serão realizadas mediante repasses de valores do governo. Não haverá investimento de orçamento próprio; o gerenciamento será feito com recursos disponibilizados pelo governo do Paraná, que continua tomando conta da gestão pedagógica das escolas do Estado"
Já quanto a atuação, o Grupo Salta destacou que o Paraná tem a melhor educação do Brasil e não há nenhuma intenção em assumir a gestão educacional desses estabelecimentos.
"O objetivo do Grupo é atuar exclusivamente na gestão administrativa das escolas, deixando a gestão educacional e pedagógica sob responsabilidade do governo do Paraná, que já realiza um excelente trabalho nessa área. O Paraná tem a melhor educação do Brasil segundo o ranking geral do Ideb. Não há intenção de assumir a gestão educacional no futuro; o foco é contribuir para o aprimoramento do que já é bem feito".
Desmonte da Educação
O Tribunal de Contas do Estado do Paraná tem analisado medidas cautelares referentes ao programa Parceiro da Escola em suas últimas sessões. Em uma delas, o conselheiro Maurício Requião afirmou que a implementação do programa é o desmonte da espinha dorsal do ensino público do Paraná.
“Estamos diante de uma trama complexa que, se implementada, será o desmonte da espinha dorsal do sistema de ensino público no estado”, disse.
A sessão decidiria sobre a manutenção de medida cautelar concedida pelo conselheiro Fábio Camargo, suspendendo novas contratações para implementação do programa Parceiro da Escola. Um pedido de vistas feito pelo conselheiro Maurício Requião adiou a decisão sobre a cautelar, mas a sessão possibilitou um debate sobre a tentativa de Ratinho Jr de privatizar 204 escolas da rede pública paranaense.
“Isso é um escárnio que estão fazendo com as escolas, o que estão fazendo e o que querem fazer”, disse durante a sessão o conselheiro Fábio Camargo, que em decisão no dia 14 de novembro suspendeu novas contratações para implementar o Parceiro da Escola.
Na sua fala, Requião ainda alertou que mesmo com a suspensão das contratações, a secretaria de educação seguiu com a implementação do programa, indo contra a decisão de Camargo.
“Soube até que já temos uma empresa credenciada. V.Excia suspendeu os procedimentos, mas não foram suspensos, continuaram em andamento [...] Eu me sinto particularmente afrontado pela maneira como está sendo conduzido esse programa”, disse Requião.
Nesta semana, o Governo do Paraná anunciou as empresas que foram credenciadas para a administração das escolas, ainda com a determinação de suspensão das contratações.
Requião também recomendou aos conselheiros que leiam com muita atenção o edital do Parceiro da Escola.
“O que se diz publicamente é que queremos facilitar a vida dos diretores de escola, tão atarefados. ‘Vamos liberar o diretor e contratar uma pessoa jurídica para cuidar da parte administrativa’. É uma ideia simpática. Por que não?”, afirmou. “A verdade é que está sendo transferida para empresas a gestão de cada uma das escolas desse lote”, completou. Segundo o conselheiro, o Parceiro da Escola é apresentado pelo governo do estado como projeto de gestão administrativa e financeira. “Como uma empresa privada vai administrar finanças públicas? Vamos dar a empresas o direito de administrar as finanças das escolas, da educação?”, questionou.
A participação das empresas contratadas na gestão das escolas vai muito além do administrativo, apontou Requião.
“As empresas comprarão os livros que serão usados nessas escolas, contratarão os professores, na medida da vacância, comprarão o material paradidático. Isso é textual. Contratarão professores, em afronta direta à Constituição Federal”, disse.
Requião ainda criticou o fato de a seleção das empresas estar sendo feita por cadastramento, quando a lei determina que seja feita por licitação.
*Matéria atualizada às 14h29 do dia 06 de dezembro de 2024.